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Maarten Janssen, 2014-

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1822. Carta não assinada, atribuída a Bartolomeu António Lobo, para Frei António de Alpedrinha.

ResumoO autor provoca o destinatário dando-lhe conselhos sobre o teor dos seus sermões.
Autor(es) Bartolomeu António Lobo
Destinatário(s) António de Alpedrinha            
De Portugal, Castelo Branco, Idanha-a-Nova
Para
Contexto

Bartolomeu António Lobo foi condenado por ter posto pasquins (ou "libelos famosos") na Rua da Praça e na esquina das casas do Desembargador Fernando Afonso Giraldes em Idanha-a-Nova. O caso contra ele agravou-se devido a ter escrito cartas como esta, instando ironicamente um pregador a informar o povo do teor da recém-publicada constituição portuguesa e relacionando o seu conteúdo com o roubo sistemático aos lavradores de Idanha por parte dos poderosos.

Os pasquins estão arquivados no processo. Eis o seu conteúdo:

Fl.4r (transcrição conservadora): «Ant Lucas Pote reciozo de q se lhe leve a mal q os seus porcos e ove / lhas andem sempre na Coutada, ele faz saber ao publico q lhe não / q lhe não deve ser estranhado inda mmo sendo Vareador, porqto esta na posse / antiquissima de não pastar em outra pte tanto assim q ja he velho o dizer se / nesta Va q os seus porcos hão de ter iremeeiavelmte a foça na Sra da / Graça ainda q a pastage seja nos Infernos »; Fl. 5r-v (transcrição conservadora): «Quem achar hum rebanho de porcos q anda perdido na folha / do pão tragaos à porta de seu dono q he Franco de Paula e receberá / boas alviças C Couza rara! / O mmo si diz a respto dos do Cel q andão perdidos na Coutada por Costume / levando mto a mal q os Porqueiros lá andem com eles principalmte sendo / Vereador / Qm achar o livro dos Acordos q manda contar o gado agora em Janr / pa se saber se há ou não Serranas e q prohibe q Seme gado entre na / Coutada e pareç com elle porq os Ilmos Vereadores estão dezespera / dos porq senão pom em execução e o querem fazer o qto antes pois lhe cons / ta q na Alffa se afiançarão 1300 cas q pastão nas Ervages particulares, vindo / por este modo a roubar-se a Ida 390000 rs por as meterem a 300 r cada huma, / pois receião bem q ao Augusto Congresso conste q se faz este monepolio a / consimto seu (são os q faltão pa o medico) / Proventura temos gozado ate agora dos bens q a nossa Constão nos está mustrando / sobre a boa admenistração da Ja e governo dos povos Iso era bom. Mas q / se ainda em nada sentimos os efeitos dela! Sirvanos de exemplo a boa execução / dos Acordons. O Alcaide andando sempre bebado offende a mta gente e castigão os of / fendidos. Os escrivaens fazem varias extorcoens às ptes e se estas pedem o / q se lhe levou do mais autuão-se, digão hum Proença do Oxedo, o Rapoula em / cuja caza o ram Candonga tinha hum deposito de laã e queijos, e outro / seme de farinha em caza de João Cordro Malhadas. O Escram Brito com / sua esperteza de rato leva pelo Inventro de Mel Affo trinta. tantos / mil R e outros mais e afignal feze se em coinbra hum honrozo athes / tado asignado por quatro Rolas q se inculcão pelos maiores Cons / tituceonais sendo huns grandes Carcundas. / Qm lhe não servir carapuça não a ponha Não falo do Escram dos Orfãaos por ser Concelhro do Mo segundo elle diz »; Fl 6r (transcrição conservadora):«Grande espanto causou aos Carcundas o pasquim de 16 do passado, como q se os factos / nele apontados tivesem contestação! / QQuis non uult lupus esse, pellam non vestiat. Falo com os Carcun / das da Idanha. Rijum teneatis amici! / Proventura deixarsehá de provar qm devaça as folhas de pão e coutadas são os / vereadores estando la atta de Malhada! O gado de Fernando Affonso o asno do / Ribro de Oledo não andou sempre na folha! O do Cel não faria o mmo com / mandado por hum Sehabra Beato! Que as determinaçoens camararrias zão / feitas pelos vereadores como bem lhes apras! lanto tempo há que elles / fizerão huma corrida tendo trazido os seus gados na coutada, e na vespe / ra não os mandarão por fora para não serem encontrados. Proventura / isto tem contestação. Proventa a carta de Felisberto era falça. Como / não se havião de sair bem os Denunciados se as testas forão subornadas on / de bem se sabe, como a mmas ainda estão disendo, e outras tem andado / a tréla porq os confessores mandarão penitencias grandes por terem jura / do falço / Não ha nem pode haver em todo o Reino de Portugal huma terra onde / mais reine o Corcundismo, operção, vexação, despotismo, monepolio e má / admenistração de Ja Por azar a cos q este se pal se autue e que seja levado / a prezenca do Soberano Congresso, que tanto tem tanto tem trabalhado em pro / messas a felecide dos povos, porq poderia tomar em Consideração, / quantas cousas não se publicão sem sauderem, emendar tomar / conhe / cimto / de tudo, e então se saberia q a Ida em nada tem melhorado depois / da nossa constçam Declarão os Autores q não se signão por recear / o não provarem o que asima se dis, mas sim por fugirem aos / genios vingtivos de N Sas mas tambem se adverte q se se não emendar / em breve recuremos a fonte limpa / Tambem se perdeo o Parrocho desta Va e a razão por q mtas vezes se / não angana o povo estando a espera huma hora pella missa. »

Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra B, Maço 3, Número 23, Caixa 9, Caderno [4]
Fólios 4r-v
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcrição José Pedro Ferreira
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização José Pedro Ferreira
Modernização Rita Marquilhas
Data da transcrição2007

Texto: -


[1]
Nunca este povo esperou q houvesse qm tanto lhe esplicasse a forca dos bens q nos resultão da N Constam como V Rma no Sermão de hontem, usando de termos os mais rasteiros pa mor ser entendo por hum povo rustico como he o desta Va
[2]
porem ainda lhe faltou com o melhor q talvez omitisse por não ser enfadonho e vem a ser o segte q espero inserido na oração de amanhaã
[3]
Ora asim como V Rma fez ver ao povo o modo comüm como seduz a entrar nos da N Constam por q não havia tambem admoestar à suas Sas q tal recomendação lhe fizerão q cumprão bem com as funcoens do ministerio q se lhes confiou ql he a boa administracão da fa
[4]
q não dem causa a hum clamor publico:
[5]
q deixem ja de anequilar este povo q tanto se empenhão em roduzir à Escravidão:
[6]
que deixem ja os monepolios q fazem com os bens do povo de sorte de q mtos ou alguns dos Seres governanças se andão pastando por crerem q os seus gados comem as siaras dos desgraçados lavradores
[7]
q he tempo de se mandarem; e de deixarem o despotismo,
[8]
q não deixem de cumprir os Acordons q eles mmos, fazem com o fim de enganarem o povo; e outras mtas couzas q por modestia omito
[9]
Deve mais fazer saber as Suas Sas q tambem sabemsabe o povo, ainda q rustico, fazer destinção de pesoa de bem, a hum bebado, mas tambem sabe q ser homem de bem não consiste em ter mto q comer, he necessr não dar ocasião a q o rustico lhe não falte ao respto respeitando sempre o decoro de suas nobrezas claras:
[10]
mas como não ha de hum povo rustico e ignorante clamar alta e poderosamte vendo as suas searas comidas por porcos e ovelhas, dar coimas hum dia e absolvelas n'outro, e qd mto condem-na alm desgraçados.
[11]
Ora huma Ja asim so no Inferno.
[12]
Se este miseravel povo se visse governado como deve ser ja não haveria pasquins nem clamor publico;
[13]
portanto a emend de todas estas cousas tambem he da N Constam q espero va pregar amanhaã,
[14]
estes são os sentimtos do povo q nele bom efeito lhe dará o agradecimto
[15]
e bom será levar este sabonete q também he da N Constam
[16]
Seu mto venor Hum certo constitucional

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