Contexto | A correspondência de D. Filipa que se conservou em Simancas acompanha uma série de cartas provenientes de Lisboa dentro de um maço intitulado "Diversos papeles, relaciones, copias de cartas y otras cosas tocantes a Portugal y la pacificación de algunos lugares de aquel reino [...]. Todo ello desde el año de 1583 hasta el de 1587". O correio fora originalmente apreendido estando D. Filipa reclusa, em clausura imposta por D. Filipe I de Portugal, num contexto de perseguição aos apoiantes de D. António. As suas cartas refletem as ligações que mantinha com diversos conventos cistercienses e amigos espalhados pelo reino de Portugal. Efetivamente, várias cartas são dirigidas direta ou indiretamente ao convento de Santa Maria de Semide (também conhecido como Mosteiro de Nossa Senhora da Assunção) e ao convento de Odivelas. Exilada em diversos conventos no reino de Castela, separada da família e sem meios de sustento, D. Filipa não cessou de escrever. Há vários argumentos a fundamentar a hipótese de as suas cartas terem sido apreendidas já no tempo da união das duas coroas e de esta filha de D. António ter sido afastada por D. Filipe I de Portugal. Nas cartas, leem-se alusões diretas à ausência de compaixão daquele monarca, frequentes queixas acerca das condições em que a freira se encontrava, além de a sua escrita evidenciar a adoção de abundante léxico e expressões castelhanas.Uma sua irmã, D. Luísa de Portugal, igualmente freira, foi também desterrada para aquele reino, mas para conventos diferentes. A D. Filipa se refere Fernando Bouza Álvarez (2000) no livro "Portugal no Tempo dos Filipes"; às duas irmãs, alude Jacqueline Hermann no artigo "Um rei indesejado: notas sobre a trajetória política de D. Antônio, Prior do Crato". A presente carta surge no corpo de outra carta (PS1095), de dona Filipa de Jesus de Portugal, freira, para dona Constança de Noronha, abadessa. |