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Maarten Janssen, 2014-

Visualização das frases

1619. Carta de Álvaro Correia, criado, para o licenciado Clemente Félix.

ResumoO autor explica a sua conduta protestando junto do destinatário pelas perseguições que tem sofrido.
Autor(es) Álvaro Correia
Destinatário(s) Clemente Félix            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Lisboa
Contexto

Em novembro de 1619, foi encontrado um conjunto de papéis nos bolsos de Álvaro Correia, criado de Manuel Fernandes Tinoco, durante a revista que lhe foi feita aquando da sua detenção na cadeia do Limoeiro. Manuel Fernandes Tinoco tinha ido informar-se dos factos relativos à prisão do seu criado e, na presença de um escrivão, verificou o conteúdo dos escritos. No seu entender, um destes papéis (veja-se fólio 495r) lesava seriamente a sua honra e a da sua família, registando o texto judicial o seu desapontamento para com o criado, que considerou como um «traidor». Os restantes papéis seriam letras, supostamente falsificadas por Álvaro Correia, que obrigavam diversas pessoas a pagamentos. Também se regista que desde a detenção até à abertura dos papéis, estes ficaram guardados e fechados com uma fita, o que serviu para garantir a sua integridade e valor processual. O caso seguiu depois para a Mesa do Santo Ofício, mas não deu origem a processo inquisitorial.

As cartas aqui transcritas, na sua maioria dirigidas ao licenciado Clemente Félix, parecem estar relacionadas com o processo civil movido ao criado. Estão feitas em registo ameaçador por parte de Álvaro Correia. Numa delas, dirigida ao padre Manuel Malho, fica patente o arrependimento do autor e a sua vontade de seguir para o degredo.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita nas duas primeiras faces e com sobrescrito na última.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Livro 207, 6º Caderno do Promotor
Fólios 485r-486v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2318032
Transcrição Tiago Machado de Castro
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Tiago Machado de Castro
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Raïssa Gillier
Data da transcrição2017

Texto: -


[1]
snor Ldo
[2]
Muito estimey de me diser Luis saravia recado de VM e muito mais saber da saude de VM a qual seja sempre muito prefeito
[3]
havera dous mezes que ando em Lisboa plas ruas
[4]
não me faltou quẽ me diçe que eses senhores querelarão de mim ou avião de querelar
[5]
tirey hũa carta de seguro e não vi ate guora que fizeçem diligensia pa me prender e a mor cautella tirey segda carta de seguro por se me acabar en 38 dias a qual he bem feita
[6]
e se me prẽderem ella soltarmeão q os homens prendem pera o limueiro mtos mais graves q eu
[7]
se eu aguora ando nesta sidade não pera atentar em couza q toque a jerasão deses sres q ainda q eu tire seguro real não por couza algũa senão q dio frz e anto ribro emcontrandome a santo antão me querião matar
[8]
e como eu não sou tão valente como cada delles saime boas plavras e não me matarão
[9]
e dizerem mtas pas que juravão q me avião de matar por iso me quis segurar que o diabo me levese e por outra couza nẽ he eu pretendo o que elles cuidão
[10]
e se eu de minha parte posso fazer couza q elles fiquẽ seguros dela po parte eu farey tudo e se tiver algũ papel o dorey
[11]
eu fis algũ dia algũa diligensia ou algũa couza
[12]
e se elles me não falarão nestas couzas eu ouvera algũ dia de falar niso mas como vi q elles me falarão de m antão andei fosquas como Vs Ms aguora andão
[13]
mas qto dizerem q não ande em lisboa iso he couza que não pode ser q quoando meu tio o não pode acaber comiguo vindome de prepossito a buscar não ho ei de fazer temores destes senhores que elles não me podem empedir a sidade
[14]
e se elles não querem que Eu ande aqui tão bom partido me podem fazer q ou pera anguola ou outra qualquer parte va que muita vontade tenho de andar em lisboa con fazer
[15]
e se me prẽderem juro a esta que me não ha de pezar e mais que não hao de soltar outra ves
[16]
e folgara de saber que niso lhe faso em andar aqui pois lhe não paso pella porta q ha dous mezes que aqui estou so hũa ves fui a ribeira sem oulla pera as paredes
[17]
e pezame muito de ter cõdisão pa sofrer q me tirẽ hum olho por fazer tirar dous
[18]
e asim não tem que cansar pa comiguo
[19]
prendãome emforquẽme q hanimo tenho pa tudo que quoanto sairme de lisboa não ho ei de fazer se não fizerẽ o que diguo
[20]
mas lembro a VM q ha de pezar muito a eses senhores atentarẽ a me empedir lisboa se não se for por esta via
[21]
e se qualquer deles qzer falar comiguo digua aonde i eu lhe darey o que dantes me pedião Vs Ms que eu não quero nada de pesoa algũa desas cazas
[22]
e se me quizerẽ buscar pa me matarẽ ou prenderme eu ando pla sidade e ei de tirar o meu seguro antão mas que me matem
[23]
e torno a dizer a VM q ei de andar em lisboa ate q lhe acõtesa dezastre acontesẽdo outro a mim que como eu estou desfavorescido de meus parẽtes pera mor destes sres avinturado estou a tudo e o tempo lhe dou
[24]
o sor gde muitos annos
[25]
oje sabado 9 de novro
[26]
Servidor de VM Alvaro Correa
[27]
e querendome prẽder o sor mel frz tinoco eu o ei de mandar sitar pa dizer se quer algũa couza de mim e ahi me tem seguro e ficarei loguo la no limueiro

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