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Maarten Janssen, 2014-

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1660. Carta de António Barreto de Lacerda, soldado, para a sua mulher, Ana de Oliveira Carvalho.

ResumoO autor pede à mulher que lhe dê a sua parte da fazenda uma vez que já se encontra casada com outro homem.
Autor(es) António Barreto de Lacerda
Destinatário(s) Ana de Oliveira Carvalho            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Lisboa
Contexto

Este processo diz respeito a Ana de Oliveira de Carvalho, cristã-velha de 40 anos de idade, natural e moradora em Lisboa, acusada de bigamia. Filha de João Lopes de Oliveira (meirinho) e de Custódia Gouveia de Carvalho, a ré era casada com o soldado António Barreto de Lacerda (com quem viveu por cerca de 8 anos sem ter tido filhos) e tornou a casar-se com André Pereira, com o qual teve dois filhos, sendo ainda vivo o primeiro marido. António Barreto de Lacerda, soldado de 43 anos, filho ilegítimo do prior de Montemor-o-Velho e de Margarida de Macedo, denuncia a mulher porque depois de 24 anos ausente em terras brasileiras e angolanas, voltou do Rio de janeiro para Portugal e encontrou a mulher viúva de André Pereira e com dois filhos a seu cargo. Querendo reaver parte da fazenda em que a mulher vivia, a qual dizia ser também sua de direito, o réu acusou a mulher de bigamia. No entanto, admitiu que enquanto esteve no Brasil chegou a receber cartas da mulher e nunca respondeu a nenhuma, por não perdoar à mulher e seus familiares terem-no obrigado a embarcar sem lhe darem sequer algum dinheiro para a viagem. Presa a 30 de julho de 1660, em auto-da-fé de 17 de setembro de 1662 foi condenada a abjuração de leve, a ser açoitada publicamente, a degredo por seis anos para o Brasil, cárcere a arbítrio, penitências espirituais, pagamento de custas.

Suporte duas meias folhas de papel não dobradas escritas a primeira no rosto e no verso e a segunda apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 7849
Fólios 12r-13r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2307942
Transcrição Leonor Tavares
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

Texto: -


[1]
Snra Anna d oliveira de Carvalho
[2]
os desgostos de Vm senti sempre mormente os que oje tera por rezam do estado que quis tomar tam sedo E no cabo fazer Vm em que me nam conheçe por seu marido
[3]
E pera me conheçer quis fazer esta carta pois nam acabo de emtender sua temsão E asim que nella lhe dou parte em como sou Anto barto de laserda cazado com Vm filho de Antonio nunes Barreto sobrinho de IzaBel fereira cardoza E Vm filha de costodia de gouvea de carvalho que meu pai me cazou Com Vm estando eu em montemor o velho e se recebeo no loreto jeronimo de tovar em meu nome com Vm per Cuja percurasam minha
[4]
E dahi se foi mais sua mai E mais seu irmão Anrique d oliveira E mais seu irmão manoel E meu pai pera montemor o velho e dahy a hus tempos se fui pera la sua irmam Luiza de gouvea com seu marido frco fra da silva,
[5]
E logo dahy a hus tempos morreo sua irmam Luiza de gouvea E quis seos E meos pecados que morrese logo sua mai minha sogra E meu pai donde fiquou minha tia Izabel fra cardoza E seu irmão anRique d oliveira E manoel frco Barto meu irmão E mais de Vm
[6]
E nos viemos pera esta vila de pera essas cazas q se me derem em dotte na Rua das flores com o mais que se sabe me vem a ser trinta alqueires de trigo que paga caterina de sande E trinta que pagam em Simtra
[7]
dos trinta de sintra vendi eu E mais Vm dezanove a domingos correa corrieiro na correaria,
[8]
E daqui bem sei os malles que fis cauzados per Roiz companhias E me fizeram ir pera o Brazil e sei que fis couzas mal feittas
[9]
mas deos perdoe a essa boa tia minha que pera mais me foi dizer a nao adonde estava que fizesse huã procurasam a Vm E que me aviaria donde fis a percurasam e foi como negro sem me verem mais E outras muttas couzas que Vm e ella me fizeram
[10]
E dipois de eu estar no Brazil dous Anos me escreveo Vm huã carta em que nella me dezia que minha tia era mortta E meu irmao frco Barto na india e caterina de sande que comia o trigo por o conhecimento que eu lhe deixei E outros muttos sinais que darei quando for tempo,
[11]
Agora acabo de contar meus trabalhos que foi pasar ao Reino de amgolla E me Roubarem na altura da baia
[12]
achei esta frotta en q nella vinha capitam filho dos caldas que conheseo a meu pai E a mim de pequeno
[13]
me vim com elle como quem vinha pera sua caza nam sabendo o que avia,
[14]
chegando a esta terra percurei por Vm E me diseram em como estava viuva E que cazara e pera milhor
[15]
me fui a outra Banda e falei com andre pereira
[16]
de sortte senhora que tempo he de estar vingada de mim pois temho pasado tanttos trabalhos sendo que Vm foi cauza delles que Bem o sabe que nam era tam menina,
[17]
fui ter Anrique d oliveira
[18]
dise me que me nao conhesia mas se eu trouxera fazenda elle me conhesera e lhe lembrara que o primeiro fidalgo com quem elle esteve na numsiada fui eu seu fiador E Vm me conhesera por marido,
[19]
mas Comtudo senhora veja o que quer q eu fasa ou determina porque o determinarei por outra via porque lhe lemBro que ha castigo no seu e ha de aver justisa na terra pera quem o mereser
[20]
E quando queira estar so com sua filha e filho me de a metade de minha fazenda pois me cabe por direito E Vm fique com seus filhos que eu me quero tornar pera o brazil ou pera donde deos me aindar pois tam sedo se foi cazar sendo eu vivo,
[21]
mas perdoe deos as testemunhas que foram jurar mas tambem ellas teram seu castigo
[22]
com isto me parese que basta
[23]
E espero sua Reposta pera que comforme ella me fazer em o que for rezam E justisa
[24]
não serve de mais
[25]
A quem deos gde
[26]
feitta oje dezoitto de fevereiro da Era de mil e seissenttos e sesentta Anos
[27]
destte marido de Vm
[28]
Anto Barto de laserda

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