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Maarten Janssen, 2014-

CARDS0320

1823. Carta de participação de Joaquim Maria Torres, impressor, para o Infante Dom Miguel.

Autor(es)

Joaquim Maria Torres      

Destinatário(s)

Infante Dom Miguel                        

Resumo

O autor relata a Dom Miguel as indagações realizadas para conhecer os planos revolucionários de Cândido de Almeida Sandoval.

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Serenissimo Senhor.

Tenho a honra de partecipar a Vossa Alteza Real, que fui hontem procurado em minha casa por Candido d' Almeida Sandoval; pedio-me que sahisse com elle, o que fiz immediatamente, e logo nos dirigimos á muralha da rua das Taipas (lugar bastantemente solitario) e alli me entregou duas Cartas, rogando-me lhe fizesse favor de entregar huma a Caetano José de Carvalho, Boticario ao Poço Novo, e outra a Joaquim Ferreira, Picador da terceira Companhia de Cavallaria de Policia; e me rogou igualmente, dissesse no acto de entregar as Cartas, tanto a hum como a outro, que elle Sandoval lhes desejava fallar com brevidade, e que para este fim destinassem o dia, e a hora e o lugar; fiz exactamente quanto Sandoval me pedio: fallei a Caetano José de Carvalho, o qual depois de lêr a Carta, me deo em resposta, que dissesse a Sandoval que apparecesse depois de ámanhã á noute no largo de Santa Catharina, e que lhe fallaria; e o Picador, Joaquim ferreira deo-me em resposta, que fosse hoje Sandoval a sua casa, logo depois de Ave Marias, ou á sua cocheira. Ora como sandoval me acompanhou até ao sitio da habitação de seus amigos, fomos conversando sobre os preparativos para a Re

Revolução que elle pertende effectuar; e delle sube que o Coronel Antonio Pereira Quinland, mandára hontem a sua casa huma carta por hum homem chamado Bento, Gallêgo, q. tinha servido a Loja «Regeneração», e que o Coronel lhe mandava dizer em sua Carta, «que a cousa hia sahindo ainda melhor que elle pensára.» Depois disto, disse-me Sandoval, que lhe tinha occorido huma idéa para accrescentar ao Projecto da Conspiração, que lhe parecia muito importante; e expressou-se nos seguintes termos: «Alêm dos impressos em que temos «falado, havemos fazer Cartas circulares para todas as «Authoridades do Reino, em que se lhes Ordene em Nome «de El Rei, que immediatamente fação proclamar a Constituição em seus destrictos, e fazer espalhar as Proclamações que juntas se envião. Para este fim, continúa «Sandoval, temos quem abra o sêlo para se selarem as Circulares, e temos tambem Pessoa que tira «as assignaturas falsas dos Secretarios d' Estado.»

Acabada que foi a narração de Sandoval, tratei de indagar quem erão os socios, ao que Sandoval me tornou que não sabía, porq o Coronel Antonio Pereira era quem tratava de os convocar, e que saberiamos quem erão

na occasião de darem seus juramentos, ou que em alguma sessão nos juntariamos todos, e que então veriamos quem erão. perguntei-lhe se no trama entravão os seus amigos, Boticario, e Picador, e tive em resposta, que o Picador de nada sabia por ora, porêm que estava descontente com o actual Governo, e que era homem valente e honrado, portanto que veriamos; mas que o Boticario, apezar que era Maçon, era muito medroso e que poderia servir para pregar Proclamações aqui em Lisboa. Eis quanto por agora posso informar a Vossa Alteza Real, relativo á Conjuração de Sandoval

Lisboa 6 de Setembro de 1823. Sou de Vossa Alteza Real O mais respeitoso e fiel Subdito Joaquim Maria Torres

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