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Maarten Janssen, 2014-

CARDS2193

1744. Carta de Amaro da Costa para Manuel da Silva Mexias, tenente.

ResumoAmaro da Costa informa o tenente Manuel da Silva Mexias, seu compadre, de que está vivo e que partirá para Angola para fazer negócio. Envia ainda lembranças a familiares e amigos.
Autor(es) Amaro da Costa
Destinatário(s) Manuel da Silva Mexias            
De América, Brasil, Rio de Janeiro
Para S.l.
Contexto

A ré deste processo é Susana Maria, casada pela primeira vez com Gaspar Ferreira, pela segunda com Amaro da Costa (homem do mar ou pescador) e pela terceira vez com João Galego Sermenho (sapateiro). Era natural e inicialmente moradora em Armação de Pera, termo da cidade de Silves, e depois, à data do segundo casamento, em Alcantarilha, troço da mesma cidade. A ré foi presa a 1 de Junho de 1745. António Pires, morador no lugar de Porches, foi quem deu a denúncia ao Tribunal do Santo Ofício, dizendo que tinha recebido cartas do seu irmão, Amaro da Costa, que provavam que este estava vivo e que assim incriminavam a sua cunhada, Susana Maria, no crime de bigamia, uma vez que esta já se encontrava a fazer vida marital com João Galego. As cartas que Amaro da Costa enviou a António Pires, do Rio de Janeiro, Brasil, e que aqui se encontram transcritas, foram depois enviadas pelo dito António Pires ao Prior Afonso Correia e Almeida, que se encarregou de as dirigir a um superior da Inquisição. Juntamente com as cartas, o Prior enviou uma denúncia em que reportava o caso. Dizia ainda que, segundo António Pires, as cartas lhe teriam sido entregues por dois soldados que diziam ter ido ao Rio de Janeiro, onde comeram e beberam com o dito Amaro da Costa. A 4 de Fevereiro de 1745 saiu uma ordem de Faro a dizer que o Reverendo Prior Vigário Franco, de Estombar, devia pedir ao seu escrivão que enviasse a João Galego e a Susana Maria uma notificação que, com pena de excomunhão maior, designasse que se separassem e apartassem um do outro e não se comunicassem mais, nem se juntassem para o uso do matrimónio enquanto não fosse determinado o contrário, mandando também passar certidão da dita ocorrência e pedindo confirmação da separação dos dois. Depois de presa, Susana Maria foi responder a um interrogatório a 11 de Junho de 1745, em Évora, na casa do Despacho. Aí disse ser cristã velha, filha de Sebastião Coelho e Iria da Neves, natural e moradora em Armação de Pera. Disse também que dezasseis anos antes, tendo ela enviuvado do seu primeiro marido, Gaspar Ferreira, se contratou para casar segunda vez com Amaro da Costa, filho de Baltasar da Costa e de Francisca da Encarnação, e autor das cartas transcritas. Disse que o seu marido se ausentou do país para fazer negócio porque ficou devedor de várias pessoas em Lisboa, e que não tornou mais ao Algarve, tendo tido notícias de que ele embarcara. Disse ainda que, passado um ano, teve uma carta do dito seu marido, a qual não dizia de onde era enviada mas em que ele contava os trabalhos e os portos onde tinha estado. Disse depois que ela mesma lhe escreveu por três vezes sem ter resposta, nem mais notícia alguma, e que só há quatro anos tinha ouvido a Simão Correia da Silva e a António Nunes, chegados da cidade de Lisboa, que o seu marido tinha falecido (versão esta que se sabe ser falsa, pelo depoimento dado pelo próprio Simão Correia da Silva). Disse então que, como vivia ilicitamente com João Galego e já tinha sido acusada ao bispo, resolveu confessar-se ao mesmo, temerosa de que lhe acontecesse algum mal, e deu conta do seu estado e da morte do marido. Segundo ela, o dito bispo procurou saber se ela tinha alguma certidão da morte e ela disse que não, mas que tinha testemunhas. Embora a ré negasse ter pedido às testemunhas para jurarem a morte do marido, a verdade é que estas tinham reputação de serem homens de pouco porte e muito amigos de vinho. A ré foi sentenciada a ir a auto da fé na forma costumada: fazer abjuração de leve de suspeita na fé, ser açoitada pelas ruas públicas da cidade e degredada por sete anos para Angola, com penitências espirituais, instrução nas coisas da fé e pagamento das custas do processo.

Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Évora
Cota arquivística Processo 751
Fólios [11r]
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2009

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Rio de janro Ao Sr thenente Manuel da Silva misias gde ds m ans armassão de pera Algarve Suzana Maria Rio de janro 28 de agosto de 744 as

Meu comPadre Snr tenente Mel da Silva mexias muito enfenito estimarei q estas achem a vmce logran-do aquella saude q o seu afecto lhe dezeja para dispor da minha q ao prezente he Boma para fica mto pronpta o dispor de vmces Snr thenente aqui me acho nesta cidade de Rio de janro e fico para seguir Biagem para a terra dos degradados q para angolla q vou a fazer meu nego com dros de rycos q a fortuna ahinda me não tem ajudado a q possa fazer nego com dro meu. e o não me ter hido desta terra emBora he a Respeito da pouca fortuna q tenho tido e assim fico semper com o cuidado e a lemBranssa de esta frota q Bier querendo fo e sua Mai santissima ao menos a hir não mas q por saver se sei dar dois passeos na terra porq me paresse q se eu lla fosse ahinda q seja com tristeza seria de grande alegria pa mtas creaturas mais semper vivo na confianssa agora por eu ter andado ha tantos annos por terras alheas ahinda o despois q eu Bim me não faltou nunca q Bestir nẽ sapatos nẽ meas louvado N S e o não querer Bestir mais he por não dar q fallar o mundo por estar semper a considerar na minha vida e em vmce pessoalmte do grande amor q me tinha. e não me paressia a mim q vmce nunca fizesse cazo em q eu era morto mas sabe Ds ahinda sou vivo e fico pa servico a pessoa de vmce q entendia eu q vmce puxasse por aquillo q era da sua oBrigam como a mim me diserão daquella menina q era sua afilhada a qm tanto lhe queria largalla largalla da sua mancõ pa a de outrẽ mais conhesso q esta em caza de seu irmão Domingos e me dise-rão q estava com todo o asseo adonde po estimo da ma Parte q seu irmão joze frra a tinha vestido e calssado e por sinal me di-serão q estava com todos os preparos e me diserão mais q vierão a feira de silves e lhe comprarão hum capote de Baeta graão e inda mais como testas pa justificar me diserão q sua May qera cazada com Meu padrinho joão galego jermenha mas enteado q nelles se acharia essa pouca vergonha e asim não quero dar mais descomodo a vmce por me não molestar mais ecomode mais não serve fico pa servir a vmce q Ds Gde ms ans e mtas saudes a todos os q por mim perguntem prensipalmte o Meu primo Andre Alvs e a minha Prima anica Izabel e a jozepha e a domingos e a todos os q quizerẽ ouvir novas minhas E como de não serve de mais aDs e emthe a pra vista

Feliz compe afecto Amaro da Costa

e para se sertificar ahi Bai o meu sinal e esta carta entregara a Anto duarte filho de prres e se fará toda a deliga q se deve a fazer


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