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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1277

[1600]. Carta de Álvaro Vaz para Frei Pedro Mártir.

ResumoO autor queixa-se ao destinatário das injustiças que lhe foram feitas pela Inquisição.
Autor(es) Álvaro Vaz
Destinatário(s) Frei Pedro Mártir            
De S.l.
Para Portugal, Lisboa
Contexto

A 30 de dezembro de 1600, o confessor e capelão das freiras do Mosteiro de Santos, em Lisboa, Manuel Pires Landim, entregou na mesa do Santo Ofício um maço de cartas que aparentemente lhe seriam dirigidas. No invólucro do maço de cartas, vinha o seguinte sobrescrito: “Ao senhor Manuel Pires beneficiado na igreja de Almada, Arcebispado de Lisboa. Ou ao padre frei Pedro Mártir no convento de São Domingos de Lisboa, meu senhor” (versão modernizada). Em certidão escrita no mesmo dia, Manuel Pires Landim afirmou que o maço lhe tinha sido dado pelo padre Simão Freire, sacristão do Mosteiro de Santos. Tinha-lhe sido entregue por uma Maria Dias, louceira, a mando de Francisco de Azevedo, morador em Almada, que o tinha recebido de Gaspar de Mendonça, também morador em Almada. Posteriormente, Gaspar Mendonça, cavaleiro fidalgo da casa do rei, explicou perante a mesa do Santo Ofício que um dia se tinha deslocado ao Mosteiro de São Domingos, onde viu o referido maço de cartas. Lendo o sobrescrito e atendendo a que era amigo de Manuel Pires Landim, encarregou-se de lhas fazer chegar pela via que foi descrita.

Manuel Pires Landim, numa audiência que ocorreu em 10-01-1601, declarou que nenhuma das cartas, em número de seis, lhe era realmente dirigida. A autoria delas era de um sacerdote chamado Álvaro Vaz, que ele tinha conhecido 15 anos antes, quando estudou em Coimbra. Segundo sabia, este Álvaro Vaz tinha sido julgado e reconciliado pela Inquisição de Évora e estava agora fugido. Mencionou também que dois anos antes lhe tinham chegado às mãos outras cartas do mesmo género.

As cartas contidas no maço são dirigidas a diversos destinatários, entre os quais o inquisidor-mor, o arcebispo de Lisboa, o arcebispo de Évora e outros conhecidos seus. Nelas sobressai uma marcada crítica aos procedimentos da Inquisição em Portugal.

Suporte uma folha de papel escrita em ambas as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 1584
Fólios 8r-8v
Socio-Historical Keywords Tiago Machado de Castro
Transcrição Tiago Machado de Castro
Modernização Catarina Carvalheiro
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2013

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Ao mui Reverendo frei Pedro Mar tir ẽ o cõvento de S. Domingos de Lisboa meu sõr ou ao Padre frei Ma noel Arvelos Snor

Ds guarde Vm e faça sancto cõverta os santos, e pessa a Ds castigo dos Inquisidores de Portugal de quãtos males per sua causa se cometẽ oje en dia Portugal q elles são causa de tantos testimunhos falsos, e destruissão da fe de Xpõ meu Snor q os q são catholicos per sua causa se fasem hereges, e sei isto de certa sciencia. Eu lhe escrevi quatro veses retratando me das falsidades q elles causarão, e gloriarãose de as publicarẽ do q tudo an de dar a Ds muita conta, q cuidado q pstant obsequium Deo, se fasem inemigos de Xpõ e pdem as almas. a Ds a vinganca. Diga a frei João q sempre fui qual sou, e sempre ei de ser qual fui, e ei de ser, fui, e serei sempre o mesmo catholico e filho da Igreja Romana, e tal foi o doctor Lopo Vaz e acabou e tais seus filhos, mas q os Inquisidores o pagarão mui bẽ a Ds, e q sob pene da maldicão de Ds são obrigados a me restituirẽ fama honra, e bens, e injurias, e infamias e assi a todos os meus. dou licenca a Vm pa ler as cartas q esta vão q nelas vera mais. troco todos os males q tanto ferirão por salvacão de almas q por este servo indigno de Xpõ meu Snor, a elle se redusirão ja, e Ds obrara muito q os servicos de Ds q o demonio impedio tomãdo os Inquisidores por instrumẽto, Ds os ampliou, e estendeo por todo o mundo q eu tenho por aposento, e seu servisso dera acabar a vida, Nosso Snor a Vm todo seu. A frei Manoel arvelos, e aos bons religiosos ẽcomendas estas cartas de a quem usão

De V merce Alvaro Vaz

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