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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1367

1634. Carta de Jorge Cabral, padre, para João Rodrigues de Campos, padre.

ResumoO autor dá conselhos ao destinatário sobre quantas vezes a sua confessada deve tomar a comunhão.
Autor(es) Jorge Cabral
Destinatário(s) João Rodrigues de Campos            
De Portugal, Lisboa
Para Leiria
Contexto

A ré deste processo é Luzia de Jesus, de 43 anos, religiosa da Ordem Terceira de São Francisco, natural e moradora da cidade de Leiria, presa pela Inquisição em Abril de 1645 por fingimento de visões e revelações. Luzia de Jesus escrevera quinze cadernos com revelações chamado "Cousas tocantes a este Reino de Portugal" em que dizia que vira e conversara com o anjo custódio do reino, o anjo da guarda de D. João IV e outros anjos e santos ligados a Portugal que, entre outras coisas, lhe pediram que convencesse o rei a mandar construir um mosteiro na sua casa. Estes cadernos chegaram às mãos dos inquisidores em 1643 e fizeram-se diligências para conhecer a reputação da sua autora e interrogá-la sobre as suas visões. Depois de feito o exame, consideraram que a ré devia ir para Lisboa para ser encaminhada e interrogada mais longamente, mas por causa da sua boa conduta, em vez de a prenderem, os inquisidores permitiram que ela ficasse na casa do alcaide dos cárceres e tivesse liberdade de movimentos. No entanto, Luzia de Jesus acabou por ser presa em 1645, pois, após novos interrogatórios, as suas afirmações foram consideradas excessivas e perigosas.

Luzia de Jesus era confessada do padre João Rodrigues de Campos desde Maio de 1629 e este, para a guiar nos seus exercícios espirituais e na comunhão, pedira ajuda, ao longo dos anos, a uma série de outros padres, principalmente Jesuítas, com quem se correspondeu, actuando de acordo com as instruções que lhe davam e mostrando-lhes os cadernos que a sua confessada ia escrevendo. Em finais 1644, quando se decidiu que Luzia de Jesus seria mesmo presa, João Rodrigues de Campos entregou à mesa da Inquisição uma lista de pessoas a quem falara sobre as revelações da sua confessada e, mais tarde, 14 das cartas que recebera de algumas delas, datadas de 1629 a 1644. Numa destas (PSCR1369), acrescentou que começara por pedir ajuda ao jesuíta Diogo Monteiro, provavelmente o erudito autor da "Arte de Orar", que morreu em Coimbra em 1634, tendo apresentado duas cartas da sua autoria (PSCR1368 e PSCR1369), a última destas não autógrafa. Depois da morte desse padre, João Rodrigues de Campos pedira ajuda ao jesuíta Jorge Cabral, que também falecera entretanto, e apresentou duas cartas dele (PSCR1366 e PSCR1367). Após a morte de Jorge Cabral, o confessor de Luzia de Jesus foi aconselhado, entre outros, pelo provincial dos jesuítas, António de Mascaranhas (que lhe escreveu as cartas PSCR1363 e PSCR1364) e pelo carmelita descalço Pedro Tomás, que escreveu as restantes (PSCR1370 a PSCR1375 e PSCR3376).

Na prisão, Luzia de Jesus continuou a dizer que tinha visões e acabou sentenciada, no auto de 1647, a degredo por dez anos, sendo ainda proibida de voltar a entrar em Leiria, e obrigada a penitências espirituais e pagamento das custas.

Bibliografia: Canavarro, António Abel Rodrigues (2004), "O Padre Diogo Monteiro, a sua «Arte de Orar» e os «Exercícios» de Santo Inácio de Loiola". In A Companhia de Jesus na Península Ibérica nos sécs. XVI e XVII: Espiritualidade e cultura: actas, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Instituto de Cultura Portuguesa; Universidade do Porto, Centro Inter-universitário de História da Espiritualidade, pp. 31-65.

Suporte uma folha de papel escrita numa das faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 4564
Fólios 164r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2304550
Transcrição Maria Teresa Oliveira
Contextualização Maria Teresa Oliveira
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Raïssa Gillier
Data da transcrição2016

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Pax christi

Estimara mto ter mtas horas livres pera mais largamte poder declarar a VM a cõsolacam espiritual q recebi com a de VM de 24 do passado, em q me refe-re as particulares merces, q Ds nosso sõr fes nesta caresma a essa grande serva sua Luzia de iesu, as quaes pera mim, sam pva mui qualificada das mais q de sua divina bondade tẽ recebido estes annos passados, e de ter o imigo do genero humano semeado nellas zizania algũa. VM entenda q fas mui grande servico a Ds nosso sõr assistir, e ajudar no caminho da vida espiritual, a essas suas servas, particularmte, a q por ser menor na idade, como outro David, menor ẽtre seus irmãos, tẽ Ds nosso sõr escolhido pera grandes cousas q a seu tpo mostrara. Se VM entender q aja de variar as igras em q comũga, pode aver menosta nota, na gente q tem olhos claros pera conhecer quãto Ds nosso sõr se serve q comũgue cada dia, como nesta nossa igra de S Roque fazẽ varias servas de Ds, inferiores a ella, pode meter de quando quando interrupção de dia q comũgue. porẽ se a comũ da gente tẽ ja della e de seu pcedimto sufficiente noticia, pareceme q cõtinue comũgando cada dia, pois os effeitos sam taes q nos mostra Ds nosso sõr q se serve disso. a ella e as mais companhras suas me faça VM charidade dar minhas lẽbrãças pa q se esqueçã de me encomendar a Ds nosso sõr, como lhes pedi, e eu faço por ellas em todas as missas e oraçoens e por VM sperando a mesma lẽbrãça. gde Ds a VM Lixa 17 de maio de 634

De VM servo em christo Jorge Cabral

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