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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1609

1713. Carta de Manuel Mendes Cunha, homem de negócios, para o seu tio, Manuel Mendes Monforte, médico.

Autor(es)

Manuel Mendes Cunha      

Destinatario(s)

Manuel Mendes Monforte                        

Resumen

O autor dá notícias suas e das dificuldades financeiras da sua família e dos seus negócios, notifica-o da partida de um primo seu, Duarte Mendes Ribeiro, para a Bahia, e da chegada de uma sua irmã, Juliana Maria, que estivera presa pela Inquisição. Justifica ainda um pagamento atrasado, agradece as mercês que ele e sua mulher têm feito à sua família e acrescenta que não será necessário fazer partilhas por morte da sua mãe, pois os bens que ela deixou não chegam sequer para pagar as suas dívidas.

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[fig1] Meu thio e senhor Doutor Manuel Mendez Monforte Lxa 11 de Julho de 1713

Na escoadra que partio em o prisipio de Abril escrevi a Vmce por duas ou trez viaz, e ainda que foi larguamente comtudo não disse metade do que se me ofresia, nem agora o poderei dizer, porque era mais para vocalmente do que para escrito, mas contudo eixplicarmehei pello milhor modo que puder, cheguei a esta corte ha 8 dias a ezperar minha Irmam, aflitta, e desconsolada, que Deus foi servido restetuirme ontem a minha vista depois de vinte e dois mezes de abzensia, e he primisão devina que o que se devia sentir cauza alegria e gosto na consideração de que estamoz sogueitoz a maiorez emfortunioz, aqui tirei algunz dias de demora, athe a despacharem para a levar para a Beira, e falando com ella me segura, cuidara muito em não fazer mal nem inda a seuz inimigoz, o que bem se verefica pello aperto, em que se vio, e a que hia cheguando, Deus nosso senhoro que lhe deu luz, para saber o que lhe comvinha premita, tella de sua santa mão e a ella e a todoz noz Livrar de nossos inimigoz

Meu Primo Duarte Rodrigues Mendez he o portador desta, que se rezolveu a hir e levar esse rapas de minha thia Catarina Mendez em sua companhia, contra o meu votto, por ser esta jornada sem aquellas condisoinz, e forma com que Vmce o mandava hir, mas elle vendose no mizaravel estado em que se achava se rezolveo a vir a embarcarse, e vendo eu isto, o aparelhei como pude, e não como era rezão por me não achar com que poder fazello, que estão tais os tenpoz que não se pode coalhar vintem, como elle a Vmce dira e foi presizo vender algunz gueneroz que thinha perdendo nelles, a fim de se poder perparar, que ia fiarse hüa pessoa em que

[fig1] em que cobrara de Pedro, ou Sancho que lhe deva para poder valerse deste dinheiro, iso he ezcuzado, que parese que he o mesmo fiar que perdello, e quando Vmce se queixa deste mesmo mal, tendo outroz cabedais e outra emteligensia que eu não thenho, que farei eu que não thenho, mais que o que he de Vmce e de mim se fia, algumaz pessoaz, que me fazem favor, sem mais cabedais que os alheios a que he presizo dar satisfasão, mas não he possivel seja nunca a tenpo, alfim, eu lhe dei como pude 400 mil e tantoz mil réis como consta do seu Recibo que mando, para elle se aparelhar e paguar algumaz dividaz que devia que não paresia bem que indo elle para a conpanhia de Vmce e publicando, o mandava Vmce hir ficase devendo, nada, dito meu Primo que Deus premita levar a salvamento dira a Vmce de palavra, muitas cousas que a mim me esqueserem, e reprezentara a Vmce a mizeria, em que todoz noz achamoz, porque como a mais da parenteira se acha tão pobre que não tem hum pão que comão he forsozo que oz que tem dem metade aos outroz por não pareserem indoze pondo coaize todoz no mesmo estado sendo os negosios tão poucoz, que nem a poder de muito trabalho em a vida que hua, pessoa leva se pode sustentar, e se agora com esta paz, que Deus foi servido darnoz, as cousas não tomarem outro caminho não sei que ha de ser de todos noz com tantaz e tão grandez obriguasoinz, a que deixado por não dar a Vmce tantoz motivoz de sentimento paso, a outra materia

[fig1] grande he a rezão de queixa que Vmce tem contra mim em não aver dado a Rodrigo de sande oz 1320 e tantos réis que pagou por Vmce da letra que sobre elle veio de roma, e nenhuma desculpa que me livre desta falta, maiz que a de não ter, e por esta cauza he que me emvergonhava, e ezcondia delle, suposto que elle ha de confesar que em serta ocazião vindo eu a esta corte e trazendo hunz tafettas pretoz de castella que sendo bom guenero não thinhão saida, o fui buscar a sua caza, e lhe dise, que eu me via emvergonhado com sua merce em não averlhe emtregue aquelle dinheiro, que eu thinha na minha mão de Vmce muito maior coantia, e que o não tenho dado não era porque a minha mizeria, cheguase ainda a termoz grasas a Deuz de que me não achase com cabedal para poder fazello, mas que este não estava liquido a dinheiro pois trazia hum negosiozinho para castella, e que este todo, se reduzia a trocoz e mais trocoz que para elle metia algunz tostoinz que podia ajuntar, e que delle não tirava mais que fazendaz, que eu me achava com huaz, pesas de tafetaz que quizese tomallaz por conta deste dinheiro e que az vendese, pello que quizese que por qualquer preso que oz vendesse lhe faria a conta que nisto não thinha perda alguma, não o quis fazer dise que queria o dinheiro procurei a venda aos tafettas, achei o ocazião de fazer hum troco a ellez, a gueneroz que me servião para castella, não tive nunca ocazião de ajuntar dinheiro que cheguase a esta quantia para darlho que he tal a mizeria como isso, nem thinha ouro ou prata que empenhar, para podello fazer, que a von [fig1] que a vontade, era, e he grande de satisfazer a dita letra, e sem que Vmce me digua, que tendo na minha mão dinheiro seu o devia fazer, porque acharme com elle, muito mais depresa o avia de dar se o não tivera, de Vmce em meu poder de que tendo, e sobretudo, achei que seria menoz culpa, a de faltar a Rodrigo de Sande de que a de deixar de dar as esmollaz que Vmce e nosso thio e senhoro Manuel Mendez Monforte me ordenarão dese cujaz dei 342 mil como se ve dos Resiboz que mando, estaz são as rezoins que thenho para não ter dado o tal dinheiro Vmce relevara minhas faltaz, que a saber e conheser bem, oz contratenpoz que tem avido talvez, me não escrevese tão apaixonadamente neste particular.

Vay a conta corrente da solla e caixaz que veio a meu poder na frotta de 710 e por ella vera Vmce esto, 900 mil e tantoz mil réis ficando inda alguma sola em ser, e outra fiada em cujoz termoz não pude fazer nesta ocazião o que Vmce me ordenava, e asim pouco a pouco irei remetendo, o que puder para me ir dezenpenhando, e da conta que mando a meu Primo o senhoro Marcoz Mendes, Vmce vera me resta dinheiro 122 mil e tantoz réis. estez pode Vmce cobrar e abonar na minha contta.

Ao filho do Ramalho pode Vmce dizer que Manuel Rodrigues da Costa m entregou hum feixo d asucar sem me dizer o que dele avia de fazer, que asim que elle me avizou, emtreguase seu prosedimento a seu

[fig1] a seu Pay, que prontamente fiz como elle lhe avizara

Custodio da Cunha se foi outra vez embora segundo as notisias que ha a cauza que teve para fazello, dira meu Primo, com que ao que elle a Vmce devia não ha mais que perder as esperansas pois as demandas que trazia, se lhe comfiscarão agora todaz e minhas Irmanz, tambem nesta divida tiverão perda na ezmolla que de lla lhe mandava dar nosso thio e senhoro Manuel Mendes Monfortte, que Deuz lhe pague a boa vontade e ellas ainda tem a ezperança de que dito senhoro lhe ha de fazer a mesma esmolla suposto não tivese ifheito esta cobransa.

o Bispo saldanha morreo ha muito como Vm ja sabe, e falandolhe Manuel De Aguiar na divida nunca foi posivel pagualla dizendo, lhe não lenbrava de tal.

nos Resiboz que mando das esmollas falta o de 160 que Vmce mandão dar a Dona Justa que este não vay porque como inda ontem sahio não lhe pude falar mas ira na primeira ocazião que em saindo das escollas lhe darei o dinheiro e lhe pedirei o Resibo, os mais a quem faltão por se dar as esmollas como se não cobrou cousa alguma de sequines não se pode dar a todoz e se foi atendendo aos mais nesesitadoz athe segunda ordem de Vmce.

em quanto a clareza e obriguasão que Vmce me pede lhe mande para que conste o que eu devo a Vmce ou a caza de meus Pais pella fiansa que por noz pagou a Dom Pedro gomes acho, he escuzada, pois esta divida consta, da mesma obriguação e fiansa que Vmce e nosso thio fizerão por noz ficandolhe senpre a deretto, para poder aver de mim o que constar paguarão e pela dita fiansa, e a mim

[fig1] e a mim a obriguação de satisfazello, em todo, o tenpo, que Deuz for servido darme com que poder paguar, que he so, o fim para que dezejo ter alguma ordem devida, e se Vmce lhe parese, que não basta o que digo com seu avizo, mandarei ezcritto, meu ou ezcretura, em que me obrigue a paguar e meus Irmaonz, na mesma forma, aquella quantia que Vmce pagou a Dom Pedro, que bem sintto que asim, susedese, maz esta na terra a verdade quem foi a cauza de minha destruição que se fora com perda minha me contentara maz ainda quiz a fortuna cheguase a Vmce que he o que mais me deu e da cuidado e maiormente peloz disgostoz que Vmce me diz teve neste particular, e em mim sera contino, se a minha pouca fortuna for adeversa, que não possa satisfazer com a minha vontade e obriguação que estimara mais que tudo que Vmce viese no conhesimento qual he, e foi senpre a minha vontade, e tensão.

Com rezão me deve Vmce desculpar em lhe não escrever em todoz os Navioz de avizo que deste Reino partirão o anno pasado, na consideração de que d alem de minhaz continuaz aflisoinz, com que me achava, estava abzente da corte desde 7 de Janeiro de 712. e não sabia nem avia tenpo para se me avizar de que partião tais avizos pella pressa e segredo com que ao depois de saidoz me avizavão partirão, e suposto que em huma ocazião me achei nesta corte em que partio hum pataixo, pello coal escrevi a Vmce maz pasado pouco tenpo veyo notisia de ser tomado pelloz fransezes, que asistir

[fig1] que asistir eu nesta corte, bem deve Vmce ter conhesido pellas mais ocazionz, que nunca perdi nenhuma de dar a Vmce novaz minhaz e pedirlhe mas contenuase de sua saude que esta estimarei grandemente logre Vmce livre das molestias e queixaz com que me aviza ficava, e não menoz minha senhora thia a Senhora Maria Ayrez da Pina, em quem suas sobrinhaz saudozamente se rrecomendão com mil saudadez, fazendo o propio em meus queridoz Primoz, e da parte de minha Irmam Juliana Maria dara Vmce a dita senhora oz agradesimentoz da esmolla que lhe fez, que bem sabia sua mercê que quem como ella sahia de tão grandes trabalhoz, tudo lhe era nesesario, e Deuz nosso senhor lhe dara o pago, pellaz mercez e favores que continuamente noz fazem, e todoz nos estamoz resebemdo. he quanto se me ofrese, se me lenbrar mais algua cousa direi em carta a parte fico pedindo a Deuz que guarde a Vmce muitos annos como lhe dezejo.

Sobrinho de Vmce o mais amante que mais a Vmce estima e venera Manuel Mendez Cunha

ezquesiame dizer a Vmce que era ezcuzada a recomendasão que Vmce me faz de que por morte de minha May que Deuz thenha em gloria, não era nesesario fazer partilhas nem sorte aoz orfaonz, que estas so se fazem quando oz beis do cazal cresem daz dividaz que elle deve mas se estes não não cheguavão mas ainda erão tão lemitadoz que seria vergonha fazerse partilha como avia eu de cuidar em tal ja que foi Deuz servido que nenhum de noz tivese legitima de Pay nem de May a, não sendo a nossa caza daz que menos thenha grasas ao senhor, na noza terra, mas he tão grande, o animo com que me acho, e a confiansa que thenho em Deuz, suposto o meu pouco meresimento que não desconfio inda de que me ha de secorrer, e lenbrarsse da orfandade de minhaz Irmanz que muitos nasem, sem cousa alguma, e vem a ter muito


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