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Meu thio e senhor Doutor Manuel Mendez Monforte Lxa 11 de Julho de 1713
Na escoadra que partio em o prisipio de Abril escrevi a Vmce
por duas ou trez viaz, e ainda que foi larguamente
comtudo não disse metade do que se me ofresia, nem
agora o poderei dizer, porque era mais para vocalmente do
que para escrito, mas contudo eixplicarmehei pello
milhor modo que puder, cheguei a esta corte ha 8 dias
a ezperar minha Irmam, aflitta, e desconsolada, que
Deus foi servido restetuirme ontem a minha vista depois
de vinte e dois mezes de abzensia, e he primisão devina
que o que se devia sentir cauza alegria e gosto na
consideração de que estamoz sogueitoz a maiorez
emfortunioz, aqui tirei algunz dias de demora, athe
a despacharem para a levar para a Beira, e falando com
ella me segura, cuidara muito em não fazer mal nem
inda a seuz inimigoz, o que bem se verefica pello
aperto, em que se vio, e a que hia cheguando, Deus nosso
senhoro que lhe deu luz, para saber o que lhe comvinha
premita, tella de sua santa mão e a ella e a todoz
noz Livrar de nossos inimigoz
Meu Primo Duarte Rodrigues Mendez he o
portador desta, que se rezolveu a hir e levar esse rapas
de minha thia Catarina Mendez em sua companhia, contra o meu
votto, por ser esta jornada sem aquellas
condisoinz, e forma com que Vmce o mandava hir, mas elle
vendose no mizaravel estado em que se achava se
rezolveo a vir a embarcarse, e vendo eu isto, o
aparelhei como pude, e não como era rezão por me não
achar com que poder fazello, que estão tais os
tenpoz que não se pode coalhar vintem, como elle
a Vmce dira e foi presizo vender algunz
gueneroz que thinha perdendo nelles, a fim de se poder
perparar, que ia fiarse hüa pessoa em que
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em que cobrara de Pedro, ou Sancho que lhe deva para
poder valerse deste dinheiro, iso he ezcuzado, que
parese que he o mesmo fiar que perdello, e quando
Vmce se queixa deste mesmo mal, tendo outroz
cabedais e outra emteligensia que eu não thenho, que
farei eu que não thenho, mais que o que he de Vmce
e de mim se fia, algumaz pessoaz, que me
fazem favor, sem mais cabedais que os alheios
a que he presizo dar satisfasão, mas não he
possivel seja nunca a tenpo, alfim, eu lhe
dei como pude 400 mil e tantoz mil réis como
consta do seu Recibo que mando, para elle se
aparelhar e paguar algumaz dividaz que devia que
não paresia bem que indo elle para a conpanhia de Vmce e
publicando, o mandava Vmce hir ficase devendo,
nada, dito meu Primo que Deus premita levar a
salvamento dira a Vmce de palavra, muitas cousas que
a mim me esqueserem, e reprezentara a Vmce
a mizeria, em que todoz noz achamoz, porque como
a mais da parenteira se acha tão pobre que não tem
hum pão que comão he forsozo que oz que tem
dem metade aos outroz por não pareserem
indoze pondo coaize todoz no mesmo estado
sendo os negosios tão poucoz, que nem a poder de
muito trabalho em a vida que hua, pessoa leva
se pode sustentar, e se agora com esta paz, que
Deus foi servido darnoz, as cousas não
tomarem outro caminho não sei que ha de ser
de todos noz com tantaz e tão grandez
obriguasoinz, a que deixado por não dar a Vmce tantoz
motivoz de sentimento paso, a outra materia
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grande he a rezão de queixa que Vmce tem contra mim
em não aver dado a Rodrigo de sande oz 1320 e tantos
réis que pagou por Vmce da letra que sobre elle veio de
roma, e nenhuma desculpa há que me livre desta
falta, maiz que a de não ter, e por esta cauza he que
me emvergonhava, e ezcondia delle, suposto que
elle ha de confesar que em serta ocazião vindo eu
a esta corte e trazendo hunz tafettas pretoz de
castella que sendo bom guenero não thinhão saida, o fui
buscar a sua caza, e lhe dise, que eu me via
emvergonhado com sua merce em não averlhe emtregue
aquelle dinheiro, que eu thinha na minha mão de Vmce muito maior
coantia, e que o não tenho dado não era porque a
minha mizeria, cheguase ainda a termoz grasas a Deuz
de que me não achase com cabedal para poder
fazello, mas que este não estava liquido a dinheiro pois trazia
hum negosiozinho para castella, e que este todo, se
reduzia a trocoz e mais trocoz que para elle só
metia algunz tostoinz que podia ajuntar, e que delle
não tirava mais que fazendaz, que eu me achava
com huaz, pesas de tafetaz que quizese tomallaz
por conta deste dinheiro e que az vendese, pello que
quizese que por qualquer preso que oz vendesse
lhe faria a conta que nisto não thinha perda
alguma, não o quis fazer dise que só queria
o dinheiro procurei a venda aos tafettas, achei o
ocazião de fazer hum troco a ellez, a gueneroz que me
servião para castella, não tive nunca ocazião de
ajuntar dinheiro que cheguase a esta quantia para darlho que
he tal a mizeria como isso, nem thinha ouro ou
prata que empenhar, para podello fazer, que a von
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que a vontade, era, e he grande de satisfazer a dita
letra, e sem que Vmce me digua, que tendo na minha
mão dinheiro seu o devia fazer, porque acharme
com elle, muito mais depresa o avia de dar se o não
tivera, de Vmce em meu poder de que tendo, e
sobretudo, achei que seria menoz culpa, a de
faltar a Rodrigo de Sande de que a de deixar
de dar as esmollaz que Vmce e nosso thio e senhoro
Manuel Mendez Monforte me ordenarão dese
cujaz dei 342 mil como se ve dos Resiboz que
mando, estaz são as rezoins que thenho para não
ter dado o tal dinheiro Vmce relevara minhas
faltaz, que a saber e conheser bem, oz
contratenpoz que tem avido talvez, me não escrevese tão
apaixonadamente neste particular.
Vay a conta corrente da solla e caixaz
que veio a meu poder na frotta de 710 e por
ella vera Vmce esto, 900 mil e tantoz mil réis
ficando inda alguma sola em ser, e outra fiada
em cujoz termoz não pude fazer nesta ocazião
o que Vmce me ordenava, e asim pouco a pouco
irei remetendo, o que puder para me ir
dezenpenhando, e da conta que mando a meu Primo o senhoro
Marcoz Mendes, Vmce vera me resta dinheiro 122 mil e
tantoz réis. estez pode Vmce cobrar e abonar na minha
contta.
Ao filho do Ramalho pode Vmce dizer que
Manuel Rodrigues da Costa m entregou hum feixo d asucar
sem me dizer o que dele avia de fazer, que asim
que elle me avizou, emtreguase seu prosedimento a seu
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a seu Pay, que prontamente fiz como elle lhe avizara
Custodio da Cunha se foi outra vez
embora segundo as notisias que ha a cauza que teve
para fazello, dira meu Primo, com que ao que elle a Vmce
devia não ha mais que perder as esperansas pois as
demandas que trazia, se lhe comfiscarão agora todaz
e minhas Irmanz, tambem nesta divida tiverão
perda na ezmolla que de lla lhe mandava dar nosso thio
e senhoro Manuel Mendes Monfortte, que Deuz lhe pague a boa
vontade e ellas ainda tem a ezperança de que dito
senhoro lhe ha de fazer a mesma esmolla suposto não
tivese ifheito esta cobransa.
o Bispo saldanha morreo ha muito como
Vm ja sabe, e falandolhe Manuel De Aguiar na
divida nunca foi posivel pagualla dizendo, lhe não
lenbrava de tal.
nos Resiboz que mando das esmollas falta o de
160 que Vmce mandão dar a Dona Justa que este não
vay porque como inda ontem sahio não lhe pude
falar mas ira na primeira ocazião que em saindo das
escollas lhe darei o dinheiro e lhe pedirei o Resibo, os mais a quem
faltão por se dar as esmollas como se não cobrou
cousa alguma de sequines não se pode dar
a todoz e se foi atendendo aos mais nesesitadoz
athe segunda ordem de Vmce.
em quanto a clareza e obriguasão que Vmce me pede lhe
mande para que conste o que eu devo a Vmce ou a caza de meus
Pais pella fiansa que por noz pagou a Dom Pedro gomes
acho, he escuzada, pois esta divida consta, da mesma
obriguação e fiansa que Vmce e nosso thio fizerão por noz
ficandolhe senpre a deretto, para poder aver de mim
o que constar paguarão e pela dita fiansa, e a mim
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e a mim a obriguação de satisfazello, em todo, o
tenpo, que Deuz for servido darme com que poder
paguar, que he so, o fim para que dezejo ter alguma
ordem devida, e se Vmce lhe parese, que não basta
o que digo com seu avizo, mandarei ezcritto, meu
ou ezcretura, em que me obrigue a paguar e meus
Irmaonz, na mesma forma, aquella quantia que
Vmce pagou a Dom Pedro, que bem sintto que
asim, susedese, maz lá esta na terra a verdade
quem foi a cauza de minha destruição que se fora só com
perda minha me contentara maz ainda quiz a fortuna
cheguase a Vmce que he o que mais me deu e da cuidado
e maiormente peloz disgostoz que Vmce me diz teve neste
particular, e em mim sera contino, se a minha
pouca fortuna for adeversa, que não possa satisfazer
com a minha vontade e obriguação que estimara
mais que tudo que Vmce viese no conhesimento
qual he, e foi senpre a minha vontade, e tensão.
Com rezão me deve Vmce desculpar
em lhe não escrever em todoz os Navioz de avizo que deste
Reino partirão o anno pasado, na consideração de que
d alem de minhaz continuaz aflisoinz, com que
me achava, estava abzente da corte desde 7 de
Janeiro de 712. e não sabia nem avia tenpo para se me
avizar de que partião tais avizos pella pressa e
segredo com que ao depois de saidoz me avizavão
partirão, e suposto que em huma ocazião me achei
nesta corte em que partio hum pataixo, pello
coal escrevi a Vmce maz pasado pouco tenpo veyo
notisia de ser tomado pelloz fransezes, que asistir
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que asistir eu nesta corte, bem deve Vmce ter conhesido
pellas mais ocazionz, que nunca perdi nenhuma de
dar a Vmce novaz minhaz e pedirlhe mas contenuase
de sua saude que esta estimarei grandemente logre
Vmce livre das molestias e queixaz com que me
aviza ficava, e não menoz minha senhora thia a Senhora Maria
Ayrez da Pina, em quem suas sobrinhaz saudozamente se
rrecomendão com mil saudadez, fazendo o propio em meus
queridoz Primoz, e da parte de minha Irmam Juliana Maria
dara Vmce a dita senhora oz agradesimentoz da esmolla que lhe
fez, que bem sabia sua mercê que quem como ella sahia
de tão grandes trabalhoz, tudo lhe era nesesario, e Deuz
nosso senhor lhe dara o pago, pellaz mercez e favores que
continuamente noz fazem, e todoz nos estamoz resebem
do. he quanto se me ofrese, se me lenbrar mais algua
cousa direi em carta a parte fico pedindo a Deuz que
guarde a Vmce muitos annos como lhe dezejo.
Sobrinho de Vmce o mais amante que mais a Vmce
estima e venera
Manuel Mendez Cunha
ezquesiame dizer a Vmce
que era ezcuzada a recomen
dasão que Vmce me faz de que
por morte de minha May que Deuz
thenha em gloria, não era
nesesario fazer partilhas nem
sorte aoz orfaonz, que estas so se fazem
quando oz beis do cazal cresem daz dividaz que elle
deve mas se estes não só não cheguavão mas ainda erão
tão lemitadoz que seria vergonha fazerse partilha
como avia eu de cuidar em tal ja que foi Deuz
servido que nenhum de noz tivese legitima de Pay nem
de May a, não sendo a nossa caza daz que menos thenha
grasas ao senhor, na noza terra, mas he tão grande, o animo
com que me acho, e a confiansa que thenho em Deuz, suposto
o meu pouco meresimento que não desconfio inda de que me
ha de secorrer, e lenbrarsse da orfandade de minhaz Irmanz
que muitos nasem, sem cousa alguma, e vem a ter muito