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Maarten Janssen, 2014-

Representação em facsímile

1820. Cópia de carta não assinada, atribuída a um salteador mas escrita no feminino, enviada a Ana Joaquina, lavradora.

ResumoO autor ameaça Ana Joaquina de represálias violentas caso ela não retire uma queixa.
Autor(es) António Maria Vidal
Destinatário(s) Ana Joaquina            
De S.l.
Para Portugal, Beja, Messejana
Contexto

Esta carta foi transcrita pelo tabelião José Rodrigues Palma; no processo não se encontra a versão original. No documento apógrafo, o mesmo tabelião reconhece ser a carta da autoria de António Maria Vidal, preso na cadeia da Corte, por comparação com outras letras suas. De quarenta e oito anos, António Vidal é descrito no processo: estatura regular, cabelo castanho escuro, rosto comprido e olhos pardos. Assumia várias denominações (Neves, Vidal e Cigano eram três delas) e várias profissões, como as de sapateiro, barbeiro, curandeiro e cirurgião. Achava-se pronunciado em muitos e diferentes crimes, tais como salteador de estradas, sócio de ladrões, arrombador de cadeias e raptor de mulheres casadas (em várias terras): raptou a mulher e a filha de Vitorino José, da aldeia de Alvor, onde também roubou. Preso na cadeia de Vila Nova de Portimão, arrombou a grade da cadeia e fugiu; foi morar depois para a Aldeia da Trindade, do termo de Beja, e aí fez roubos e arrombamentos; furtou a seu sobrinho Fortes vinte moedas de um alforje que estava em cima de uma égua; aí mesmo amancebou-se com Ana Zorrega, recetadora de todos os seus furtos e que o acompanhava para toda a parte; furtou duas cargas de tabaco e duas clavinas a uns espanhóis e andou depois a vendê-las de monte em monte. Consta do processo que uma quadrilha de salteadores atacou de noite o Monte de Rosa Gorda, onde Manuel Vaz Lampreia residia. Entraram pelo telhado da casa, maltrataram a mulher (o lavrador não estava em casa nessa noite), roubaram quatrocentas moedas em oiro e prata e muitas joias de valor. Passados oito dias foi achada uma clavina perto do monte junto a um ribeiro. Tanto a mulher como as criadas de Manuel Vaz Lampreia reconheceram a clavina, que fora utilizada pelo salteador mascarado que entrou na casa. A arma foi reconhecida como sendo do uso do réu, e ele foi preso, juntamente com um desertor de nome Nogueira acusado de ter sido recetador das peças de oiro roubadas pelo primeiro. Este último foi condenado às galés para o resto da vida. O processo acabou por ser declarado nulo e o réu absolvido.

Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra A, Maço 24, Número 3, Caixa 52, Caderno 1
Fólios 92r-v
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2007

Page 92r

Senhora Anna Joaquina

Senhora. Eu como Mulher que sou, e percebendo a conversa que tiverão trez homens o da minha porta em a grande desgraça em que seu Marido está a cahir, e mais Vossa Mer, que qualquer dia é não o posso descobrir a respeito do Dezertor que foi prêzo no Algarve que foi prezo injustamente, porque nem valéo de nada, nem nunca o ha de saber, e a denuncia do Ourives, foi por vingar delle, e ponhase prompta para receber tão boa vezita que sei que lhe fazem, quer esteja no Monte, quer esteja na Villa, que sei se lhe chegão o Monte, que tudo quanto agarrão, e agarram, tudo morre, cuide muito depressa em hir dar o perdão ao homem muito depressa porque não lhe fez mal, e querendo com isto tudo quanto fôr seu será sagrado, e mais Vossa Mercê nunca terá prejuizo, nem seu Marido poderá passear por toda a parte, estando o perdão dado. Eu sou obrigada a hir a sua Caza debaixo de segredo declarar-lhe quem erão os homens, que estavão com esta conversa debaixo de segredo, e então saberá quem eu sou. Cuide nisto muito breve.

Hoje treze de Novembro de mil oitocentos e vinte


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