Resumo | O autor dá notícias da sua vida familiar no Rio de Janeiro, lamenta a fraca produtividade sacarina e queixa-se da impunidade a que tem assistido por parte das autoridades eclesiásticas face ao marido de uma das sobrinhas. A carta foi escrita por um primo, Tomás Ribeiro. |
Autor(es) |
António Fernandes da Mata
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Destinatário(s) |
Antónia Fernandes
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De |
América, Brasil, Rio de Janeiro |
Para |
S.l. |
Contexto | O réu deste processo era João Vicente de Morais, natural de Punhete, marinheiro da carreira do Brasil. Foi acusado do pecado de bigamia porque ser casado com Isabel Vicente e ter tornado a casar no Brasil com Domingas Barbosa, sendo que a primeira mulher ainda era viva. Foi o tio da primeira mulher, António Fernandes da Mata, autor mental de três cartas aqui transcritas, quem denunciou o caso. O réu foi condenado ao degredo por cinco anos para Mazagão. |
Suporte
| uma folha de papel dobrada escrita apenas no rosto |
Arquivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Fundo
| Inquisição de Lisboa |
Cota arquivística
| Processo 2674 |
Fólios
| 13r, 14v |
Transcrição
| Ana Rita Guilherme |
Revisão principal
| Rita Marquilhas |
Contextualização
| Ana Rita Guilherme |
Modernização
| Liliana Romão Teles |
Anotação POS
| Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Data da transcrição | 2008 |
3 de Julho 1659
Jhũs Maria
Minha irmã E sobrinhos
Como a Nao do lima faltou, E foi a Parnãobuco me faltarão cartas suas, nẽ
o q as devia levar tratou de mas mandar dela como vierão
outras por correo
E como nella devião escrever, o não fizerão nesta frota, q sinti pello mto
que dezejo novas suas, Delhe Deos a saude E vida, q essas orfans hão mister
q suposto tronco velho sempre fara sua obrigassão como may, a quẽ mando
minhas saudozas lembranças E a mas sobrinhas o mesmo E sua irmã E sobri
nhos juntamte E todos nos encommendamos en suas orassõis.
Eu passo cö meus custumados achaques, mas lembrasse Deos de mĩ em
me aviventar cõ tantos, pa ser tambẽ emparo de mas obrigassõis q
duas filhas
Cazei agora tenho outras duas a minha conta E a de Deos primeiramte q são
a cazada como q se o não fora E sua fa
minha neta molher feita E hũ menino
de que seu pai tão pouco ou nada se lembra nẽ eu tenho esperanças de vir e se Deos
o levara la onde esta me fizera grde mce
são tudo favores do ceo pa meu bem
que os q nesta Vida tem perfeitos gostos serto he não averem de ter duas glorias
sendo este mundo Vale de lagrimas.
Não deixei de fazer mas diligencias cõ o Vigario geral, q não ouve ate
gora Perlado pa esse bom genro de Vm ser prezo E obrigareno
a q fosse fazer Vi
da cõ sua primra molher, mas as justissas deste brazill são de Compadres, E o inte
resse fas atabafar tudo. E indo o mesmo Vigario geral a vizitar
essas partes
donde elle esta Cazado, não fes por isso nada, E me disse lhe escapara auzentã
dosse tudo falso. nesta frota veo Perlado, q parece mais zeloso se se lhe não
pegar a tinha do interesse espero na Nao do lima novas cartas de Vms E justi
ficassão, E veremos o q nisto podemos fazer. q bem nos parecemos na boa
Ven
tura cõ filhas q homẽ cria cõ tantos trabalhos, pa tais gostos.
Sintidissimo fico não poder mandar nestes navios hũa lembranssa
de amor, he a cauza q
neste anno não tive assuquere q pudesse embarcar por
ser a novidade ruim, E alguã que deu pessimo q mais avião de ser os gastos do
q elle valiria, assĩ
q o vendi aqui a hũ snor de navio q como elles não pagão fretes
por os levarẽ en nao sua lhe tẽ outra conta q não ao dono do assuquar, E ainda o
dinhro q por elle me derão, he a pagar daqui a sseis mezes depois da partida. Vira
a nao do lima q he peçoa serta E nella mandarei, o q puder
que ate gora fui
dezempenhandome de gastos de minhas doensas E algũs negros q comprei fi
ados que sẽ elles não ha viver nesta terra. E assi escreverei mais largo, E ao
nosso Padre tambẽ todos lhes mandamos infinitas saudades de amor, E lhes
pedimos nos encomende a Virgẽ dos martires, E a sto Anto, q tambẽ de ca fare
mos o mesmo a Cujas peçoas gde nosso snor E lhes de bons sucessos en todas suas
couzas. Amen.
de seu irmão d alma
Anto frz da matta