Representação em facsímile
1623. Carta não autógrafa de Dom Luís da Gama para o seu irmão, Dom Francisco da Gama, 4º conde da Vidigueira.
Autor(es)
Dom Luís da Gama
Destinatário(s)
Dom Francisco da Gama
Resumo
O autor dirige-se ao seu irmão, vice-rei da Índia, comentando diversos assuntos relativos à defesa daquele estado e às circunstâncias do seu cativeiro no reino de Nápoles.
Cueixome, a Resolução q VS tomou em passar a esse estado nas embar-
quações piquenas q achou em Mocãbiq foi mui asertada, mas arisca-
da, porq como era cabo de Monção podião as corentes faserelhe mto
empidi-
mento e Verse VS em mto grande perigo e falta d agoa e mantimtos
O Miseravel estado em q VS achou esse ha mtos dias q lhe eu tinha ad-
vertido. e por essa resão o persuadia a não fazer tal Viagẽ. Primita Deos q
o mto q se VS canssa por remedear as couzas aproveite, o q VS fes em Cochĩ
em aplicar os dous por cento pa a cide fazer artelha e redificar os muros hei
p mui asertado, e o mesmo pareçera a todos q ponderarẽ sem paixão pq p
este modo em q emtrodosiu VS este tributo em q a cide não queria vir ha
tantos annos. e dã modo pa se defender e refaser as ruinas q tinha; o q VS
me dis de Crãganor mtos annos ha q o tenho escro a sua Mage o q em-
porta he ser señor do mar; pombais qtos menos melhor.
A compra q VS fes da Naveta foi mui boa e asertada, em Madrid
folgarão mto de saber q ella estava na Ilha Terceira, tanto q franco de Luca
mo escreveo cõ grande alvoroço. e mais a festejarião depois de chegada a Lxa, a
nova da perda de Ormus se soube em Mayo por tra. se não mandarẽ secoro a
VS sera por não quererem. e não por lhes faltar tpo pa o aprestarẽ; o Pe Colla-
co me escreveo ha mezes q instava p q se acudisse cõ grão calor. mas como
nos Mnros do Consso ha pouco. duvido facão cousa q preste; eu qro mto a
VS e desejolhe mtos beĩs, Mto estimara poderlhe aliviar os trabalhos
mas tornar a India nem pla mesma vida o fisera. e não tem sua Mage
mces cõ q a isso me pudera obrigar. pq estou tão escandalisado de Portugue
zes. que estou resoluto em não viver em Portugal. nem servir a elRey
naquella Coroa. melhor me vai com os estrajeros q c os naturais, e he isto tanto
assi q com mais gosto passarei a vida fora daquelle Ro comendo pão de fare-
llos q nelle cõ todos os mimos q ha. creya VS q me custa mto privarme dos
a que quero bem. mas sem resões e esquivancas podem mto.
O Partar q VS me aponta dos abitos q levou tratarei em Madrid
como la for. porq não he cousa q se possa tratar por carta. e sendo preso. e o
mesmo farei no q VS apontou sobre os Imgreses. q me pareçe cousa muy
posta em resão mormente agora c o cazamento do Principe de Cales cõ a In-
fanta e se os castelhanos não são de todo enimigos nossos, de crer he q nas ca-
pitulações q fiserão tratarião deste particullar.
A señora Conda me escreveo em 7 de Outubro depois de Receber
as cartas de VS q vierão na Navetta; q ficava emtrouxada pa ir pa
a Vidigra deve ser ordem de VS Mas serto q me pareçe q não era aquillo
o q comvinha a VS pa a criação do sr D Vasco e tãobem pa os negoçeos de
VS se nisto digo mal. VS me perdoe.
Cuando me prenderão. me tomarão a fazda q tinha; emqto o Conde de