Resumo | O autor pede ao destinatário que tome providências em relação a um caso de um estudante suspeito de pacto com o demónio. |
Autor(es) |
Tomás Francisco
|
Destinatário(s) |
Anónimo522
|
De |
Portugal, Braga |
Para |
S.l. |
Contexto | Processo relativo a Giraldo Nobre Ferreira, estudante de Teologia, solteiro, filho de Domingos Francisco Ferreira, mercador. Giraldo Nobre Ferreira era natural de Caminha e aí residia, tendo sido preso no dia 02 de Junho de 1720 sob acusação de feitiçaria. Terá escrito um bilhete que foi parar às mãos de Manuel Lobo que o entregou a Tomás Francisco, padre da Congregação de Braga, o qual diligenciou para que o estudante viesse a ser acusado. O réu confessou que escrevera o bilhete, mas em mais nenhuma ocasião invocara o diabo. Referiu que na ocasião em que o escreveu, estava com «ânimo de fazer o que [o diabo] lhe pedisse, exeto o dar-lhe a alma». O réu confessou também que o «ânimo» de escrever surgiu porque queria chegar a uma mulher sem o conseguir. Foi condenado ao degredo por cinco anos para Castro Marim. |
Suporte
| meia folha de papel escrita no rosto. |
Arquivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Fundo
| Inquisição de Coimbra |
Cota arquivística
| Processo 8018 |
Fólios
| [21r] |
Socio-Historical Keywords
| Rita Marquilhas |
Transcrição
| Ana Guilherme |
Revisão principal
| Rita Marquilhas |
Modernização
| Rita Marquilhas |
Data da transcrição | 2009 |
Illmo Sor
Aos vinte e hum de Outubro de 1719 me entregou Mel Lobo
Viegas morador
no Rocio da Rua Verde, debaixo de todo o se
gredo o escrito de que se trata; pa
que eu lhe aconselhasse
o que devia fazer, ou denunciasse se fosse justo. Aceitey o di-
zendolhe
que tornariamos a fallar: veyo despois a esta Congre-
gaçam, e me affirmou que este escrito aparecera
em sua ca-
za em que morava de prezente (e de antes nella tinha mo-
rado o que vay assinado no
escrito) e o achara sua mer no meyo
da sala estando a caza limpa e despois barrida
mtas vezes
e o dera ao marido cuydando ser outro papel porventura
lhe cahiria do
bolso. Mais me disse que conhecia de vista ao
tal sogeito que era estudante de alta estatura, e morava
na
Crus da Pedra.
Eu porque lidei alguns annos com o dito
Mel Lobo Viegas
quando foy meu discipulo, nam deixei de
recear ser isto alguã invençam. E assim me rezolvi a nam
de-
nunciar logo, sem fazer algũa diligencia em materia tam pe-
zada. Pello que aos vinte e dous
de Outubro, que foy o dia
seguinte, escrevi ao Pe Manoel de Mattos organista da sé
,
por cuydar que de prezente morava no mesmo bairro, como mo-
rava quando me recolhi pa
esta Congregaçam, e juntamte por-
que era servo de Deos, esperava (nam só
porque o tinha servido)
me fizesse o que na carta lhe pedia, convem a saber: noticias do so-
geito, sua
letra se fosse possivel, vida, e costumes; o que tudo me reme-
tesse na minha carta debaixo de todo o
segredo. E porque a respos-
ta se demorava, falleilhe declarandolhe debaixo do mesmo segredo,
e
juramto a relevancia da materia. Só delle ouvi que o sogeito era
de maos costumes. Mas
porque a resposta prometida athe gora
se me nam deu (sendo que ja lhe mandei pedir a mesma carta que
lhe
tinha escrito com resposta ou sem ella) Recorro a V Illa
Como Pastor vigilantissimo,
pa que proveja nesta materia como for
servido.
Braga Congregaçam do Oratorio
30 de Janro. de 1720
Aos pés de V Illa
Thomas Francisco