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Maarten Janssen, 2014-

Representação em facsímile

[1697-1708]. Carta de Arcângela do Sacramento, devota, para Roque Ribeiro, membro do Santo Ofício.

ResumoArcângela do Sacramento descreve as suas visões e experiências religiosas.
Autor(es) Arcângela do Sacramento
Destinatário(s) Roque Ribeiro            
De Portugal, Coimbra
Para Portugal, Coimbra
Contexto

A ré deste processo é Arcângela do Sacramento, acusada pela Inquisição por ter "visões e revelações de Deus, e tormentas em que quotidianamente caía, nas quais ficando suspensa ia a um lago, que era o Purgatório, donde tirava almas em figura de Pombinhas" (fl. [348v] situado no microfilme 286), para além de experiências misteriosas e espirituais, envolvendo o encontro com santos, diálogos com Deus, tentações do Diabo, curas, inspirações ou revelações divinas. Por a Inquisição considerar estas ações "erros manifestos contra as verdades de nossa santa Fé Católica, e perigosa ruína do próximo" (fl. [250v, também no microfilme 286]), foi presa nos cárceres inquisitoriais. O processo é muito extenso, tendo tido a ré trinta e quatro sessões de interrogatório em que contava as suas experiências com o sagrado. Numa delas, contou que desde os 14 anos que se dedicava à religião católica e que tinha muita disciplina (fazia jejum 4 dias por semana, disciplina e cilício 3 dias por semana, 1 dia por semana em que não falava com ninguém, dormia vestida e comungava de 15 em 15 dias, depois de 8 em 8, de 3 em 3, e depois todos os dias), e que sempre que orava perdia os sentidos, especialmente quando comungava. Nos interrogatórios finais, a ré acabou por admitir o seu envolvimento ilícito com o Pe. António da Fonseca, também penitenciado pelo Santo Ofício. Foi sentenciada a leitura pública de auto de fé e a ser "assoutada pelas ruas públicas desta cidade, citra sanguinis efusionem, e degredada por tempo de oito anos para o estado do Brasil e para sempre do lugar de Nabães e Vila de Midões". O termo de soltura e segredo saiu no dia 22 de dezembro de 1701, tendo-lhe sido desculpado o degredo para o Brasil em 1708, ano em que foi libertada.

Bibliografia:

Paiva, José Pedro (2000), "Missões, diretores de conscIência, exercícios espirituais e simulações de santidade: o caso de Arcângela do Sacramento", Gaudela. Revista de Cultura, n.º 1, junho de 2000, pp. 3-28". Acessível em: http://www.uc.pt/chsc/recursos/jpp.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita no rosto do primeiro fólio e no rosto e verso do segundo, e meia folha de papel não dobrada, escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Coimbra
Cota arquivística Processo 7619
Fólios 5r, 6r-7r
Transcrição Mariana Gomes
Revisão principal Leonor Tavares
Modernização Ana Luísa Costa
Anotação POS POS automático
Data da transcrição2009

Page 6r > 5v

J M J

Meu senhor a lus do divino espirito santo asista sempre na alma de Vmce e lhe Comonique mto da sua divina grasa Meu senhor na materia em que a Vmce falei a qual Vmce me dise lhe escrevese he que eu tomo mutas vezes a pas ao pe anto da fonca nesta forma chegava ele o seu Lado ao meu ou cabesa e dizia pas rl tecum e insinoume que respondese et com o espirito tuo e sugsediame estar com alguma afliçam ou dar grande eficacia Livre dela e o intrior ardendo em hum ardente fogo eu cudava que isto hera santo e bom e por q tal o tinha em huma ocasiamcus susedeu que ele chegou a sua cara á minha neste tempo que dava a tal pas e fiquei eu com huma tal emquietaçam que rompi em solusos perguntoun me ele que tinha lhe dise que me emquietara aquela açam diseme ele entam que nam fose tola que se ele entendera ser isso ofensa de Ds o não avia de fazer eu entam tambem assim o prezumia e tinha pa mim que ese me não avia de acomsilhar o tal fi lo prezemte a Ds nosso sor na oraçam e intriormente me diseran filha fas ser a coiza boa ou ma, a reza de instaniça Com que he feita e ainda asi deilhe comta que sempre lhe dei fielmente de tudo porque não quiria ser enguanada dise me que ahi viria eu como niso não havia maldade sosidia me tambem estar Com alguma afliçam ou dores e tambem cair de hum alsapam pa baixo e desanguentarseme huma perna e mandarme ele debaixo de santa obediensia sarase q Logo daquilo eu algumas vezes se me fazia isto deficultozo porem recoria a Ds noso sor e dizia sor se vos quereis que eu obedesa obtiei vos pois podeis e no mesmo tempo me achava Livre eu todo isto tinha por bem ora susedeu Levantaramse algumas besbirinhadas em que me Levantaram alguns testemunhos dise eu com alguma afliçam á sor eu apelo pa o dia do juizo e avemos de estar a conta entam me aveis de justificar a minha verdade não que eu queira a perdisam de nenhuma alma mas que me justifiqueis a minha verdade ouviume o dito pe e diseme não apeleis pa entam pidi com insistensia a Ds noso sor que logo que nos leve logo a juizo e no la justifique logo me



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