Resumo | O autor relata o que tem passado e garante o envio de certas encomendas, transmitindo muitas lembranças a familiares e amigos. Comenta uma série de factos que tem vivenciado naquelas partes do Oriente, como sejam a prostituição, o custo em amealhar dinheiro, a carestia dos bens, as ordens régias que obrigavam à permanência por longos períodos e os salários competentes, as relações adulterinas dos portugueses, o seu desinteresse em manter contacto com as suas mulheres e família em Portugal, entre outros. |
Autor(es) |
Domingos Monteiro
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Destinatário(s) |
Domingos Francisco
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De |
Índia, Diu |
Para |
Portugal, Lisboa |
Contexto | Francisca das Neves entregou uma carta ao Juízo Eclesiástico para por ela se fazer prova da morte do primeiro marido, Domingos Monteiro, ausente na Índia havia quatro anos. A carta fora-lhe dirigida por um tal Francisco Simões, a partir de Goa, e entregue a pedido de uma suposta viúva de um marinheiro da carreira da Índia, natural de Setúbal. Um vizinho de Francisco Simões ‒ Luís Fernandes, mestre da carreira da Índia ‒ declarou mesmo que o vira escrever muitas cartas e reconheceu a sua letra e sinal perante as autoridades do Santo Ofício em Lisboa. Porém, perante o rigor do exame inquisitorial, a ré Francisca das Neves revelou serem afinal testemunhos forjados por Manuel da Costa, para que pudessem casar. Manuel da Costa não só se encarregou de escrever e mandar cartas falsas dirigidas a Francisca das Neves e ao pai de Domingos Monteiro ‒ "e que poria o nome de alguma pessoa" (TSO, IL, Processo 5432, fl. 61r) ‒ como ainda comprou testemunhas para justificar a veracidade destes escritos. A apresentação voluntária de outras duas cartas escritas por Domingos Monteiro a seu pai confirmaram que ele ainda era vivo à data da concretização do segundo matrimónio da ré. |
Suporte
| duas folhas de papel escritas em todas as faces. |
Arquivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Fundo
| Inquisição de Lisboa |
Cota arquivística
| Processo 3230 |
Fólios
| 43r-44v |
Transcrição
| Ana Leitão |
Revisão principal
| Catarina Carvalheiro |
Contextualização
| Ana Leitão |
Modernização
| Raïssa Gillier |
Data da transcrição | 2015 |
Louvado seja o santissimo
sacramento, pa sempre
Snor pai premita nosso sor, que esta ache a Vm com aquela
saude e vida que eu de contino lhe pesso em minhas orasois pois,
abaixo de deos não tenho outrem senão a Vm de quem espero me
venhão, sempre mto boas novas pois tão longe estamos de nos virmos
tão sedo, o anno passado escrevi a Vm por todas as vias e foi com tanta
presa que nos deu o vizorei pa nos tornar a embarquar que não sei
o que escrevi a Vm e fes o vizorei isto pola mta falta de gente que
avia em goa escrevi a Vm que hiamos pa o sul ou pa bombaca
não nos mandou senão pa a Cidade de diu que são de goa a esta
Cidade sem legoas viagem de seis ou sete dias escrevi a Vm
pello, despenseiro, da naveta são felipe em que vim que se cha
mao dominguos duarte que foi cutileiro amiguo de Vm que bem
o conhese Vm e pello seu matalote do mesmo despenseiro domingos
duarte que ambos de dous vão na naveta são felipe que se chama
domingos Jorge aonde por elles mando a Vm huã boseta feita
na india aonde dentro nella vão huãs contas pa Vm da costa da pei
xa molher mto boas estimeas Vm mto e outras de pao daquela tãobem
estimeas Vm mto e hũs aneis de cavalo marinho e hũs pentes pre
mita deos que fosse a salvamto pa que isto fosse entregue a Vm,
e perdoeme Vm pello amor de ds, não lhe mandar algũs calsois
e hũ ou dois fardos d arros mas juro a Vm aos santos evange
lhos que nada disto avia em goa quando cheguamos porque não
herão ainda vindas as cafelas com fazendas a goa porque goa
não tem nada senão ven de fora mas dandome deos vida e saude
eu farei o que devo a deos pa com Vm pois tanto lhe tenho Custado
nesta vida e sei do modo que vm fiquou porque os tempos não hão
de ser sempre hũs novas minhas são deos seja louvado vir mto bem
desposto toda a vigem depois que parti de portugal donde fiquo com
a mesma nesta Cidade de diuu, aonde hei de estar tres annos forsa
dos e os demais soldados e acabado elles me ir pa goa aonde andamos,
correndo a costa de mallevares e de mtas naos de orlandezes nosos inimi
gos emcomendeme a nossa snora da vitoria nos de vitoria contra
elles em todas as batalhas a mim me fizerão alferes de hũ navio
aonde Cada anno destes tres que hei de estar nesta Cidade de diuu
cada anno me hão de pagar trinta e duas pataquas pagas aos quar
teis e nestas partes querse mão fechada e bolsa sarrada
e mais bem lacrada porque quem asim não fizer nestas partes
não tera nunqua com que se possa ir pa portugal porque nestas
partes ha mtas putas que são mais amiguas da bolsa do que
de seu dono e são tais que se ouverem de dar alguã couza algum