Resumo | O autor confessa atos de solicitação, embora afirme que não tem a certeza deles. |
Autor(es) |
Manuel das Onze Mil Virgens
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Destinatário(s) |
Lepe Rodrigues Monteiro
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De |
Portugal, Setúbal, Convento de Brancanes |
Para |
Portugal, Setúbal, São Julião |
Contexto | Este processo diz respeito a frei Manuel das Onze Mil Virgens, cristão-velho de 32 anos de idade, acusado de solicitação. O réu era religioso capucho do Seminário de Brancanes, natural de Espinhal (Coimbra) e morador no Convento de Brancanes em Setúbal. Pediu audiência ao inquisidor João Álvares Soares para confessar as suas culpas, dizendo ter dado beijos no confessionário a uma moça solteira de nome Catarina e ter tido actos lascivos com uma mulher chamada Bernarda de França em sua casa. As cartas incluídas no processo foram escritas pelo réu após ter procurado o prior de São Julião de Setúbal, Lepe Rodrigues Monteiro, e este lhe ter recomendado que dissesse por escrito o que não estava a conseguir dizer-lhe oralmente por estar muito perturbado. O processo encontra-se incompleto. |
Suporte
| meia folha de papel escrita apenas no rosto. |
Arquivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Fundo
| Inquisição de Lisboa |
Cota arquivística
| Processo 589 |
Fólios
| 8r |
Online Facsimile
| http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2300463 |
Transcrição
| Leonor Tavares |
Revisão principal
| Raïssa Gillier |
Contextualização
| Leonor Tavares |
Modernização
| Raïssa Gillier |
Anotação POS
| Raïssa Gillier |
Data da transcrição | 2016 |
J M J
Meu Sor, poderá ser q por justo juizo de
Deus, e castigo do q a Vmce confessei, e ao sto Tribu-
nal em Lxa, experimente tantas afliçoens, com q a conçien-
çia, temeroza me molesta; Deus N Sor as aseite em satisfa-
çao do mto q o tenho offendido.
Por me tirar de duvidas, e socegar o discurso,
confesso a Vmce Como Comissro do sto offo, q eu duvido se
solicitaria aquella mer de q me accuzei a Vmce os dias passa-
dos por letra, e tambem ao sto Tribunal em Lxa pessoalmte,
se a solicitaria, digo, pa hum frade q aqui esteve algum tem-
po neste convto, e hera de certa Ordem, do qual frade ja fis
menção qdo me fui accuzar ao sto offo a Lxa, q fizerão dous
annos por 8bro, ou 9bro passado; este ditto frade sabia das
minhas maldes, e eu delle me fiava, e seria facil q eu alguã,
ou alguãs vezes, disese à da mer: queres falar a fulano, q he
mto teu amigo? ou: fulano (falando do tal frade) hé geneal homem;
ou couzas semelhantes, q podião ser solicitação; ou podia dizer
ao frade; vinde falar a fulana q he mossa amiga; ou: estando
com elle á porta do confissionro, ou dentro delle, e tambem a mer,
diria eu: não vedes como fulana está fermoza; ou: hé mais vo-
ssa amiga do q minha + ou: diria pa a da
mer: tirai o manto
pa q este frade vos
veja: ou couza se
melhante; ainda q
eu confesso q não
me lembra, q eu di-
sese, ou fizese cou-
za alguã a respo
de solicitar a tal
mer pa o tal fra-
de, nem pa outro,
mais q o q de mim ja
tenho confessado. eu protesto q me não lembra q nenhuã
destas couzas fizese; porem como ando vacilando no q me succedeo,
comesei a duvidar nisto; e nesta duvida o confesso a Vmce, e lhe peço
por amor de Deus o reprezente assim aos Illos Sres Inquizidores,
por q se acazo eu delinqui em alguã destas couzas, e me esqueserão,
esteja seguro com estas confissoens, e não venha algum discredito
aos meus Irmãos por amor de mim; e bem se collige q se a mim me
lembrara tudo, e com certeza, tudo disera, e sem duvida, livrava-
me de molestar a Vmce tantas vezes; a quem peço por amor de Deos me
perdoe, porem a aflição, e temor do q me póde succeder, me obri-
ga a isto; o mesmo sor gde a Vmce etca. Convto de N Sra dos Anjos
de Brancanes em 4 de Março de 1724 @
M Rdo Pe Dor e Sor Prior de S Julião
Menor Servo, e mais obrigado de Vmce
Fr Mel das Onze mil Virgens