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Maarten Janssen, 2014-

PSCR0425

1656. Carta de Duarte Dias Ruivo, homem de negócios, para Gonçalo Rodrigues da Cunha, contratador.

ResumoO autor garante ao destinatário que não tem razão para desconfiar de um outro escrito seu e lembra-lhe que está em dívida para com ele.
Autor(es) Duarte Dias Ruivo
Destinatário(s) Gonçalo Rodrigues da Cunha            
De S.l.
Para Portugal, Lisboa
Contexto

Processo relativo a Gonçalo Rodrigues da Cunha, contratador, natural do Fundão e morador em Lisboa, preso pela Inquisição de Lisboa em outubro de 1656 por judaísmo. Após a detenção de alguns seus conhecidos, Gonçalo Rodrigues da Cunha resolvera fugir com a família para escapar à Inquisição fretando uma fragata inglesa que o levasse para França, e, depois, para a Holanda, onde tinham vivido, muitos anos antes, a sua mãe e irmãs. Sabendo que ia sair do país sem pagar as suas dívidas, Gonçalo Rodrigues da Cunha deixara os seus negócios nas mãos de Duarte Dias Ruivo, jovem de 25 anos, que pretendera casar com uma das suas filhas e que se prontificara para receber e pagar as letras de câmbio do réu, bem como para cobrar e receber "efeitos" dele. Uma vez tratados os negócios de Gonçalo Rodrigues da Cunha, Duarte Dias Ruivo pretendia, igualmente, fugir para a Holanda, onde poderia livremente seguir a lei de Moisés. Além do mais, Gonçalo Rodrigues da Cunha combinara com outros seus familiares, os sobrinhos de André Rodrigues Franco, seu primo distante, que pessoas devia escolher como testemunhas e a quem pôr contraditas caso fossem apanhados. A partida atrasou-se várias vezes, primeiro porque as filhas e a mulher do réu ficaram doentes, depois por complicações com o mestre dos navios. Quando finalmente parecia que podiam partir, entre 20 e 21 de outubro de 1656, Gonçalo Rodrigues da Cunha e a sua família foram denunciados por um homem a quem tinham confiado os seus planos, sendo capturados pela Inquisição antes de poderem escapar.

Aquando da prisão de Gonçalo Rodrigues da Cunha, foram encontradas quatro cartas na sua posse. Num interrogatório, o réu confirmou que todas as cartas lhe tinham sido dirigidas e que eram da autoria de Duarte Dias Ruivo, que entretanto fora preso no Limoeiro. Diziam todas respeito à preparação da partida do réu e da sua família, sendo nelas mencionadas as letras de câmbio, os efeitos e os pedidos de crédito, assim como a saúde das filhas de Gonçalo Rodrigues da Cunha, entre outros assuntos. Nos processos de outras pessoas envolvidas no caso, nomeadamente André Rodrigues Franco e Diogo Lopes Franco, seu sobrinho, encontram-se outras cartas deste réu, que também dizem respeito aos seus planos de fuga e que foram trasladadas para o seu processo.

A família do réu escapou da prisão com punições como obrigação de usar hábito penitencial perpétuo, excomunhão e penitências espirituais. Duarte Dias Ruivo também foi preso pela Inquisição, acabando por ser degredado por cinco anos para o Brasil. Já Gonçalo Rodrigues da Cunha foi relaxado à justiça secular em Dezembro de 1658 porque continuou a manter os seus hábitos judaizantes no cárcere.

Suporte meia folha de papel dobrada escrita no rosto do primeiro fólio.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 1304
Fólios 253r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2301193
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcrição Mariana Gomes
Revisão principal Raïssa Gillier
Contextualização Maria Teresa Oliveira
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

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Pezame de q Vm tenha desconfiansaz de meu escrito, coando a tensão delle não Foi maiz que dar a entender a Vm a queixa de pedro Verdejo e so por esta me mostrey com dezejos de q Podendo ser mandase Vm ajustar estas contas pa com ellas nos dezenganasemos todos e veja meu tio seu erro no q Imagina e coando Vm nelles o alcanse, lhe de a sastifasão q sempre Fes. eu me não esqueso de q Vm me tem dado Dro e a meu tio lhe consta asy pois foi pa a sastisfasão de suas letraz e ordem traga Ds os navios em paz em q devem de vir todas as contas pera q se posão ajustar estaz que a entender eu se mostraria Vm com descomfiansaz pa Falar nisto o não Fizera nunca pois sey Bem fomos nos sempre os q devemos a Vm asim fazenda como oBrigasois q he as que maiz temos nos olhos p mereser em seu servo a quem ds gde sala 8 de outo de 1656 @

De Vm Duarte dias Ruivo Sr gco Roiz da Cunha

Legenda:

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