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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1549

1703. Carta de Heitor Furtado [de Rebelo] para Francisco Mendes de Castro, seu parente.

ResumoO autor exprime alívio por a mulher do seu parente estar já de saúde, pede novas sobre os seus netos e dá notícias suas, também sobre uma viagem que vai fazer.
Autor(es) Heitor Furtado de Rebelo
Destinatário(s) Francisco Mendes de Castro            
De Portugal, Viseu, Trevões
Para [Lisboa]
Contexto

O réu deste processo é Álvaro Nicolau Nogueira, homem de negócios morador em Lisboa, preso pela Inquisição por judaísmo, em 1704, juntamente com as suas três irmãs. O seu processo abre com uma longa carta de defesa, entregue à mesa da Inquisição pelo padre João Ribeiro em Agosto de 1704, acompanhada por três folhas com missivas várias que deviam servir para corroborar certas afirmações feitas no ponto 16 da mesma. Segundo esse ponto, os irmãos Jorge Mendes Nobre, advogado, e Diogo Mendes Sola, capitão dos cavalos, também presos pela Inquisição por judaísmo e testemunhas contra o réu, eram inimigos de Álvaro Nicolau Nogueira e do seu cunhado, Francisco Mendes de Castro, também homem de negócios em Lisboa. Os dois irmãos tinham-lhes pedido fiança várias vezes, mas como não pagavam o que deviam, Álvaro Nicolau Nogueira e Francisco Mendes de Castro deixaram de aceitar os seus pedidos, cortando relações com eles. As primeiras quatro cartas inclusas no processo referem-se, diretamente, a esta situação. Na primeira (PSCR1545), Jorge Mendes Nobre queixa-se a um dos acusados, não identificado, de que este não lhe enviara dinheiro. A segunda carta (PSCR1546) contém uma queixa de José Manem, mercador de Lisboa, dirigida a Francisco Mendes de Castro, afirmando que Diogo Mendes Sola lhe devia dinheiro. A carta foi remetida a Diogo Mendes Sola, como comprova o escrito de Francisco Mendes de Castro, na mesma página (PSCR1547), e aquele respondeu no verso da carta de José Manem, confirmando a dívida e tentando justificar-se (PSCR1548). A última carta deste processo foi escrita por Heitor Furtado de Rebelo a Francisco Mendes de Castro (PSCR1549) e serviu para provar que o destinatário era inimigo do capitão dos cavalos, pois, a certo ponto, o autor afirma que lhe enviara uns papéis por intermédio de Diogo Mendes Sola mas que este não os entregara, por estar de relações cortadas com o destinatário.

Suporte uma folha de papel escrita numa das faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 9103
Fólios 20r
Online Facsimile digitarq.arquivos.pt/details?id=2309239
Transcrição Maria Teresa Oliveira
Revisão principal Fernanda Pratas
Contextualização Maria Teresa Oliveira
Modernização Fernanda Pratas
Data da transcrição2016

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Meo amo e sr posso agradeçer à minha deligen-çia o alivio q alcanço na certeza das novas de Vm, pois na falta me obriga andar cor-rendo os amigos pa ver se delles tiro algũa certeza, como foi a Theotonio de Soveral, q nesta caza me deu conta de q Vm lhe dava as suas, e tivera essa sra em perigo, de vida, e mais particulares q Vm comunica mais aos amos q aos parentes; posta de pte esta queixa festejo a melhora da mesma sra assim pello alivio q considero em Vm como pella conveniençia da minha Neta q a sua sombra terá melhor criação e se não consi-derará sem May.

Não escrevi a Vm tempo por me avizar partia em Mayo pa o Alentejo, e por esse respto suspendi tambem a minha jornada e so lhe escrevi por via de Dio Mendes com huns embargos à snca do padrão de quejo não estar Vm entregue, e na verdade me descobre o tempo desenganos pa não fiar de ninguem e o maior acerto he viver cada hum consigo, per não exprimentar menos cor-respondençias, e assi fas Vm como intendido em fugir de semelhantes sugeitos. Como vejo fas Vm a sua jornada, e pa a minha não está o tempo pellas calmas mto favoravel, a rezervo pa outubro em q Vm ja estará recolhido, porq alem de me ver com achaques e annos he o meu dezejo maior o assento do estado da neta, e co-mo mulher ja, o q melhor lhe convem pa a sua conveniençia, a q Vm como pai não de faltar per seu gde zelo.

Estimei as novas q me deu o portador de a ver ja tão criada e ao Neto tão homem, qra Ds conservallos na sua graça, e a Vm darlhe vida pa ter o gosto de os ver como dezejamos: meu filho se offerçe a Vm com o antigo affecto e vontade com o q não faltará em tudo o q Vm o mandar, e ambos ficarmos ao seu servo a qm Ds gde Trevoens Agosto 30 de 703

e capto de Vm Heitor furtado


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