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Maarten Janssen, 2014-
Resumo | Carta escrita pelo abade Gonçalo Ferreira sobre um caso de bigamia. |
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Autor(es) | Gonçalo Ferreira |
Destinatário(s) | Anónimo300 |
De | Portugal, Moncorvo, Chacim |
Para | S.l. |
Contexto | Este processo é de Francisco Pires, tanoeiro, natural de Vila de Botão e morador na cidade de Miranda do Douro, acusado de bigamia. O réu também dava pelo nome de João Fernandes Pobre e seria soldado aquando do uso deste nome. Foi preso a dois de outubro de 1643. Francisco Pires ou João Pobre teria casado com Isabel Luís de vinte anos (nascida em 1623), a quem chamavam "a galharda", que morava em Coimbra na Rua da Padeiras. Casou uma segunda vez com outra mulher, de nome Domingas Pires. Isabel Luís foi interrogada e disse que quinze ou dezasseis anos antes se havia casado com Francisco Pires na Igreja de Santiago. Sabia que o marido estava vivo, mas que se tinha ausentado da cidade de Coimbra quinze anos antes por ter tido culpa na morte de um homem e que naquela cidade o tinham enforcado em palha. Depois deste acontecimento, segundo a Isabel Luís, o marido fora a sua casa, escondido, por várias vezes, mas logo voltava para Lisboa (onde esteve por dois anos). De Lisboa, Francisco Pires teria ido para Bragança e continuava a visitar a mulher, mas depois deixou de a ir ver e não deu notícias durante onze anos. A mulher soube por outras pessoas que tinha ido viver para Castela (Vinto da Arraia) e que tinha lá casado com outra mulher, mulata, filha de um mercador, da qual tinha já dois filhos. O pai do réu também depôs, e disse que era trabalhador, cristão-velho e que não esteve presente no casamento do filho com "a galharda" porque se casaram contra a sua vontade, mas que depois passou a frequentar a casa de ambos. Quando interrogaram o próprio Francisco Pires, este disse que era tanoeiro, mas que no tempo em que foi preso era cardador. Confessou que se tinha casado uma segunda vez com Domingas Pires, cristã velha, natural do Lugar de Sambade, termo da Vila de Alfândega do arcebispado de Braga, tendo-se casado uma primeira vez com Isabel Luís, natural do lugar de Galhardo, junto a Cercosa. Disse que fizeram vida marital por três anos e tiveram uma filha que se chamava Marta, já crescida. Após ter sido culpado da morte de um homem, ausentou-se para Castela e na Vila de Constantina, onde morava Domingas Pires com seu pai António Fernandes, mãe e irmãos, naturais do dito lugar de Sambade, e envolveu-se com ela. Disse que não quis casar por ter a primeira mulher viva, mas prenderam-no na cadeia da vila: se não se casasse, punham-no numa galé, e o réu, com medo, cedeu. Desta vez foi o cura da Igreja Maior de São Pedro da Vila de Constantina, chamado João de Ávila, que os casou. Os padrinhos foram João Fernandes e sua mulher. Depois de casados, estiveram na dita vila por dois anos e depois foram morar para Sambade, onde se tornou soldado. Mudou-se depois, com a segunda mulher, para Miranda. Dela teve dois filhos: um de nome João que tinha na altura mais ou menos sete anos e outro de nome António que devia ter três anos. Depois de confessar tudo isto, o réu disse que estava arrependido e pediu perdão e misericórdia. A sentença: ir ao Auto da Fé na forma costumada e nela fazer abjuração "leve", ser açoitado pelas ruas e praças da cidade e degredo por tempo de quatro anos para as galés onde devia servir ao Reino sem soldo. Ainda teria penitências espirituais e instrução ordinária, tendo que pagar as custas do seu processo. Contudo, após pedido da primeira mulher, o réu foi escuso da sua pena dos açoites e parece não ter cumprido o degredo também. |
Suporte | meia folha não dobrada escrita apenas no rosto. |
Arquivo | Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository | Tribunal do Santo Ofício |
Fundo | Inquisição de Coimbra |
Cota arquivística | Processo 3707 |
Fólios | 14 r |
Transcrição | Leonor Tavares |
Revisão principal | Cristina Albino |
Modernização | Raïssa Gillier |
Anotação POS | Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Data da transcrição | 2009 |
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