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Maarten Janssen, 2014-

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1652. Carta de Luís da Cunha, familiar do Santo Ofício, para o seu tio Estêvão da Cunha, deputado do Santo Ofício.

ResumoO autor escreve ao tio a denunciar um preso que levava na procissão de auto de fé.
Autor(es) Luís da Cunha
Destinatário(s) Estêvão da Cunha            
De Portugal, Lisboa
Para S.l.
Contexto

António Lopes Saavedra, soldado, foi preso em 1652 pela Inquisição, acusado de levar escritos de presos inquisitoriais cosidos na roupa e de revelar segredos do Santo Ofício. Natural de Aldeia Gavinha, termo de Aldeia Galega, e morador em Lisboa, filho de António Lopes Saavedra, juiz dos órfãos, e de Isabel Maria. Antes, em 1648 já tinha sido preso pela Inquisição por sodomia, e por esse crime foi sentenciado a 3 anos de degredo para o Brasil, os quais não cumpriu por não ter embarcado para lá, segundo atestou a Inquisição. E por se saber posteriormente que, ao sair da prisão, teria tentado trazer para fora os papéis do companheiro de cárcere, prenderam-no de novo.

Rodrigo de Aires Brandão, de alcunha O Capitão, estava preso por judaísmo, na mesma cela de António Lopes Saavedra e de Manuel Cordeiro, que foi quem acusou os seus companheiros de cárcere. O Capitão, como viu que António Lopes ia sair da prisão, pediu-lhe que lhe levasse uns escritos a Sebastião Nunes, que era parente da sua mulher. Não seriam escritos para aquele, mas sim dirigidos a outra pessoas. Então, pediu a outro companheiro de cárcere, João Lopes (alfaiate, acusado de judaísmo), que cosesse estes papéis nas palmilhas dos sapatos e pelas ilhargas dos botões abaixo entre o forro e o pano dos calções de António Lopes. As cartas continham informação sobre as privações passadas no cárcere.

Rodrigo de Aires Brandão disse que tinha escrito os papéis para a sua mulher, Leonor Rodrigues, aproveitando o facto de António Lopes Saavedra sair do cárcere, acabando este último por reconhecer o seu papel de mensageiro. Segundo o testemunho do Capitão, o réu tinha sido levado a tormentos e, "por desastre", partiu uma perna, dizendo os médicos que ele estaria para morrer. Por isso o Capitão voltou a guardar os papéis cosidos, para que não fossem encontrados. Mas, depois, foi António Lopes quem os destruiu, rasgando-os para evitar problemas. A Inquisição confirmou o caso, inquirindo todas as pessoas que supostamente receberiam os escritos, e todas disseram que não tiveram conhecimento algum da sua existência.

António Lopes Saavedra, que não morreu, foi condenado a degredo no Brasil por 5 anos, mas enviou um pedido à Inquisição para ir antes para Angola, já que "o Brasil era mais longe". Conseguiu-o. Mas, ao ser encaminhado para o auto de fé, confidenciou a Luís da Cunha, que o acompanhava, pormenores sobre a vida nos cárceres, especialmente sobre o estado do conde de Vila Franca, pelo que foi novamente denunciado (CARDS3103), já que Luís da Cunha era sobrinho de um deputado da instituição. Depois de mais outras cartas acusatórias a pedir, pela parte de um capelão (CARDS3104), que não lhe fosse autorizado o pedido de ir para Angola em vez do Brasil, foi mesmo degredado para o Brasil.

António Lopes Saavedra ausentou-se de Lisboa sem a licença necessária para ir para o degredo, foi para Angola durante seis dias, e daí para o Brasil por mais três meses. Quando voltou, fez vários pedidos para lhe ser comutada a pena de degredo, e isso foi-lhe concedido.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 4005
Fólios 68r
Transcrição Mariana Gomes
Revisão principal Leonor Tavares
Contextualização Mariana Gomes
Modernização Sandra Antunes
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2009

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