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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

[1620-1629]. Cópia de carta de Alonso Carrillo de Albornoz, comediante, sob o nome falso Martim Lopes, para Fernando de Ataíde Vasconcelos.

ResumoO autor reclama de um pagamento de serviço de alfaiate.
Autor(es) Alonso Carrillo de Albornoz, [Martim Lopes]
Destinatário(s) Fernando de Ataíde Vasconcelos            
De S.l.
Para S.l.
Contexto

Os processos 2388 e 4203 da Inquisição de Lisboa estão relacionados, uma vez que os réus a que dizem respeito – António Álvares Cardoso e Alonso Carrillo de Albornoz, respetivamente – foram denunciados pela mesma pessoa, Fernando de Ataíde Vasconcelos, numa acusação que envolvia ainda Mariana de Galindo e António de Cáceres.

Num dia de março de 1617, António Álvares Cardoso, de 51 anos, cristão Velho, sacerdote de missa, natural do lugar de Travanquinha, bispado de Coimbra, morador em Lisboa, junto à praça de Santo André, mandou chamar Fernando de Ataíde Vasconcelos, filho do Conde de Castanheira (embora as linhagens deste título não registem nenhum Fernando), para lhe dizer que estava em Lisboa um mancebo, de seu nome Alonso Carrillo, castelhano, que tinha saído no auto de fé anterior por ter usado um livro chamado “De Clavicula Salomonis”. Disse-lhe ainda que com esse livro se poderia fazer o que se quisesse, incluindo "adquirir as vontades das mulheres como de El Rei e mais ministros seus (fl.7v)". O livro teria sido queimado no auto, mas outro padre, António de Cáceres, teria ficado com um treslado. Posteriormente, a 3 de novembro desse mesmo ano, Fernando de Ataíde Vasconcelos declarou à Inquisição o seguinte: “na Quaresma passada, em março, junto à Semana Santa, o padre António Álvares curava, benzia e usava de ensalmos.” Declarou ainda que, quando visitou a casa do acusado, estava lá também “o padre António de Cáceres, de 33 anos, morador numa atafona acima do arco de São Francisco [também acusado em 1620 pela Inquisição de Lisboa, processo número 2393 do ANTT], bexigoso de rosto, barba pouca e castanha”. O grupo reunia-se sob o nome Pentáculo do Anel das Três Ninfas. Os diversos membros trocavam correspondência entre si e, a partir daquele encontro, escreviam também a Fernando de Ataíde Vasconcelos. Algumas destas cartas foram incluídas em ambos os processos, quer na sua forma original quer em forma copiada.

Assim, o padre António Álvares seria preso a 9 de janeiro de 1618 e, a 20 de dezembro de 1619, sentenciado com suspensão "de suas ordens por tempo de cinco anos e por outros tantos degredado para Angola e que não faça curas em nenhum tempo nem lugar e o livro que lhe foi encontrado seja fechado e os mais papéis e de figuras e [...] sejam queimados e pague as custas." Alonso Carrillo de Albornoz, espanhol, morador em Lisboa, comediante de profissão, que assinava as suas cartas como Martim Lopes, tentando não ser reconhecido, seria também considerado culpado dos crimes de bruxaria e feitiçaria, sendo condenado ao degredo por oito anos para a ilha do Príncipe.

Quanto ao livro "De Clavicula Salomonis", são conhecidos exemplares desde a Antiguidade, passando pelo período Bizantino até ao final da Idade Média. Trata-se de um tipo de compêndio de magia astral e necromância, tendo, para alguns autores, possíveis raízes em tradições judaicas.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita no rosto e verso do primeiro fólio e o sobrescrito no verso do segundo.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 2388
Fólios 77r-77v e 78v
Transcrição Mariana Gomes
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Mariana Gomes
Modernização Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Page 77r > 77v

[1]

Forzado ha ocazião escrevo mais q Por minha

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Vontade que he de não dar desgosto a Vme
[3]
por poder avisar do que passa ainda que
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meus escritos são poucos e chegão as mãos de
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Vmd desfavorecidos dos portadores. Por esta
[6]
sabera Vm como Recebi o dinheiro que
[7]
o Pe Antonio alvarez me deo de fora 20. Cruzados menos seis Vinteins, e fas
[8]
isto so para advertir a Vmd Como este
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dinheiro foi botallo no mar porque ainda
[10]
para Para fazer a espada não ha. e eis
[11]
se se a de fazer o Vistido Justo para a
[12]
e que não saia falto como a outra Vz
[13]
ter Logo. Sacar os Pecados porque isto não
[14]
presta para nada Porem peço a Vm q
[15]
me mande avisar do que se pode fazer
[16]
eu tivera Sirvido pode ser ja a Vm a
[17]
fora porque o Pe Antonio alvarez
[18]
q lho comunicou o Pe Bonito, me foi
[19]
para esperar a Vm mas isto pase,
[20]
estamos em tempos de dilacoins dentro
[21]
Dous dias he mister Pecado pois logo
[22]
mos tanto brinco Novo Curhioso e
[23]
e eu não sou alfaiate Por oficio
[24]
que se me da mas por o que me hei de
[25]
Co a minha tisoura e diligenciar

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