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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1791. Carta de Francisco Henriques, alfaiate, para a sua mulher, Inácia de Jesus.

ResumoUm marido escreve à mulher pedindo que arranje quem interceda por ele e o tire da prisão.
Autor(es) Francisco Henriques
Destinatário(s) Inácia de Jesus            
De Portugal, Lisboa
Para S.l.
Contexto

O réu deste processo agrediu Vital de Medeiros por este último lhe ter tentado tirar a mulher. Vital de Medeiros era trabalhador de estanco (no Jardim do Tabaco) e, segundo o réu, perseguia constantemente Inácia de Jesus, tentando convencê-la a deixar o marido e a voltar para a casa onde fora criada desde pequena: a sua. Na correspondência, estão presentes várias súplicas de Francisco Henriques no sentido de alguém interceder por ele e de o conseguir soltar, sendo sobretudo referidas nesse papel de intercessoras a mulher de Vital de Medeiros, a quem o réu chama "sogra" e "mãe", e a Regente da Roda dos Expostos da Real Casa. Quando escrevia à mulher, o réu fazia cartas autógrafas, mas quando escrevia à sogra, ditava as suas cartas a um escriba de letra mais perfeita. Francisco Henriques acabou por ser condenado a 4 anos de degredo em Castro Marim, apesar de a acusação ter pedido 8 anos na Índia – prática ainda comum e que não deixava de causar grande angústia, já que era muitas vezes uma viagem sem regresso. O procurador que o defendeu, insurgindo-se contra a falta de universalidade da justiça, mostra-nos como os primeiros ecos da Revolução Francesa já se faziam ouvir em Portugal: “Se o miserável do R. não cazasse ou depois annuisse, ou ao menos disfarçasse as seduçoes q. o A. fazia a sua mulher, não veriamos esta tão injusta perseguição, mas tudo acontece a quem é pobre, e honrado, fechando-se lhe até as portas da sua justa defeza…”.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Fundo Feitos Findos, Processos-Crime
Cota arquivística Letra V, Maço 6, Número 32, Caixa 11, Caderno [1]
Fólios 20r
Transcrição Sara de França Sousa
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Miguel Cruz
Modernização Clara Pinto
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2009

Page 20r

[1]

Amada qerida moLher ignasia

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de jazus a notica q eu te poso dar
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he qua esteve o pai no sabado
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não tratou comigo senão q iscres
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vese huma carta para a mi pois
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q não governava so eu logo a man
[7]
di eu não tenho tido mais resposta
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asim mandame resposta em qu eLe
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asentou pois munto presiza saberce
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oie pois istan pasadas as duas audi
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encias eu menos q não saiba o dizano
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não poso istar descancado eu escas
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Senhoras me confeco por munto obrigado
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do favor q me ten feito ispero de rece
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Ber pois si ele me der perdão q a de se
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r nos autos com testemunhas não
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emfado maisdeste teu mrido

[18]
francisco anriques q munto te
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quer i deseja vida

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