Resumo | O autor dá notícias da sua vida familiar no Rio de Janeiro, lamenta a fraca produtividade sacarina e queixa-se da impunidade a que tem assistido por parte das autoridades eclesiásticas face ao marido de uma das sobrinhas. A carta foi escrita por um primo, Tomás Ribeiro. |
Autor(es) |
António Fernandes da Mata
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Destinatário(s) |
Antónia Fernandes
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De |
América, Brasil, Rio de Janeiro |
Para |
S.l. |
Contexto | O réu deste processo era João Vicente de Morais, natural de Punhete, marinheiro da carreira do Brasil. Foi acusado do pecado de bigamia porque ser casado com Isabel Vicente e ter tornado a casar no Brasil com Domingas Barbosa, sendo que a primeira mulher ainda era viva. Foi o tio da primeira mulher, António Fernandes da Mata, autor mental de três cartas aqui transcritas, quem denunciou o caso. O réu foi condenado ao degredo por cinco anos para Mazagão. |
Suporte
| uma folha de papel dobrada escrita apenas no rosto |
Arquivo
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Fundo
| Inquisição de Lisboa |
Cota arquivística
| Processo 2674 |
Fólios
| 13r, 14v |
Transcrição
| Ana Rita Guilherme |
Revisão principal
| Rita Marquilhas |
Contextualização
| Ana Rita Guilherme |
Modernização
| Liliana Romão Teles |
Anotação POS
| Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Data da transcrição | 2008 |
[1] |
Jhũs Maria
Minha irmã E sobrinhos
Como a Nao do lima faltou, E foi a Parnãobuco me faltarão cartas suas, nẽ
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[2] | o q as devia levar tratou de mas mandar dela como vierão
outras por correo
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[3] | E como nella devião escrever, o não fizerão nesta frota, q sinti pello mto
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[4] | que dezejo novas suas, Delhe Deos a saude E vida, q essas orfans hão mister
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[5] | q suposto tronco velho sempre fara sua obrigassão como may, a quẽ mando
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minhas saudozas lembranças E a mas sobrinhas o mesmo E sua irmã E sobri
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[7] | nhos juntamte E todos nos encommendamos en suas orassõis.
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Eu passo cö meus custumados achaques, mas lembrasse Deos de mĩ em
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[9] | me aviventar cõ tantos, pa ser tambẽ emparo de mas obrigassõis q
duas filhas
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[10] | Cazei agora tenho outras duas a minha conta E a de Deos primeiramte q são
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[11] | a cazada como q se o não fora E sua fa
minha neta molher feita E hũ menino
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[12] | de que seu pai tão pouco ou nada se lembra nẽ eu tenho esperanças de vir e se Deos
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[13] | o levara la onde esta me fizera grde mce
são tudo favores do ceo pa meu bem
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[14] | que os q nesta Vida tem perfeitos gostos serto he não averem de ter duas glorias
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[15] | sendo este mundo Vale de lagrimas.
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Não deixei de fazer mas diligencias cõ o Vigario geral, q não ouve ate
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[17] | gora Perlado pa esse bom genro de Vm ser prezo E obrigareno
a q fosse fazer Vi
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[18] | da cõ sua primra molher, mas as justissas deste brazill são de Compadres, E o inte
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[19] | resse fas atabafar tudo. E indo o mesmo Vigario geral a vizitar
essas partes
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[20] | donde elle esta Cazado, não fes por isso nada, E me disse lhe escapara auzentã
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[21] | dosse tudo falso. nesta frota veo Perlado, q parece mais zeloso se se lhe não
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[22] | pegar a tinha do interesse espero na Nao do lima novas cartas de Vms E justi
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[23] | ficassão, E veremos o q nisto podemos fazer. q bem nos parecemos na boa
Ven
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[24] | tura cõ filhas q homẽ cria cõ tantos trabalhos, pa tais gostos.
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[25] | Sintidissimo fico não poder mandar nestes navios hũa lembranssa
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[26] | de amor, he a cauza q
neste anno não tive assuquere q pudesse embarcar por
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[27] | ser a novidade ruim, E alguã que deu pessimo q mais avião de ser os gastos do
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[28] | q elle valiria, assĩ
q o vendi aqui a hũ snor de navio q como elles não pagão fretes
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[29] | por os levarẽ en nao sua lhe tẽ outra conta q não ao dono do assuquar, E ainda o
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[30] |
dinhro q por elle me derão, he a pagar daqui a sseis mezes depois da partida. Vira
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[31] | a nao do lima q he peçoa serta E nella mandarei, o q puder
que ate gora fui
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[32] | dezempenhandome de gastos de minhas doensas E algũs negros q comprei fi
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[33] | ados que sẽ elles não ha viver nesta terra. E assi escreverei mais largo, E ao
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[34] | nosso Padre tambẽ todos lhes mandamos infinitas saudades de amor, E lhes
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[35] | pedimos nos encomende a Virgẽ dos martires, E a sto Anto, q tambẽ de ca fare
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[36] | mos o mesmo a Cujas peçoas gde nosso snor E lhes de bons sucessos en todas suas
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[37] | couzas. Amen.
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de seu irmão d alma
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[39] |
Anto frz da matta
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