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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1617. Carta de António Álvares Cardoso, padre, para João Álvares Brandão, inquisidor de causas ocultas.

ResumoO autor pede desculpa por ter faltado a uma sessão de denúncia, salientando que estava doente.
Autor(es) António Álvares Cardoso
Destinatário(s) João Álvares Brandão            
De Portugal, Lisboa
Para S.l.
Contexto

Os processos 2388 e 4203 da Inquisição de Lisboa estão relacionados, uma vez que os réus a que dizem respeito – António Álvares Cardoso e Alonso Carrillo de Albornoz, respetivamente – foram denunciados pela mesma pessoa, Fernando de Ataíde Vasconcelos, numa acusação que envolvia ainda Mariana de Galindo e António de Cáceres.

Num dia de março de 1617, António Álvares Cardoso, de 51 anos, cristão Velho, sacerdote de missa, natural do lugar de Travanquinha, bispado de Coimbra, morador em Lisboa, junto à praça de Santo André, mandou chamar Fernando de Ataíde Vasconcelos, filho do Conde de Castanheira (embora as linhagens deste título não registem nenhum Fernando), para lhe dizer que estava em Lisboa um mancebo, de seu nome Alonso Carrillo, castelhano, que tinha saído no auto de fé anterior por ter usado um livro chamado “De Clavicula Salomonis”. Disse-lhe ainda que com esse livro se poderia fazer o que se quisesse, incluindo "adquirir as vontades das mulheres como de El Rei e mais ministros seus (fl.7v)". O livro teria sido queimado no auto, mas outro padre, António de Cáceres, teria ficado com um treslado.

Posteriormente, a 3 de novembro desse mesmo ano, Fernando de Ataíde Vasconcelos declarou à Inquisição o seguinte: “na Quaresma passada, em março, junto à Semana Santa, o padre António Álvares curava, benzia e usava de ensalmos.” Declarou ainda que, quando visitou a casa do acusado, estava lá também “o padre António de Cáceres, de 33 anos, morador numa atafona acima do arco de São Francisco [também acusado em 1620 pela Inquisição de Lisboa, processo número 2393 do ANTT], bexigoso de rosto, barba pouca e castanha”. O grupo reunia-se sob o nome Pentáculo do Anel das Três Ninfas. Os diversos membros trocavam correspondência entre si e, a partir daquele encontro, escreviam também a Fernando de Ataíde Vasconcelos. Algumas destas cartas foram incluídas em ambos os processos, quer na sua forma original quer em forma copiada. Assim, o padre António Álvares seria preso a 9 de janeiro de 1618 e, a 20 de dezembro de 1619, sentenciado com suspensão "de suas ordens por tempo de cinco anos e por outros tantos degredado para Angola e que não faça curas em nenhum tempo nem lugar e o livro que lhe foi encontrado seja fechado e os mais papéis e de figuras e [...] sejam queimados e pague as custas."

Alonso Carrillo de Albornoz, espanhol, morador em Lisboa, comediante de profissão, que assinava as suas cartas como Martim Lopes, tentando não ser reconhecido, seria também considerado culpado dos crimes de bruxaria e feitiçaria, sendo condenado ao degredo por oito anos para a ilha do Príncipe. Quanto ao livro "De Clavicula Salomonis", são conhecidos exemplares desde a Antiguidade, passando pelo período Bizantino até ao final da Idade Média. Trata-se de um tipo de compêndio de magia astral e necromancia, tendo, para alguns autores, possíveis raízes em tradições judaicas.

Suporte meia folha de papel não dobrada.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 2388
Fólios 63r-v
Transcrição Mariana Gomes
Contextualização Mariana Gomes
Modernização Sandra Antunes
Anotação POS Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2008

Page 63r > 63v

[1]

Com mta Rezão se pode vm queixar de o não buscar

[2]
mtas vezes, mas como nas horas em q eu o podia fa-
[3]
zer tendo saude vm era ocupado, o deixei de fa-
[4]
zer, Agora desd o natal pa não tive dia de
[5]
saude, e passa de cinco meses q não fui fora desta
[6]
casa mais q hũa vez q me foi forçado, e vim com
[7]
mais de vinte empollas mores q camarinhas q todas
[8]
vierão a furo e de novo me empossebelitarão
[9]
pa me poder calçar, pello q tenho çertas cousas to
[10]
cantes ao sancto offiçio, com mto largas tas e mto
[11]
mor prova, e tambem tocão a vm pello q me vai mto
[12]
mais em as tratar ainda q he com mto Risco de mi
[13]
nha vida sabendosse por qualquer via q for por
[14]
quanto se fiou esse negocio de estando eu na ca-
[15]
ma, e não foi possivel hir eu fora como açima
[16]
Digo pellas sobredittas Rezõis, e porq tambem
[17]
alem de vm toca a çerto inquisidor q eu não creio,
[18]
mas fazendosse Deligençia as tas falarão, mas o in
[19]
quisidor procurava proveito e honrra, e a vm pro
[20]
curavão lhe morte, dizendo mais mtas deshonrras
[21]
contra vm, a q eu acodi como tenho obrigação fazer
[22]
sempre pellas cousas de vm ainda q eu saiba ser assi
[23]
o q disserã, quanto mais sendo a mor mintira que se
[24]
podia invẽtar

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