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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1715. Carta de Manuel Marques da Silva, criado, para o seu primo, Manuel da Cruz, cozinheiro.

ResumoO autor diz ao primo que chegou bem e dá notícias da família, dizendo que é preciso dar parte ao Santo Ofício de um negócio.
Autor(es) Manuel Marques da Silva
Destinatário(s) Manuel da Cruz            
De Portugal, Viseu, Cepões
Para Portugal, Lisboa
Contexto

Este processo diz respeito a Manuel Gomes Rodrigues, acusado de bigamia por ter casado com Antónia Josefa (filha de Caetano da Silva e de Maria da Encarnação), com quem esteve casado apenas alguns meses, estando viva a sua primeira mulher, Maria Gomes.

Manuel Gomes Rodrigues viveu com a sua primeira mulher durante três anos e tiveram três filhos, dos quais apenas sobreviveu uma menina. Depois de cometer o crime de incesto com uma comadre sua chamada Luísa, o réu envolveu-se em algumas brigas e, em consequência disso, ausentou-se para Moimenta da Beira e, depois, para Lisboa, onde terá conseguido a certidão de banhos para o segundo casamento através de um estudante chamado Crispim da Fonseca (filho de um contratador de bois), que tinha ordens menores e a falsificou com a ajuda de Domingos Fernandes (o qual serviu de testemunha), que, por 720 réis, tratou de arranjar maneira de Manuel Gomes Rodrigues ser visto como solteiro.

Depois que se soube que a primeira mulher ainda estava viva, o réu tentou matá-la envenenando o pote de água que ela havia de beber, tendo dado testemunho disso o abade João Rodrigues Leitão, vizinho da mesma. Consta do processo que a dita mulher terá pressentido que a água estava envenenada e que não a bebeu. Descobrindo depois que as suas suspeitas eram verdadeiras, Manuel Gomes Rodrigues ainda a agrediu, batendo-lhe com um pau na cabeça e nos braços. Ouvindo os gritos da mulher, muita gente a foi acudir. Ele terá ainda tentado afogá-la, deixando-a quase morta.

Manuel Gomes Rodrigues foi denunciado à Inquisição por Manuel da Cruz (criado de cozinha de Francisco de Melo, "O Vacas"), o qual ouviu dizer ao criado do abade João Rodrigues Leitão, chamado Manuel Marques da Silva (seu primo), recém-chegado à cidade, que o réu já era casado. Sabendo que este se tinha casado há pouco tempo (cerca de um mês) com outra mulher, resolveu denunciá-lo. Manuel Marques da Silva terá tentado avisar o réu de que o segundo casamento poderia levá-lo à prisão e, quando se ia embora da cidade, escreveu uma carta (PSCR0541), na qual menciona o facto de a primeira mulher do réu estar viva.

As cartas inclusas no processo foram entregues à Inquisição por João Rodrigues Leitão, o qual, através das mesmas, provou que Manuel Gomes e Manuel Rodrigues eram a mesma pessoa, ou seja, o réu, ainda que ele usasse um nome diferente em cada cidade.

Em auto-da-fé de 16/02/1716, o réu foi condenado a abjuração de leve, açoitamento público, degredo por cinco anos para as galés, penitências espirituais e pagamento de custas.

Suporte >meia folha de papel não dobrada, escrita apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 4956
Fólios 9r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2304958
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Catarina Carvalheiro
Data da transcrição2015

Page 9r

[1]

Meu Primo e sor a esta terra

[2]
chegey com bom sucesso seja Deos
[3]
louvado pa sempre, estimarei
[4]
emfenito q esta acherra a VM
[5]
com aquella saude q o seo corac
[6]
ção lhe dezeja, da minha se -
[7]
sirva VM q fiqua pronta
[8]
a sua ordem

[9]

Meu Primo do coração

[10]
logo asim que cheguei fui sa-
[11]
ber de nossa Prima se hera a
[12]
ainda viva e asim he ainda
[13]
viva e bem disposta e toda a mais
[14]
gente com boa saude Deos lo-
[15]
uvado e asim he nesessario
[16]
loguo loguo sem mais dila
[17]
cam dar parte a emquicam
[18]
ou VM ou este sor Rdo Pe a
[19]
quem o sobreescripto desta vay
[20]
e quando não Va VM falar
[21]
com o sor Dor Promotor Anto Rib
[22]
ro
[23]
Ribro de Abreo, q elle manda ca loguo fazer a deli
[24]
gencia, e espero logo logo reposta de tudo o q susse
[25]
der de novo sobre este negocio, ao sor Rdo Pe Mel de So-
[26]
uza me dara VM minhas Lcas q ca fis tudo o q
[27]
me mandou o sor Anto de Matos e sua sobrinha se reco-
[28]
mendavam a VM com mtas saudozas Lcas e não
[29]
ha nesta terra mais novidades Deos gde a VM
[30]
ms ans oJe sepons dezembro 20 de 1715 as
[31]
Deste seo Primo de VM q mto lhe quer e dezeja

[32]
Manoel Marques da Sylva

Mandeme VM dizer por letra o nome dese fidalgo com

[33]
quem VM esta porq me esqueseo o nome

[34]

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