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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1729. Carta não autógrafa de Úrsula de Santa Córdula para o seu marido, João Rodrigues ou Fernandes, lavrador de mandioca.

ResumoA autora reclama por o marido não dar notícias nem responder às suas cartas.
Autor(es) Úrsula de Santa Córdula
Destinatário(s) João Rodrigues ou Fernandes            
De Açores, Ilha Terceira, Angra do Heroísmo
Para América, Brasil, Rio de Janeiro
Contexto

Este processo diz respeito a João Rodrigues ou João Fernandes, cristão-velho de 37 anos, antes pescador e depois lavrador de mandioca, acusado de bigamia. Filho de Manuel Correia (serralheiro) e de Domingas da Conceição, o réu era natural da cidade de Angra do Heroísmo, ilha Terceira, Açores e morador em Nossa Senhora da Piedade de Magé, Recôncavo, bispado do Rio de Janeiro, Brasil. Casou-se uma primeira vez com Úrsula de Santa Córdula, filha de Manuel de Oliveira (trabalhador do campo) e de Maria da Trindade, tornou a casar no Brasil com Luísa da Conceição, filha do vigário Baltazar de Oliveira e de Maria Leal Coelho, sendo ainda viva a primeira mulher. O réu não teve filhos de nenhuma das duas mulheres, embora tenha feito vida marital por tempo de dois anos com a primeira e de 8 meses com a segunda. No seu depoimento, João Rodrigues disse que só casou pela segunda vez pela ambição do dote que o pai da sua segunda mulher, Luísa da Conceição, de 18 anos de idade, lhe prometeu. O réu teria ido para o Brasil para aumentar a sua fortuna com o negócio do cabedal e, se Baltazar de Oliveira, seu sogro, o não tivesse convencido com o dote da filha, nunca teria caído ‘em tal precipício’. Também confessou ter mudado de nome para João Rodrigues para se poder casar pela segunda vez. A carta escrita por Frei Manuel de Jesus Maria (PSCR0552) encontra-se no processo para comprovar que o réu mudou de nome. Denunciado pelo sogro, João Rodrigues foi preso a 7 de Abril de 1733 e condenado em auto-da-fé de 20 de setembro do mesmo ano a abjuração de leve suspeito na fé, açoutado publicamente, degredo de cinco anos para as galés, instruído na fé católica, penas e penitências espirituais.

Suporte meia folha de papel dobrada, escrita nas três primeiras faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 8041
Fólios 25r-v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2308142
Socio-Historical Keywords Raïssa Gillier
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Raïssa Gillier
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

Page 25r > 25v

[1]
Meu Marido e sr

são tantas as vezes que vos tenho

[2]
escrito que me cauza pejo pedir
[3]
a quem me escreve faça por tantas
[4]
e repetidas occaziões porem nam
[5]
quero que em nunhũ tempo vos
[6]
queixeis da falta do meu cuidado
[7]
e amor, estimando mais que tudo
[8]
logreis saude porque nella consiste
[9]
todo o meu Remedio, e amparo
[10]
e da minha podeis dispor ainda que
[11]
pouco boa porque alem de doenssas
[12]
que tenho tido, as mas e res pennas que
[13]
me acompanhão a falta da
[14]
vossa vista, como tambem o não
[15]
teres o cuido de me escrever duas
[16]
regras, isto escrevendo todos os que
[17]
nessas terras se achão as suas mulheres
[18]
e parentes, eu não tenho a fortuna
[19]
de ver duas regras vossas sendo o que
[20]
com mais ançia as dezejava, em-
[21]
fim seja Deus mto louvado que
[22]
me deu hum marido, tão descuidado
[23]
que nem siquer do que tão pouco
[24]
custa que sam duas regras me fas partetipante
[25]
e assim vos rogo pello amor de Deus, e pello mto
[26]
que sempre vos quis vos não descuideis de mim
[27]
ao menos com letras vossas pois couza que
[28]
vos não custa dro como tambem vos recomendo
[29]
vos vinhais pa minha compa porque ainda que ve
[30]
nhais mto pobre eu gainharey a pedra de hum
[31]
Rio pa nos sustentarmos ambos, e olhay não façais
[32]
pouco cazo do que vos digo que he levado do mto
[33]
amor e disvello com que sempre vos amey, mas
[34]
o que eu entendo, he que vos deveis estar nessas
[35]
terras com algũ devertimto que vos fas esqueçer
[36]
dos meus amores, emfim seja o que for, eu
[37]
sempre hei de ser amte e o que vos digo que se
[38]
algum dia me suçeder algum trabalho, tomo
[39]
a Deus por testemunha pa me queixar de vos, isto
[40]
baste pa que vos possa reduzir ao que deveis fazer
[41]
como marido, e se não quizeres Deus vos aju-
[42]
de, e a mim não desampare, minha Mai, e Pai
[43]
e Irmãs, parentes, e conheçidos vos invião muntas
[44]
saudades, e da ua pte vos pedem o mesmo que
[45]
assima deixo, e por não ser mais longa fico ro-

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