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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1602. Carta privada de Gastão de Abrunhosa a Nicolau Agostinho, secretário do Santo Ofício em Évora.

ResumoO autor diz ao seu amigo e secretário do Santo Ofício que vai a Roma procurar justiça para a sua família, falsamente acusada e presa pela Inquisição, e critica a atuação do Santo Ofício.
Autor(es) Gastão de Abrunhosa
Destinatário(s) Nicolau Agostinho            
De Espanha, Saragoça
Para Portugal, Évora
Contexto

Alexandre de Abrunhosa (TSO-IL, Processo 16992) e o seu primo Gastão de Abrunhosa (TSO-IL, Processo 13174), tal como outros membros da família de ambos, foram acusados de judaísmo em 1602. Alexandre de Abrunhosa, a sua irmã, Isabel de Abrunhosa, e a sua prima, Ana de Abrunhosa, viviam em Lisboa, na freguesia dos Mártires, onde se haviam refugiado para fugir à vaga de prisões feitas pela Inquisição em Serpa. Mesmo assim, foram presos em 1602. Seriam libertados em 1605, graças a um perdão concedido pelo papa, muito por causa das diligências que Gastão de Abrunhosa promoveu em Roma.

Gastão de Abrunhosa fugiu para Espanha em 1602, no seguimento da prisão dos seus primos. Nas cartas que de lá enviou a Nicolau Agostinho (PSCR1317 e PSCR1318), fica patente a sua intenção de se deslocar a Roma em busca de justiça.

A 29 de Julho de 1602, à tarde, Nicolau Agostinho, secretário da Inquisição, encontrou em sua casa um maço com duas cartas de Gastão de Abrunhosa que lhe eram dirigidas e porque, depois de as ler, lhe parecerem conter coisas contra o Santo Ofício, entregou-as à Inquisição, aconselhado por Bartolomeu Fernandes, secretário do conselho geral. As cartas tinham-lhe sido entregues por um menino que não conhecia, e Nicolau Augostinho suspeitou que teriam vindo por via de uma Isabel de Mendonça, ama de Gastão de Abrunhosa, de quem Nicolau Agostinho era amigo, tratando-se como parentes, assim como de sua mãe, Inês Mendes Leitoa. Depois de confirmada a autoria das cartas, estas foram acrescentadas ao processo de Gastão de Abrunhosa, acabado de abrir, no seguimento da prisão de seus primos Alexandre, Isabel e Ana de Abrunhosa, em maio desse ano, assunto do qual Gastão de Abrunhosa se queixa nestas cartas. No verso do último fólio desta carta, Nicolau Agostinho declara por escrito que a letra e a assinatura dela são de Gastão de Abrunhosa.

Bibliografia:

Marcocci, Giuseppe, “A Inquisição portuguesa sob acusação: o protesto internacional de Gastão de Abrunhosa”, Cadernos de Estudos Sefarditas, n.º 7, 2007, pp. 31-81.

Suporte uma folha de papel escrita nas duas faces e outra escrita apenas na primeira com sobrescrito no verso.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 16992
Fólios 5r-6v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2316995
Transcrição Maria Teresa Oliveira
Revisão principal Fernanda Pratas
Contextualização Maria Teresa Oliveira
Modernização Fernanda Pratas
Data da transcrição2016

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como me fiqua o pensamto em vm e nelle tenho posto

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todas as esperansas do remedio desas tristes reliquias
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que ca ficão não quero perder ocazião que se ofe
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resa aqui en saragosa dixe o portador hia a Lxa
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mando a minha ama que mande esta a vm

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Eu tenho sangue de vm e este naturalmte parese

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que obrigua a ter sempre atensão e dezejo nelle sendo
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asim he forsado darlhe conta de meus intentos.
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ja lhe escrevi como hia a me desenganar se em
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tre cristaos avia justisa, verdade, e temor de ds
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e isto confuzamte por ser en terra cativa onde quẽ
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fala verdade ten pena ora lhe quero declarar
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que eu vou a roma onde esta o papa vigairo
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geral de xpo salvador do mundo na terra a lhe
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pedir justisa sen ninhũa mizericordia
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e não tanto por bem dos cristaos como por hom
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rra e gloria do mesmo ds que acuda a tama
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nha perseguisão de sua igreja e dos fieis
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cristaos e pa isto sobretudo an de ser sitados e
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chamados os inquizidores de portugual con os
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quais me quero ver en juizo porque se as fal

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