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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1578. Carta de Álvaro Correia, criado, para o licenciado Clemente Félix, .

ResumoO autor ameaça de represálias o destinatário e os seus aliados caso lhe não entreguem a mulher que ama.
Autor(es) Álvaro Correia
Destinatário(s) Clemente Félix            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Lisboa
Contexto

Em novembro de 1619, foi encontrado um conjunto de papéis nos bolsos de Álvaro Correia, criado de Manuel Fernandes Tinoco, durante a revista que lhe foi feita aquando da sua detenção na cadeia do Limoeiro. Manuel Fernandes Tinoco tinha ido informar-se dos factos relativos à prisão do seu criado e, na presença de um escrivão, verificou o conteúdo dos escritos. No seu entender, um destes papéis (veja-se fólio 495r) lesava seriamente a sua honra e a da sua família, registando o texto judicial o seu desapontamento para com o criado, que considerou como um «traidor». Os restantes papéis seriam letras, supostamente falsificadas por Álvaro Correia, que obrigavam diversas pessoas a pagamentos. Também se regista que desde a detenção até à abertura dos papéis, estes ficaram guardados e fechados com uma fita, o que serviu para garantir a sua integridade e valor processual. O caso seguiu depois para a Mesa do Santo Ofício, mas não deu origem a processo inquisitorial.

As cartas aqui transcritas, na sua maioria dirigidas ao licenciado Clemente Félix, parecem estar relacionadas com o processo civil movido ao criado. Estão feitas em registo ameaçador por parte de Álvaro Correia. Numa delas, dirigida ao padre Manuel Malho, fica patente o arrependimento do autor e a sua vontade de seguir para o degredo.

Dentro do fundo do Tribunal do Santo Ofício existem as coleções de Cadernos do Promotor das inquisições de Lisboa, Évora e Coimbra. O seu âmbito é principalmente o da recolha de acusações de heresia. A partir de tais acusações, o promotor do Santo Ofício decidia proceder ou não a mais diligências, no sentido de mover processos a alguns dos acusados. Denúncias, confissões, cartas de comissários e familiares e instrução de processos são algumas das tipologias documentais que se podem encontrar nestes Cadernos. Quanto ao crime nefando e à solicitação, são culpas que não estão normalmente referidas nestes livros.

Suporte uma folha de papel dobrada, escrita nas três primeiras faces e com o sobrescrito na última.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Livro 207, 6º Caderno do Promotor
Fólios 491r-492v
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2318032
Transcrição Tiago Machado de Castro
Revisão principal Rita Marquilhas
Contextualização Tiago Machado de Castro
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Raïssa Gillier
Data da transcrição2017

Page 491r > 491v

[1]
Snor Ldo Clemte Felix
[2]

Muito me peza de que Vm tomaça o neguosio da sra

[3]
lianor mendes tanto a peito pera contra mim que
[4]
se fora comtra outrem era bem feito mas contra mim
[5]
alhe a Vm de pezar mto pois Vm sabe q eramos mto
[6]
amiguos e que tinha Vm obriguasão e não se ouvera
[7]
de mostrar tão furiozo porq estou muito azedo e
[8]
e ei de espirrar e bem ja que dizem q eu que vendera
[9]
a Bento frz banqual de seda mte quẽ o dis mas
[10]
emfim diguão mais que eu direi tãobem mas se
[11]
eu o ouvira por xpo que com pestolete avia
[12]
de responder que fasso votto soleni ao santisimo
[13]
sacramto de lhe dar tanto em que cuidar a Vsms
[14]
todos quoanto se vera q eu estive em caza e sei
[15]
muita couza y eu venho aguora porque manda
[16]
rão saber a minha terra se andava eu lla por iso
[17]
vim que quero estar ca mais pertto e mais que he
[18]
aguora tempo de virem as naos da india que tenho mta cou
[19]
za que fazer com ellas que ja que eu furtei seda al
[20]
guẽ furta tãobem bizallos de diamantes e outras
[21]
couzas mtas que vem em comfiança i eu serei parte
[22]
niso q tudo sei e as vias se abrirão na fazda d el Rei
[23]
menistros seus que pois eu queria como quero a sra
[24]
lianor mendes sem nada e asim a tomarei e

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