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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1623. Carta de Jorge Cabral, padre, para Ana Pinta Pereira, freira.

ResumoO autor tranquiliza a destinatária em relação ao juízo da sua inocência.
Autor(es) Jorge Cabral
Destinatário(s) Ana Pinta Pereira            
De Portugal, Lisboa
Para Portugal, Coimbra, Mosteiro de Santa Ana
Contexto

Este processo diz respeito à freira Ana Pinta Pereira, professa no Mosteiro de Santa Ana de Coimbra e secretária no dito mosteiro, de 35 anos de idade, um quarto de cristã-nova, acusada de judaísmo. Natural e moradora em Coimbra, a ré era filha de João Pinto Pereira, cónego da Sé de Coimbra e de Filipa de Freitas. Consta do processo que a mãe da ré era casada com Francisco Vieira, escrivão da correição de Coimbra e a ré era tia e irmã por parte de pai de Mariana de Jesus, freira professa natural de Viseu, moradora em Coimbra no Mosteiro de Santa Ana, filha de João Pinto Pereira e de Catarina Francisca. Em sua defesa a ré disse ter sido acusada injustamente pelas outras freiras do convento por estas lhe terem ódio e serem suas inimigos. Relatando alguns episódios que envolviam as denunciantes a ré diz ter havido uma luta entre um irmão seu e o de uma das denunciantes e também que numa disputa entre duas freiras sobre a posse de um objecto a ré tirou partido de uma, devolvendo-lhe o objecto que julgava pertencer-lhe o que fez com que a outra lhe tomasse ódio e a denunciasse. A carta inclusa no processo serve de prova em como a ré tendo sido visitada oito meses antes pelo padre Jorge Cabral, o qual lhe prometeu que seria perdoada em segredo e ficaria livre da prisão se confessasse, jurou que era inocente e estava disposta a manter-se firme e convicta da sua inocência quanto à acusação de judaísmo, mesmo que para isso tivesse que sofrer as consequência e pagar por um crime que não tinha cometido. Serve também para reforçar o pedido da ré de que chamassem o padre Jorge Cabral para lhe servir de testemunha abonatória, uma vez que ele mesmo podia contar o sucedido. Presa a 15 de junho de 1623, a ré terá sido encarcerada apenas um ano depois (a 5 de junho de 1624) e viria a falecer no mesmo a 17 agosto de 1629, por doença prolongada.

Suporte meia folha de papel não dobrada escrita apenas no rosto.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Fundo Inquisição de Lisboa
Cota arquivística Processo 2487
Fólios 98r
Online Facsimile http://digitarq.arquivos.pt/details?id=2302410
Transcrição Leonor Tavares
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Raïssa Gillier
Anotação POS Raïssa Gillier
Data da transcrição2016

Page 98r

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Pax Christi

Cada dia escrevèra a VM se as ocupaçoens

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me derem lugar. depois da ultima q escrevi
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a VM, recebi duas suas por mão do
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sor chançarel mor q nisto como no mais
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he mais pontual. VM esteja
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certissima, q nẽ momto me des-
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cuido, nem descuidarei no q tenho p-
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metido, a VM nẽ ate gora ha
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fundamto pera VM temer q Ds per-
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mita q linguas infernais cheguem
[11]
a empecer a boas servas, specialmte onde
[12]
as rezoens por parte da verdade se cõ-
[13]
sideram e pezã tanto zuizo E cõside
[14]
raçam. porem sempre ha sumo cõselho taes
[15]
negocios recorrer cõtinuamte a ds, de quẽ
[16]
devemos, esperar todo bẽ, E se por vẽtura alguẽ ouves
[17]
se q pretendese ẽcõtrar a innocẽcia, cedo
[18]
avera occasiã pa se desdizer, por via do pe
[19]
spiritual, tal gẽte tratar. gde
[20]
Ds a VM e lhe de mtas cõsolacoes d alma

[21]
lixa 17 de junho de 623
[22]
Jorge Cabral

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