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Maarten Janssen, 2014-

Linhas do facsímile

1735. Carta não-autógrafa de Joana para o seu irmão, António José Cogominho, fiscal da Intendência das Minas de Sabará.

ResumoA autora, viúva e mãe de 12 filhos, queixa-se ao irmão das suas dívidas e pede-lhe ajuda.
Autor(es) Joana
Destinatário(s) António José Cogominho            
De Portugal, Lisboa
Para América, Brasil, Minas Gerais, Belo Horizonte
Contexto

António José Cogominho, cristão-novo, de 49 anos, fiscal da Intendência das Minas de Sabará, Brasil, filho de Manuel Pereira Rebelo, escrivão eclesiástico de Évora, e de Maria Nunes Gato, era casado com Joana Micaela de Sande Tórrosa e foi acusado de bigamia por ter casado pela segunda vez com Eufrásia Maria dos Prazeres, sendo ainda viva a primeira mulher. O réu foi preso a 26/01/1742 e condenado a penitências espirituais a 29/08/1743.

Joana Micaela de Sande Tórrosa, a primeira mulher do réu, era filha de António Gomes de Sousa e de Maria da Encarnação Xavier de Sande. Natural da freguesia da Santa Justa e moradora na de Santa Catarina de Monte Sinay, ter-se-ia queixado do marido na Mesa da Inqusição por ter descoberto que ele se tinha voltado a casar em terras brasileiras. Segundo ela, era casada com o réu tendo por testemunhas António da Cunha (Juiz dos Órfãos da Repartição dos Bairros da Sé e de Alfama) e José Pereira Rebelo (seu irmão), ambos já falecidos à data do depoimento. Os dois viveram juntos dois anos após o casamento e foi então que o réu decidiu ir trabalhar para o Brasil. Por intermédio de Manuel de Sousa Ferreira, soube que o marido se tinha casado uma segunda vez, pois este o ouvira dizer a outro homem que também tinha estado no Brasil. Ficou ainda com mais certeza quando, ao encontrar Antónia Pinheiro, esta lhe dissera que um compadre seu chamado António Lopes, que tinha sido escrivão na Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, lhe dissera que o réu lá tinha casado. Segundo a depoente, Francisco Alves, Manuel Amado Sanchez, escrivão eclesiástico (autor da carta PS2502), e um seu sobrinho, Manuel José Amado, podiam atestar o primeiro casamento.

Um vizinho do réu na Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, Brasil, testemunhou também, dizendo que este procurara saber da mulher e, achando que esta estava morta, fizera até luto por ela. Mais tarde, casara-se uma segunda vez na condição de viúvo, tendo inclusivamente a sogra e o cunhado Isidoro, que eram de Minas, ido a Sabará, ficando aí alojados na casa do noivo nos dias anteriores ao casamento.

No seu depoimento, o réu contou que, quando tinha cerca de 23 anos, se casou pela primeira vez e que não teve filhos com essa mulher. Estiveram casados alguns meses (segundo ele) e depois saiu de casa, indo para a Vila de Ponte de Cima, onde serviu de guarda de costa durante algum tempo. Mais tarde embarcou para o Brasil, onde foi escrivão da Casa de Fundição e só posteriormente passou a fiscal da Intendência. Esteve lá durante 18 anos sem saber de sua primeira mulher, até que recebeu as três cartas vindas de Portugal (PS2501, PS2502 e PS2503), as quais apresentou no momento de comprovar a morte dela. O réu disse ainda que chegou a perder 100 mil réis que Sua Majestade dava aos oficiais casados, por conta de se achar viúvo, e que andara de luto até que, em casa de José Lopes Rainho, seu companheiro na Casa da Moeda, conheceu a irmã da mulher dele e estes o incentivaram a casar. Em 1739, o réu perdeu a caução no valor de quarenta réis por não ter apresentado o certificado da morte da primeira mulher, o que lhe tinha sido pedido dois anos antes, para se poder casar pela segunda vez.

Esteve casado 5 anos com a segunda mulher, tendo uma filha de nome Gertrudes, que faleceu. Assim que, numa carta que lhe mostrou o Doutor Inácio Peres, foi informado pelo seu compadre Pedro António Silva de que a primeira mulher estava viva, deixou a segunda e resolveu ir para o Rio de Janeiro, com o fim de embarcar para Portugal e apresentar as suas culpas, mostrando a sua boa-fé.

Suporte três meias folhas de papel, escritas em todas as faces.
Arquivo Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Inquisição de Lisboa
Fundo Processos
Cota arquivística Processo 131, 1.º caderno
Fólios 5r-7r
Socio-Historical Keywords Maria Teresa Oliveira
Transcrição Leonor Tavares
Revisão principal Catarina Carvalheiro
Contextualização Leonor Tavares
Modernização Raïssa Gillier
Data da transcrição2015

Page 5r > 5v

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J M J

Meu Irmão e querido do meu Corasão este não

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sabe espilcar o quanto estimey as suas novas pois
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quando o sor Belxior do Rego me mandou as suas car
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tas pois não tive outras de vm pois lhe não sey em
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careser a comsolasão que teve esta alma pois des
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pois que deos levou quem deos tem tem sido a unica
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pois em mim ja não pode aver alegria nem
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gostos nesta vida; agora estimarei meu irmão
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que vm pesue huma saude mto felis como
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eu lhe dezejo pa meu emparo e de toda esta
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sua caza; eu meu Irmão despois q dias levo
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quem deos tem me tem dado huma tal teje e
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dor no peito que estou deitando sengue pe
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lla boca q na noute q deos o levou deitei tan
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to e dahir me não tem deichado senão em
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quanto estou com Remedios q ja me falta
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o animo e vay por hum anno q ando tomando
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leites de Burras q não tive mais Remedio q
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compar huma e comendo carne atualmte
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e asim o não fizeram ja os meos filhos não ti
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nhão mais, mas agora de porximo me vejo bem
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doente q não sei se verei mais novas de vm
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nos seja o q deos quizer e se lembre deste fi
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lhos porq eu ja não estou capas de nada asim
[25]
meu Irmão se vm me vise avia de dizer q não
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hera eu e asim lhe digo q tambem não sei
[27]
se me atrirão alguns feitisos porq como des

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