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Maarten Janssen, 2014-

PSCR1256

1614. Carta de Bárbara Pimentel de Leão para Fernão Rodrigues, cura de Santa Justa.

Autor(es)

Bárbara Pimentel de Leão      

Destinatário(s)

Fernão Rodrigues                        

Resumo

A autora, que no envelope endereça a carta a um João Gonçalves, pasteleiro, para ocultar o verdadeiro destinatário, relata uma viagem que fez a Paris e denuncia vários portugueses que se encontram em Ruão e se converteram ao judaísmo, pedindo ao destinatário que lhe envie precatórios para os mandar prender.

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A joão gomsalves pasteleiro a porta nova em lisboa [fig1] Jhesus em Ruão 16 de dezembro 1614 Senhor Fernão rodriguez

em 8 deste resebi a de VM de 18 de outubro, que muito estimei, asim por saber da boa saude de VM, como pelas esperansas que me em me dizer que muito sedo me mandara dizer cousa de que eu leve muito gosto, por ser de muita onrra, e proveito de VM, e asim me parese muito tempo daqui a que venha o outro correo, pelo dezejo com que fico de saber tem VM cousa que o meresa, que afirmo a VM sera de estimada igoalmente como se fora para , porque não tenho em menos as cousas de VM, e o que lhe dezejo que posto que ate gora o não tenho mostrado por obras deos he testemunha desta verdade. o correo pasado escrevi a VM, como ficava de caminho para paris, onde fui, e ha outo dias que vim, e em paris fui muito bem resebida e me agazalhei em caza de monsior de marilhar, onde resebi muitas onrras e merces de sua molher, e depois de descamsar dous dias, fui com ela falar a rainha da qual fui resebida com muitas onrras e merces, e porque ela ja agora não governa que governa o rei a tres meses, lhe fui tambem falar e em todos açhei muitas mostras, e dezejos de me fazerem muitas merces, e tratouse largamente do soseso para que fui çhamada, do qual avizarei a VM tamto que se puzer em ordem fazerse que a detemsa que agora ha, he os muitos negosios de paris como he custume aver quamdo os reis compesão a governar mas espero em noso senhor de muito sedo me ver vimgada de todos os purtuguezes desta terra para que emtão se saiba bem claramente quem sou eu e quem eles são que eles falão de boca e eu faso por obras. rainha manefestei as obriguasois que tenho a VM e as que ela tinha de me fazer merces pois por servila

[fig2] me tinha posto em muito risco, e que não queria ao prezente outras, mais que esta que pedia para VM, ela me respondeo que estimara muito querer VM cousa em seu reino que eu vira o que ela fazia, mas que ela escreveria de maneira que obrigase a sua santidade a lhe fazer o que eu pedia e me tomou com a sua mão a memoria de VM que eu levava feita em franses. monsior de marilhar me dise que a rainha escreveria muito bem e que sem falta iria neste correo delhe deos o soseso que eu dezejo tambem vizitei aquela senhora e estive em sua caza hum dia todo inteiro e seu marido esta inda muito doemte de gota que se não pode erguer duma cama, e por ese respeito, e pelas guerras que inda não estão de todo quietas sobr esta sua ida ate a primavera em bora delhe deos saude para que se efeitue esta ida que tamto dezejo. os purtuguezes falão, e eu como digo faso de obras e muito sedo se vera deos querendo, digo isto pelo que VM me dis na sua que lhe dise hum moso pardo que fora desta terra averia hum mes, iso são ditos de purtuguezes que pela boa vomtade que me tem buscão que falar, ao que respondo que monsior de marilhar he cazado, com hũa bela senhora italiana sobrinha da rainha e dahi se çhama seu sobrinho. estimara eu muito mereser ser sua criada pelo que comforme a isto pode VM emtemder quamta verdade lhe falarão. dis me VM que muito sedo espera de me mandar dinheiro de graviel ribeiro, pelo amor de deos peso a VM fasa niso como lhe mereso, e como quem o fas a hũa orfã, e desemparada, em terras alheas, e prometa VM a ese homẽ e tudo o que bem lhe pareser que o que VM fizer averei por bem feito, e lembro a VM que mister ter muito semtido em graviel ribeiro porque o dia[fig3] que tiver dinheiro não a de amanheser em lisboa, e se a de ir para o geto de veneza onde esta seu filho, e não lhe paresa a VM que são isto palavras porque abaixo lhe direi cousas por onde me crea. tambem se VM tiver ordem com jolião de gois, e lhe pormeterem dinheiro ele he amigo de o aver, e como quem sabe dese ofisio com muito mais deligemsia fara arecadar e para isto não ha mister mais que algum amigo que lhe fale, e sei serto que a VM lhe não faltarão para nenhũa cousa. quamto as pedras bazares, pelo navio que daqui partio escrevi a VM, que não se açhamdo grandes como lhas pedia me mandase quatro onsas das pequenas, por serto tenho averme feito merce niso, e no mais, que lhe pedi e que tudo me venha bem sedo com o favor de deos, no mesmo navio, estimo muito a lembransa que VM teve das marmeladas porque tambem me falou nelas a molher de monsior de marilhar, e eu lhe dise que as esperava e asim partirei com ela das que VM me fizer merce mandar não tenho por cousa nova o que VM me aviza de luis vas, ser fogido, desa terra, que seu cunhado daria ordem a iso para que se tornase a vir fazer como ele, e tambem pode ser que lhe não faltase o favor de graviel ribeiro, e eitor mendes, porque custumados são a darem semelhante favor, e ajuda, eu ate gora dele não soube outras novas mais que as que VM me mandou, permita deos por sua mezericordia que onde quer que esteja lhe abra os olhos d alma, e lhe de grasa e emtemdimento com que não torne a perseverar nos pecados em que hũa ves ja cahio, pois por estas partes não ha outra cousa senão uzarem desas maldades, e ainda se não comtemtão com iso e com as fazerem em framsa e frandes escomdidamente, senão que como qua tem muito[fig4] dinheiro ganhado o vam lograr a sua vomtade demtro no gueto de veneza, como agora o fizerão as pesoas que abaixo nomearei. VM sabera que este mes pasado, veio de olamda a esta terra por ser caminho direito, hum irmão de antonio samçhes, que se çhama lopo sançhes, que he hum que se embarasou nesa terra com hũa fidalgua, o qual cazou avera hum ano em olamda com hũa purtugueza e não se comtemtou com viver la como vevia senão que com sua molher e hũa cunhada solteira veio por aqui e se foi a meter no geto de veneza a ser judeo descuberto, e andar com fato comprido e bonet amarelo, e nesa terra andava a cavalo e com dous criados e paresialhe que hera melhor que todos. Andre faleiro, que VM la conheseria muito bem que he cunhado de luis rodriguez de paiva, e cazado com hũa irmã de duarte gomes, se foi de frandes com dous cunhados seus e suas molheres e filhos a meter tambem no gueto de veneza e andão ja pubricamente com bonetes amarelos Antonio faleiro irmão do dito andre faleiro, e genrro de felipe denis que mora nesa terra, se foi tambem para veneza, e inda não esta metido no gueto porque espera que desa terra venha seu sogro felipe denis, com seus dous gemros, filhas e filho, para todos se meterem juntos, e se vem á mão este felipe denis e seus gemrros farão petisão a el rei e pedirão lisemsa para se virem e dirão que vem a frandes a cazar algum paremte o porão outro sogeito e eles vem para o que asima digo. fora hũa obra de muita mezericordia que nesa terra se lhe estrovara [fig5] esta vimda para que não viesem a perder suas almas. seja deos louvado que lhe da fazemda e bẽis para uzarem tamtas maldades comtra sua fee. afirmo a VM que me fazem estas cousas ficar pasmada de ver a pouqua vergonha com que qua se fazem estes, e VM emtemda como lhe digo que graviel ribeiro como tiver dinheiro a de fazer o mesmo e que por iso he nesesario terse muito temto nele e fazelo prender pela semtemsa que esta em poder de francisco d estrada escrivão dos corregedores do sivel. muito estimei as boas novas que VM me da desa terra queira noso senhor que sempre VM de bem em melhor. as que poso dar a VM desta terra, sam bem deferentes porque tudo val a pezo d ouro, e agora perese a gemte porque este rei abaixa toda a moeda, e não ha aver comprar nada porque não esta inda averiguado a como an de valer, e emquamto se ordena nimguem quer tomar dinheiro e he lastima ver o que vai a tudo deos acuda como pode e guarde a VM e lhe de muito boas festas melhoradas com boas emtradas de anos e tudo seja como lhe dezejo. depois de ter esta escrito, me mandou çhamar hum prezidemte amigo meu desta terra, e me pedio muito escrevese a VM que por serviso de deos, e de sua fee, quizese VM dar ordem com que na emquesisão se lhe dese hũa sertidão por que cõstase as culpas por que se prendem nesa terra as pesoas por judias, e isto por rezão que os portuguezes desta vila dizem, que o guardarem eles qua os sabados e jejuarem as segundas feiras e comerem pães asmos e outras velhacarias[fig6] que fazem, o fazem por ser custume de lisboa, e com isto se defendem, e tapão as bocas a todos, e para que o rei emtemda que he tudo mentira, e que eles o não fazem senão por serem judeos, para iso estimara muito vir esta sertidão, porque com ela os castigarão a todos, como meresem porque a gemte desta terra, não quer comsemtir que aja judeos nela, e se comsemtem a estes he como digo por dizerem se governão ao modo da sua terra, que como souberem pela sertidão que peso, ser mentira, os castigarão de maneira com que outros não tenham atrevimento de fogirem de lisboa para se virem qua. tambem nesta terra esta hum homẽ que VM sera lembrado fogio da emquesição, hũa véspora de sam joão por hum buraco que fes, o qual se çhama qua miguel de oliveira, e comtamdo eu este cazo a este senhor prezidemte me dise, que se da emquesisão mandasem hum precatorio que ele o prenderia logo, e o mandaria em hum navio prezo a esa sidade, VM por serviso de deos e de sua fee mostre estes dous capitolos ao senhor prior e o senhor simão lopes, e paresendolhe bem isto que peso, mo mandem porque logo o farei embarcar e se ele, se çhamava la outro nome que não seja miguel de oliveira, dira no precatorio que he hum homẽ que em lisboa se çhamava fulano, e que agora tem por emformasão se çhama qua miguel d oliveira e çhamandose la este mesmo nome, bem pode vir direito, e por forsa ha de estar o seu nome na emquesisão de quamdo o prenderão. e vindo este precatorio dira ao senhor primeiro prizidemte e mais senhores prizidemtes, [fig7] e as mais justisas da corrte de ruão, e asim o precatorio como a sertidão que peso vira justificada por joão vel e luis godim e não por nenhũm purtugues e fasa VM isto como quem he pois he em serviso de noso senhor que se me ele der vida eu farei que nenhum judeu aja em fransa.

[fig8] Barbara pimentel de leão

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