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Os processos 2388 e 4203 da Inquisição de Lisboa estão relacionados, uma vez que os réus a que dizem respeito – António Álvares Cardoso e Alonso Carrillo de Albornoz, respetivamente – foram denunciados pela mesma pessoa, Fernando de Ataíde Vasconcelos, numa acusação que envolvia ainda Mariana de Galindo e António de Cáceres.
Num dia de março de 1617, António Álvares Cardoso, de 51 anos, cristão Velho, sacerdote de missa, natural do lugar de Travanquinha, bispado de Coimbra, morador em Lisboa, junto à praça de Santo André, mandou chamar Fernando de Ataíde Vasconcelos, filho do Conde de Castanheira (embora as linhagens deste título não registem nenhum Fernando), para lhe dizer que estava em Lisboa um mancebo, de seu nome Alonso Carrillo, castelhano, que tinha saído no auto de fé anterior por ter usado um livro chamado “De Clavicula Salomonis”. Disse-lhe ainda que com esse livro se poderia fazer o que se quisesse, incluindo "adquirir as vontades das mulheres como de El Rei e mais ministros seus (fl.7v)". O livro teria sido queimado no auto, mas outro padre, António de Cáceres, teria ficado com um treslado.
Posteriormente, a 3 de novembro desse mesmo ano, Fernando de Ataíde Vasconcelos declarou à Inquisição o seguinte: “na Quaresma passada, em março, junto à Semana Santa, o padre António Álvares curava, benzia e usava de ensalmos.” Declarou ainda que, quando visitou a casa do acusado, estava lá também “o padre António de Cáceres, de 33 anos, morador numa atafona acima do arco de São Francisco [também acusado em 1620 pela Inquisição de Lisboa, processo número 2393 do ANTT], bexigoso de rosto, barba pouca e castanha”. O grupo reunia-se sob o nome Pentáculo do Anel das Três Ninfas. Os diversos membros trocavam correspondência entre si e, a partir daquele encontro, escreviam também a Fernando de Ataíde Vasconcelos. Algumas destas cartas foram incluídas em ambos os processos, quer na sua forma original quer em forma copiada. Assim, o padre António Álvares seria preso a 9 de janeiro de 1618 e, a 20 de dezembro de 1619, sentenciado com suspensão "de suas ordens por tempo de cinco anos e por outros tantos degredado para Angola e que não faça curas em nenhum tempo nem lugar e o livro que lhe foi encontrado seja fechado e os mais papéis e de figuras e [...] sejam queimados e pague as custas."
Alonso Carrillo de Albornoz, espanhol, morador em Lisboa, comediante de profissão, que assinava as suas cartas como Martim Lopes, tentando não ser reconhecido, seria também considerado culpado dos crimes de bruxaria e feitiçaria, sendo condenado ao degredo por oito anos para a ilha do Príncipe. Quanto ao livro "De Clavicula Salomonis", são conhecidos exemplares desde a Antiguidade, passando pelo período Bizantino até ao final da Idade Média. Trata-se de um tipo de compêndio de magia astral e necromancia, tendo, para alguns autores, possíveis raízes em tradições judaicas.
Private letter, dictated, from António Álvares Cardoso, priest, to Fernando de Ataíde Vasconcelos.
The author shows his alarm because of the lack of news of a third party, referred to as Cunha.
The files 2388 and 4203 of the Lisbon Inquisition are related, since their defendants ‒ Antonio Álvares Cardoso and Alonso Carrillo de Albornoz, respectively ‒ were denounced by the same person, Fernando de Ataíde Vasconcelos, an accusation that also involved Mariana Galindo and António de Cáceres. They were among the various members of a group that was said to practice witchcraft, and exchanged correspondence with each other. Fernando de Ataíde Vasconcelos was invited to one of their meetings, in March 1617. Since then, some of the letters were also sent to him, being later included in the files as criminal evidence against the people he denounced. Father António Álvares Cardoso was arrested in 1618. Alonso Carrillo de Albornoz, Spanish, resident in Lisbon and a professional comedian, who signed his letters as Martim Lopes, was also found guilty of witchcraft and sentenced to exile for eight years to the island of Príncipe.
«I'm not sure what could be the reason for Cunha not coming back here, because he came right after you left and he said he had the money. I told him that you said to leave it here and to go and appropriate the houses for three months and, in case they refused to give them to you, to appropriate them for six months. He went, appropriated the houses he was supposed to appropriate here, and he sent the keys through Cáceres. He didn't come back, nor did he leave any money, I don't know if he took it to the Castillian. I've had no news from you, and I don't know what to do. If you have ordered anything else, let me know, or see what I can do. On 4 of June, 617. Your captive, António Álvares Cardoso»
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