Summary | O autor dá conta ao seu irmão de que a irmã havia sido presa pelo Santo Ofício. |
Author(s) |
Luís Nunes
|
Addressee(s) |
António Machado
|
From |
Portugal, Miranda, Mogadouro |
To |
España, Jaén |
Context | Quatro cartas foram apreendidas no espólio de Francisco Fernandes, cristão-novo, morador e estudante em Bragança, preso pelos oficiais da alfândega de Bemposta, no Douro, quando este tentava atravessar para Castela na companhia da sua irmã, Ventura Fernandes, e da sua cunhada, Ana Pereira. Viajavam com uma mula e com grande quantidade de haveres pessoais, tal como indica um rol incluso no processo, o que despertou a curiosidade dos oficiais. Ao saberem que eram oriundos de Bragança, onde recentemente o Santo Ofício tinha realizado diversas detenções por judaísmo, tentaram deter Francisco Fernandes, que se pôs em fuga. Foi detido já perto do barco que fazia a travessia do Douro, enquanto ambas as mulheres, que já se encontravam na margem espanhola, retrocederam e se entregaram de livre vontade. Das perguntas feitas pelo corregedor de Miranda, apurou-se que os pais de Francisco e Ventura Fernandes tinham sido levados de Bragança para a Inquisição de Coimbra, onde teriam falecido. O mesmo tinha sucedido ao seu irmão Luís Cardoso, marido de Ana Pereira. Tanto as cartas como os depoimentos dos dois irmãos mostram que tinham a intenção de seguir para Coimbra, mas, chegando a Mogadouro, para onde Ana Pereira havia sido degredada por um ano pelo juiz do fisco de Bragança, esta convenceu-os a rumar a Fermoselhe, em Castela, de onde era natural e onde tinha família. O corregedor de Miranda, por considerar que o caso era do interesse do Santo Ofício, mandou-os presos para Coimbra. A parte processual lá composta inclui diversos treslados dos casos dos seus pais. Também se sabe que Francisco Fernandes foi posto a tormento. O acórdão deu-o como culpado de judaísmo, com dispensa de excomunhão por ter confessado, e confisco dos seus bens. |
Support
| uma folha escrita em ambas as faces. |
Archival Institution
| Arquivo Nacional da Torre do Tombo |
Repository
| Tribunal do Santo Ofício |
Collection
| Inquisição de Coimbra |
Archival Reference
| Processo 463 |
Folios
| [18]r-[18]v |
Socio-Historical Keywords
| Tiago Machado de Castro |
Transcription
| Tiago Machado de de Castro |
Standardization
| Catarina Carvalheiro |
POS annotation
| Clara Pinto, Catarina Carvalheiro |
Transcription date | 2013 |
[1] | sabera Vm do trabalho que nos qua aconteceu
|
---|
[2] | a dẽs louvores, que sayo noso Irmão dyo glz e mãdou
|
---|
[3] | chamar a sua molher por hũa quarta e ela foy
|
---|
[4] | e no quamynho a prenderõ quys o dẽs obrar
|
---|
[5] | ela de sua pyadade que foy eu por ela a coỹbra
|
---|
[6] | logo
ela e la me fey nosso sõr merce que fyz hũa
|
---|
[7] | pityção a mesa em como se ela yva apresentar
|
---|
[8] | e a mãdarõ yr outra vez solta e agora esta la cõ seu
|
---|
[9] | marydo apresemtada querera o sõr que venhão
|
---|
[10] | muyto asinha ãbos de dois e eu tambem asy me
|
---|
[11] | nela apresentey paemte a mesa do sãto ofycyo que não
|
---|
[12] | pudei nos fazer por amor do lyvramto de minha Ir
|
---|
[13] | ma e com estes emfadamtos não pude compryr cõ
|
---|
[14] | pas ne com defeyto pa eu yr la a esa cydade
|
---|
[15] | aos oyto dias d agostos say eu que yva la pa esa
|
---|
[16] | cydada com os grãdes desejos que tynha de ver
|
---|
[17] | vosa pa com mynha Irma lyanor nunẽz e ca em
|
---|
[18] | o azo topey esperãca frz que vynha desa cydade de
|
---|
[19] | coymbra de se apresemtar e mos requereo que não
|
---|
[20] | saisymos da tera pa nhenhua parte senão que
|
---|
[21] | nos fosemos apresemtar que ese era o bom cõselho
|
---|
[22] | e vynha tambem frco frz e sua yrma vemtura frz em
|
---|
[23] | nosa companha e não se o ofreçeo a luys nunẽz porque
|
---|
[24] | ja tynhamos nosas quavalgaduras e frete feyto pa
|
---|
[25] | noso gasto e eu ja qom todos estes emfadamtos por
|
---|
[26] | ouvyr que não estava no presemte qoando veo mos
|
---|
[27] |
nos mynha yrma que nos mãdava chamar
|
---|
[28] | e eu asy me yva tambem e sy me dyso que Vm
|
---|
[29] | avya mãdado dar qua a gaspar pra dez myll res
|
---|
[30] | os quays eu lhos dey e Vm nos mãde a myme
|
---|
[31] | e a sua yrma lyanor nunẽz a sua bemção porque
|
---|
[32] | quada dia que o sol amanhece nos ofrecemos nela
|
---|