O autor pede conselho ao destinatário sobre o procedimento que teve com uma sua confessada que garantia ter feito pacto com o demónio.
[1] | eu imediatamte fui tambem, e com a honestide q me foi possivel, fazendo por não ver senão a pte
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[2] | q era preciso lhe tirei os Dos cabelos, q tinha ainda na mão pa queimar em tendo occazião de
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[3] | q traga estas ceremonias. Despois disto feito me disse q tambem hos cabelos do sovaco esquerdo
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[4] | tinha feito pacto, pa q assim como fossem crecendo, crecesse a affeição della a certa pessoa, a qual
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[5] | via mtas vezes; e sentia gdes tentações, por ter ja os cabelos mui crecidos, e q ja hu confessor (q eu
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[6] | tenho em boa conta) lhos cortara duas vezes, rompendo a camisa, o q bastava pa isso, naquella pte como
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[7] | eu fis tambem. tudo isto foi então sem o menor escrupulo do pecco, com os olhos no bem espiritu-
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[8] | al daquella mer, e fiado em Ds de q sendo por este fim não sentiria estimulo algu, como as-
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[9] | sim foi, e sem embbo de q a tal mer era moça, e mimoza, pareceme q lhe tocava na carne,
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[10] | como em hua pedra, em ambas estas diligas gastariamos hu quarto de hora, porq o demo por
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[11] | sua industria, ou ella por sua malicia mostrava algua renitencia, q com duas palavrinhas de
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[12] | exorcismos se acomodava logo; e athe ella ou por si ou plo demo se me fes privada dos sentidos es-
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[13] | tando eu na diliga do 2o peito. o q suposto depois de feito isto comecei a cuidar se fizera ou
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[14] | não algua parvoice; emqto ao fazer da obra, e antes de feita não me ocorreo inconveniente nem
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[15] | circunstancia por onde deixasse de me ser licita; e he certo q se eu me persuadira tinha naquillo
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[16] | algu perigo provavel de peccar, não havia de por mãos á obra porq nesse cazo pro estava eu q
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[17] | ella; porem não me pareceo então couza illicita, nem de tal me accuso, nem accusei na confissão;
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[18] | comtudo ponderando agora q ha couzas q não sendo em si pecco grave, por se executarem no acto da con-
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[19] | fissão o são, ou podem ser gravissimo, não sei se essas accõis q refiro, por serem principiadas in actu
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[20] | confessionis simulato, e continuadas em caza quasi imedite post confessionem, tem por isto
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[21] | algua malicia, ou irrevera contra o sacramto, se nisto cometi algua culpa, della peço perdão
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[22] | a esse sto tribunal, e fico prompto pa receber o casto ou penitencia q me der; de culpa q nas das
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[23] | accõis cometesse contra o sexto mandamto não me accuso, nem sinto de q me accusar; e se soubera
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[24] | ou advertira q cometia algua culpa contra a revera do sacramto pareceme q não executara o sobredo
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[25] | e como por aqui anda o demo fazer gdes males, e dános contra o seu credito; não sei se será isto obra delle pa
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[26] | me meter em algua, e q despois me dé em q entender metendo algua couza na cabeça á tal mer porq
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[27] | o demo ainda falla com ella cada dia e cada hora. Não me lembou perguntarlhe se as pessoas
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[28] | daquelles pactos q abjurou estão ja denunciadas, ou ainda q o estejão se ha naquelle pacto círcúns
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[29] | tancias, de q se deva dar conta a esse tribunal; porem eu ainda hey de fallar com o sogeito, e en-
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[30] | tão averiguarei isso, e se ouver de q se denuncie se dará conta. estas benzedeiras ainda conti-
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[31] | nuao, e por aqui curão nesta forma, como se pa isso estiverão aprovadas. Também há mtas stas não
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[32] | sei se são fingidas; hua me veio aos pés q vé e falla com nossa Sra a cada passo e lhe revela
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[33] | mtas couzas, a vida não indica a sanctide q ella confessa de boca; outra me disse q trazia o coração
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[34] | atravessado com hua setta, e q todas as curas q contemplava qualquer couza o sentia abrazar em
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[35] | modo q o não podia sofrer, e q este fogo lhe passa pa fora porq na pte esterior tem hua inflamação mui
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[36] | gde e chagas e ja teve mais, e dellas se curou, esta plo q ella dis tem melhor vida; porem eu nada
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[37] | disto creio, e tomara saber isto por modo q de lá se pudera examinar. Recebi a carta de Vmce e meu
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[38] | compo outra escriptas em 25 do passado; e das q eu lhe tenho escripto suponho q todas lhe tem hido á mão excepto
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[39] | hua q lhe escrevi da Lixa e não plo corro de Lxa como Vmce parece q entendeo esta escrevi e foi de cá em
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[40] | principio de 9bro. o corro passado não lhe escrevi. não cabe mais, veja o sobescripto dessa Ds gde
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[41] | a Vmce
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[42] | Pombeiro 8 de Dezembro de 722
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[43] | mto amo e S d Vmce
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[44] | Fr Antonio das chagas
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[45] | Desta confraria não ha couza q mande dizer senão q hua pessoa destas q comigo se confessou, e de
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[46] | q faço menção na carta dezeja fallar com Marianna de Simõis q he a abelhinha mestra desta
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[47] | gente, e ella lhe tem mandado dizer mtas vezes q tem q fallar e proximamte lhe mandou dizer
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[48] | q se visse em vespera de S Andre, ou no dia em Margaride, aonde nos então estavamos. porem como
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[49] | choveo não veio, e a tal pessoa lhe quer fallar pa q se confesse comigo e se descubra mas, porq entende
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[50] | e eu tambem q suposto ja se accusasse a esse tribunal, não seria do dizimo do q tem feito e só será
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[51] | do q lhe disserão a accusavão, porq o mais ou lhe não lembrará, plo pacto do esquecimto ou o não que-
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[52] | rerá dizer. nesta he q está a chave de todo o jogo, e esta he q pode descubrir tudo a fundamentis
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[53] | porem a tal pessoa não quer falarlhe sem vir hua reposta de hu seu confessor q se mandou
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[54] | ja pedir pa vermos se vem em q isso seja conveniente; eu sabendo q nella estava hiso
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[55] | o ponto ja fis mto pa acolher aos pés, e ella creio entende q eu sei algua couza, fallou comigo de pas
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[56] | sagem, porem por cartas nos comuniquemos. e tudo era dizerme q por letra lhe manifestasse nego
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[57] | e a de dentro deste sobescripto befica, porem mandava as cartas por assinar, e com mta velha
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[58] | caria, asi por ulto me disse q se fosse a guimes daria tracas a cahir, e se confessaria comigo, porq
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[59] | cá não podia ser, eu lhe disse q q afrontassemos dia e não me respondeo
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[60] | mais; veremos se esta q esta armada obra algu effo
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