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Maarten Janssen, 2014-

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1722. Carta de frei António das Chagas para António Ribeiro de Abreu, Inquisidor de Coimbra.

Author(s)

António das Chagas      

Addressee(s)

António Ribeiro de Abreu                        

Summary

O autor pede conselho ao destinatário sobre o procedimento que teve com uma sua confessada que garantia ter feito pacto com o demónio.
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[1]
eu imediatamte fui tambem, e com a honestide q me foi possivel, fazendo por não ver senão a pte
[2]
q era preciso lhe tirei os Dos cabelos, q tinha ainda na mão pa queimar em tendo occazião de
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q traga estas ceremonias. Despois disto feito me disse q tambem hos cabelos do sovaco esquerdo
[4]
tinha feito pacto, pa q assim como fossem crecendo, crecesse a affeição della a certa pessoa, a qual
[5]
via mtas vezes; e sentia gdes tentações, por ter ja os cabelos mui crecidos, e q ja hu confessor (q eu
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tenho em boa conta) lhos cortara duas vezes, rompendo a camisa, o q bastava pa isso, naquella pte como
[7]
eu fis tambem. tudo isto foi então sem o menor escrupulo do pecco, com os olhos no bem espiritu-
[8]
al daquella mer, e fiado em Ds de q sendo por este fim não sentiria estimulo algu, como as-
[9]
sim foi, e sem embbo de q a tal mer era moça, e mimoza, pareceme q lhe tocava na carne,
[10]
como em hua pedra, em ambas estas diligas gastariamos hu quarto de hora, porq o demo por
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sua industria, ou ella por sua malicia mostrava algua renitencia, q com duas palavrinhas de
[12]
exorcismos se acomodava logo; e athe ella ou por si ou plo demo se me fes privada dos sentidos es-
[13]
tando eu na diliga do 2o peito. o q suposto depois de feito isto comecei a cuidar se fizera ou
[14]
não algua parvoice; emqto ao fazer da obra, e antes de feita não me ocorreo inconveniente nem
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circunstancia por onde deixasse de me ser licita; e he certo q se eu me persuadira tinha naquillo
[16]
algu perigo provavel de peccar, não havia de por mãos á obra porq nesse cazo pro estava eu q
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ella; porem não me pareceo então couza illicita, nem de tal me accuso, nem accusei na confissão;
[18]
comtudo ponderando agora q ha couzas q não sendo em si pecco grave, por se executarem no acto da con-
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fissão o são, ou podem ser gravissimo, não sei se essas accõis q refiro, por serem principiadas in actu
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confessionis simulato, e continuadas em caza quasi imedite post confessionem, tem por isto
[21]
algua malicia, ou irrevera contra o sacramto, se nisto cometi algua culpa, della peço perdão
[22]
a esse sto tribunal, e fico prompto pa receber o casto ou penitencia q me der; de culpa q nas das
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accõis cometesse contra o sexto mandamto não me accuso, nem sinto de q me accusar; e se soubera
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ou advertira q cometia algua culpa contra a revera do sacramto pareceme q não executara o sobredo
[25]
e como por aqui anda o demo fazer gdes males, e dános contra o seu credito; não sei se será isto obra delle pa
[26]
me meter em algua, e q despois me em q entender metendo algua couza na cabeça á tal mer porq
[27]
o demo ainda falla com ella cada dia e cada hora. Não me lembou perguntarlhe se as pessoas
[28]
daquelles pactos q abjurou estão ja denunciadas, ou ainda q o estejão se ha naquelle pacto círcúns
[29]
tancias, de q se deva dar conta a esse tribunal; porem eu ainda hey de fallar com o sogeito, e en-
[30]
tão averiguarei isso, e se ouver de q se denuncie se dará conta. estas benzedeiras ainda conti-
[31]
nuao, e por aqui curão nesta forma, como se pa isso estiverão aprovadas. Também mtas stas não
[32]
sei se são fingidas; hua me veio aos pés q e falla com nossa Sra a cada passo e lhe revela
[33]
mtas couzas, a vida não indica a sanctide q ella confessa de boca; outra me disse q trazia o coração
[34]
atravessado com hua setta, e q todas as curas q contemplava qualquer couza o sentia abrazar em
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modo q o não podia sofrer, e q este fogo lhe passa pa fora porq na pte esterior tem hua inflamação mui
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gde e chagas e ja teve mais, e dellas se curou, esta plo q ella dis tem melhor vida; porem eu nada
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disto creio, e tomara saber isto por modo q de se pudera examinar. Recebi a carta de Vmce e meu
[38]
compo outra escriptas em 25 do passado; e das q eu lhe tenho escripto suponho q todas lhe tem hido á mão excepto
[39]
hua q lhe escrevi da Lixa e não plo corro de Lxa como Vmce parece q entendeo esta escrevi e foi de em
[40]
principio de 9bro. o corro passado não lhe escrevi. não cabe mais, veja o sobescripto dessa Ds gde
[41]
a Vmce

[42]
Pombeiro 8 de Dezembro de 722
[43]
mto amo e S d Vmce
[44]
Fr Antonio das chagas
[45]

Desta confraria não ha couza q mande dizer senão q hua pessoa destas q comigo se confessou, e de

[46]
q faço menção na carta dezeja fallar com Marianna de Simõis q he a abelhinha mestra desta
[47]
gente, e ella lhe tem mandado dizer mtas vezes q tem q fallar e proximamte lhe mandou dizer
[48]
q se visse em vespera de S Andre, ou no dia em Margaride, aonde nos então estavamos. porem como
[49]
choveo não veio, e a tal pessoa lhe quer fallar pa q se confesse comigo e se descubra mas, porq entende
[50]
e eu tambem q suposto ja se accusasse a esse tribunal, não seria do dizimo do q tem feito e será
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do q lhe disserão a accusavão, porq o mais ou lhe não lembrará, plo pacto do esquecimto ou o não que-
[52]
rerá dizer. nesta he q está a chave de todo o jogo, e esta he q pode descubrir tudo a fundamentis
[53]
porem a tal pessoa não quer falarlhe sem vir hua reposta de hu seu confessor q se mandou
[54]
ja pedir pa vermos se vem em q isso seja conveniente; eu sabendo q nella estava hiso
[55]
o ponto ja fis mto pa acolher aos pés, e ella creio entende q eu sei algua couza, fallou comigo de pas
[56]
sagem, porem por cartas nos comuniquemos. e tudo era dizerme q por letra lhe manifestasse nego
[57]
e a de dentro deste sobescripto befica, porem mandava as cartas por assinar, e com mta velha
[58]
caria, asi por ulto me disse q se fosse a guimes daria tracas a cahir, e se confessaria comigo, porq
[59]
não podia ser, eu lhe disse q q afrontassemos dia e não me respondeo
[60]
mais; veremos se esta q esta armada obra algu effo


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