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1765. Carta de frei José de Lemos para frei Agostinho de Jesus Maria.
Author(s)
José de Lemos
Addressee(s)
Agostinho de Jesus Maria
Summary
Frei José de Lemos conta ao destinatário que certas mulheres de Salzedas andaram a dizer estarem possuídas por almas de defuntos, pedindo depois missas, romarias e esmolas aos parentes dos mesmos. O objetivo da carta era o de fazer chegar o aviso ao Tribunal do Santo Ofício.
despropositos como ja
lhe disse lhos despresuadissem, e não aprovaçem isto não
teria sequito della, e de quem a acompanha. Olhe Vossa Paternidade a Ozoria
molher de Thome
de Crasto, tambem aqui andou com estas parvoices, com huns
acidentes, com huns gritos na missa, dizendo que era a alma de Manoel
Soeiro capitam Mor que foi destes
coutos, e era a sua teima dizer que era pre
cizo hir a Senhora da lapa estar la de novena etcra. Tive eu a ocazião
de lhe falar dentro, e fora de confissão, e intimar-lhe
a verdade, e como o Santo
Tribunal castigava isto, parece-me que se emendou, se he que por velha ja não
tem
tanto geito para a historia. Outra mais antigua a Engracia molher
do Frutuozo, tambem se sahio com o dizer que nella estava a alma de sua Irmãa
molher que foi de Joze Bento, e graça he que lhe mandarão cantar hũa missa a senhora da
piedade para haver de hir
para o ceo, não tornou a sahir com outra fornada, porque me
parece que se lhe falou ao dipois pella porta dianteira, ou da verdade
todas estas couzas ja ha tempos me andão fazendo meu escrupolo, porque vejo
os graves damnos, que daqui podem nascer na liverdade destes rusticos; (he que
na
de alguns ja não tem nascido) porque para tirarem consequencias mas he o demonio
fino para lhas ensinar Verbi gratia que podem furtar,
e passar, e depois de mortos virem restituir.
Que como depois da morte neste mundo as almas fazem penitencia que podem viver
nos peccados. E que não sera tam certo o que dizem os
livros, e a fe que as almas são jul
gadas conforme o estado em que acavão etcra estes, e outros erros, que Vossa Paternidade pode
conhecer
o demonio se não descuida de ensinar com as suas malditas sugestoens me rosol
vi a escrever esta a Vossa Paternidade debaixo de todo o segredo natural, e tal
qual a mate
ria o pede, pellos gravissimos damnos, que de o não guardar podem resultar para
o que da parte de Deos lho imponho, que nem
diretamente, nem indiretamente o de a entender fora
de seu confessor, que buscara douto, e pio, inclinando-se mais nesta materia ao
douto, relatando-lhe tudo isto, e com a mesma carta
parecendo-lhe, para que se nesta ma
teria entender, que se deve denunciar ao Santo Offício Vossa Paternidade o faça em meu,
ou
seu nome em quem nesta parte descarrego a minha conciencia na de Vossa Paternidade e tudo o que
relato passa na
verdade e lho affirmo sendo neccessario in verbo sacerdotis.
Salzedas
6 de 9bro de 1765
De Vossa Paternidade
Irmão muito venerador e affectuozo
Frei Joseph de Lemos