Frei José de Lemos conta ao destinatário que certas mulheres de Salzedas andaram a dizer estarem possuídas por almas de defuntos, pedindo depois missas, romarias e esmolas aos parentes dos mesmos. O objetivo da carta era o de fazer chegar o aviso ao Tribunal do Santo Ofício.
[1] | teria sequito della, e de quem a acompanha. Olhe Vossa Paternidade a Ozoria
|
---|
[2] | molher de Thome
de Crasto, tambem aqui andou com estas parvoices, com huns
|
---|
[3] | acidentes, com huns gritos na missa, dizendo que era a alma de Manoel
|
---|
[4] | Soeiro capitam Mor que foi destes
coutos, e era a sua teima dizer que era pre
|
---|
[5] |
cizo hir a Senhora da lapa estar la de novena etcra. Tive eu a ocazião
|
---|
[6] | de lhe falar dentro, e fora de confissão, e intimar-lhe
a verdade, e como o Santo
|
---|
[7] | Tribunal castigava isto, parece-me que se emendou, se he que por velha ja não
|
---|
[8] | tem
tanto geito para a historia. Outra mais antigua a Engracia molher
|
---|
[9] | do Frutuozo, tambem se sahio com o dizer que nella estava a alma de sua Irmãa
|
---|
[10] |
molher que foi de Joze Bento, e graça he que lhe mandarão cantar hũa missa a senhora da
|
---|
[11] | piedade para haver de hir
para o ceo, não tornou a sahir com outra fornada, porque me
|
---|
[12] | parece que se lhe falou ao dipois pella porta dianteira, ou da verdade
|
---|
[13] |
todas estas couzas ja ha tempos me andão fazendo meu escrupolo, porque vejo
|
---|
[14] | os graves damnos, que daqui podem nascer na liverdade destes rusticos; (he que
na
|
---|
[15] | de alguns ja não tem nascido) porque para tirarem consequencias mas he o demonio
|
---|
[16] | fino para lhas ensinar Verbi gratia que podem furtar,
e passar, e depois de mortos virem restituir.
|
---|
[17] | Que como depois da morte neste mundo as almas fazem penitencia que podem viver
|
---|
[18] | nos peccados. E que não sera tam certo o que dizem os
livros, e a fe que as almas são jul
|
---|
[19] |
gadas conforme o estado em que acavão etcra estes, e outros erros, que Vossa Paternidade pode
conhecer
|
---|
[20] | o demonio se não descuida de ensinar com as suas malditas sugestoens me rosol
|
---|
[21] |
vi a escrever esta a Vossa Paternidade debaixo de todo o segredo natural, e tal
qual a mate
|
---|
[22] |
ria o pede, pellos gravissimos damnos, que de o não guardar podem resultar para
|
---|
[23] | o que da parte de Deos lho imponho, que nem
diretamente, nem indiretamente o de a entender fora
|
---|
[24] | de seu confessor, que buscara douto, e pio, inclinando-se mais nesta materia ao
|
---|
[25] | douto, relatando-lhe tudo isto, e com a mesma carta
parecendo-lhe, para que se nesta ma
|
---|
[26] |
teria entender, que se deve denunciar ao Santo Offício Vossa Paternidade o faça em meu,
ou
|
---|
[27] | seu nome em quem nesta parte descarrego a minha conciencia na de Vossa Paternidade e tudo o que
|
---|
[28] | relato passa na
verdade e lho affirmo sendo neccessario in verbo sacerdotis.
Salzedas
6 de 9bro de 1765
|
---|
[29] |
|
---|
[30] |
Irmão muito venerador e affectuozo
|
---|
[31] | |
---|