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Maarten Janssen, 2014-

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1685. Carta de Gaspar Álvares Gramacho, mercador, para Mariana da Silva de Deus, antiga criada do autor.

SummaryCarta de Gaspar Gramacho a uma sua antiga criada, mãe de dois dos seus filhos, queixando-se da Inquisição e contando que chegaram ao destino da viagem para a Holanda. Conta-lhe também que os filhos chamam muito por ela.
Author(s) Gaspar Álvares Gramacho
Addressee(s) Mariana da Silva de Deus            
From Holanda, Amesterdão
To Portugal, Setúbal
Context

O réu deste processo é Gaspar Álvares Gramacho, acusado por crimes de judaísmo e preso de 16/02/1683 a 24/01/1685. A ele e a outros cinco seus familiares (dois irmãos e três primos) acusou Gaspar da Costa Mesquita, marido da tia de todos eles, dizendo que, quando certo dia estavam todos juntos, os seis afirmaram que seguiam a lei de Moisés para salvação das suas almas e que rezavam salmos de David sem Gloria Patri. Os interrogados acusaram Gaspar Gramacho de seguir as leis de Moisés, pelo que o réu foi sentenciado em 24 de janeiro de 1685 a cinco anos de degredo no Brasil, a regras rígidas de oração e louvor a Deus e ao uso do hábito penitencial perpétuo. Aparentemente, fugiu para a Holanda e depois para França, de onde escreveu à Inquisição para retirar testemunhos falsos que teria prestado durante a sua prisão. Termina o processo com o juramento de Mariana da Silva, antiga criada de Gaspar Gramacho, comprometendo-se a entregar à Inquisição, sem a abrir, toda a correspondência que recebesse do acusado, o que justifica a inclusão destas cartas no processo).

Support meia folha de papel não dobrada escrita dos dois lados.
Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Tribunal do Santo Ofício
Collection Inquisição de Lisboa
Archival Reference Processo 2335
Folios 227r-v
Transcription Mariana Gomes
Main Revision Rita Marquilhas
Contextualization Mariana Gomes
Standardization Catarina Carvalheiro
POS annotation Clara Pinto, Catarina Carvalheiro
Transcription date2010

Page 227r > 227v

[1]

Não posso deichar de te fazer estas regras pra te dar conta

[2]
de minha Viagem que suposto que Viemos sempre com
[3]
Ventos contrarios ainda asim gastamos nella 30 dias
[4]
porem, tudo são obras do senhor; eu nunca enjoei; nem
[5]
izabel; ma e mel Vierão emjoados quatro dias logo
[6]
lhe passou, e os mais foi na mesma forma; grande pena
[7]
tenho de não teres Vindo, pois está o mundo
[8]
e portugal esterco em comparação, da grandeza
[9]
destas terras; alugei hũas cazas por 40 patacas cada
[10]
anno; com posso; e secreta em caza adonde estamos
[11]
todos athé cada ir buscar sua Vida pa donde
[12]
Deos nos ajudar; a mim me Veio logo buscar o meu
[13]
correspondente e mtos mais fazendome grandes ofertas
[14]
de tudo o que me fosse nessessario imaginando era
[15]
eu judeo; e Como nunca o fui seja Christo jhs
[16]
bendito e por temor da morte mo fizerão ser por
[17]
forsa nesa inquiçição donde estão julgando as almas
[18]
dos inocentes feitos mestres da sinagoga, pois
[19]
me ençinarão o que avia dizer que não sabia; não
[20]
aseitei as ofertas desta gente pois seu diçinio era
[21]
era que fose a sinagoga com meus filhos; eu lhe respon
[22]
di que d estimava mto ter conheçimto da lei de
[23]
Christo e que esta me ensinarão meus pais e que
[24]
nella avia viver; e morrer como Christo e filho da
[25]
igreja Romana, e como tanta liberdade
[26]
que cada Vive como quer e fala como quer
[27]
sem temor; e acharão que lhe sabia responder; me
[28]
não replicarão; aqui mais de sem igrejas
[29]
de Catholicos Romanos ocultas; com que ainda asim
[30]
tenho escrito a mel serrão pa ir pa bordeus
[31]
suposto de expulsão a gente; o pa Anveres
[32]
escrevei; e tu mo podes fazer por via de izac
[33]
Abraham brabanel;, o migel ozorio de Almda
[34]
se for no Correo em quartinho de papel pellos portes, se for em não mais largo
[35]
dandome conta o que se pasou com a ben aventurada de ma de olivra que de Deos terá
[36]
o pago e seus fos e ese Velhaco do alfaiate todos grandes ladrois pois eu lhe podia a
[37]
qualquer deles ensinar a Doutrina Christan, e a Viver na Lei de Christo e se
[38]
a sua he dar credito o que na inquiçição se obra ben encaminhados vão
[39]
pois quen exprimentou as falsidades que eu exprimentei posso

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