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Maarten Janssen, 2014-

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1823. Cópia de carta de José de São Miguel de Lobrigos, Ministro Provincial, para António de Poiares, frade.

SummaryO autor insiste numa ordem, dada na carta anterior, envolvendo a deslocação do destinatário e dos seus estudantes de Penafiel para Barcelos.
Author(s) José de São Miguel de Lobrigos
Addressee(s) António de Poiares            
From Portugal, Porto
To Portugal, Porto, Penafiel
Context

No libelo acusatório diz como autor o Promotor da Justiça (transcrição normalizada): "[…] devendo os réus ser exemplares e zelosos observantes não só dos deveres cristãos, morais e políticos, mas também dos que são prescritos pelo nosso Santo Instituto que abraçaram […] no dia 1 de junho do presente ano, que era a Dominga infra oitava do Corpo de Deus, pelas 9 horas da manhã, pouco mais ou menos, saíram impestuosamente de suas celas os réus Fr. José de Canelas e Fr. José de Fornelos, fazendo-se cabeça de motim, e começaram a chamar os outros réus colegiais, com grandes vozeiros, e batendo estrondosamente nos dormitórios, dizendo palavras sediciosas e ameaçadoras, de forma que aterraram a Comunidade […], ao estrondo daquelas vozes saíram logo de suas celas os outros réus colegiais, e, juntando-se aos primeiros, continuaram cada vez mais as ameaças […] que reputavam afrontados à Comunidade, escandalizando não só a esta, mas até os seculares que ali se achavam. […]. No mesmo dia, em auto de Comunidade do refeitório, sendo os mesmos réus repreendidos pelo prelado por causa daquele punível e escandaloso atentado, logo se levantou o réu Leitor Fr. António de Poiares e, sem respeito às leis da religião e sem pedir licença alguma, interrompeu o mesmo prelado, dizendo em altas vozes: que seus estudantes tinham feito muito bem no barulho que fizeram, que estavam entre Corcundas; e que daria as providências, e outras palavras não menos despropositadas, temerárias e sediciosas, tornando-se deste modo cúmplice, e mesmo autor principal, do referido motim dos réus seus discípulos que se presumem insinuados e induzidos por ele. […] O mesmo réu, Fr. António, costuma sempre andar com hábito de pano diverso do que as nossas leis permitem, aparecendo assim aos seus discípulos [e] faltava a outros deveres de mestre, desprezando a educação cristã e religiosa de seus discípulos, porque todas as tardes saía para fora, deixando-os andar de cela em cela a tocar instrumentos, e até a jogar cartas, com grave escândalo da Comunidade, não fazia as reparações do costume, e que são mandadas no seu plano de estudos, dava as suas lições da aula em segredo e nelas gastava muito pouco tempo [e] tem o costume de reservar para si esmolas de sermões que prega […]. Este mesmo réu, Fr. José de Ervedal, está «encostumado» a usar de armas defesas, o que mesmo nos seculares e pelas leis civis é crime atrocíssimo, pois que em sua cela se chegou a achar um estoque metido em uma bengala e uma faca de ponta aguda em uma bainha."

Do processo constam duas cartas copiadas pelo escrivão António Caetano de Carvalho, escritas pelo Padre Ministro Provincial Frei José de São Miguel de Lobrigos ao principal réu, Frei Antonino de Poiares, leitor de Filosofia do Colégio de Santo António de Penafiel, pedindo-lhe que mudasse o seu colégio para o convento de Barcelos.

Archival Institution Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Repository Casa da Suplicação
Collection Feitos Findos, Processos-Crime
Archival Reference Letra A, Maço 2, Número 22, Caixa 6, Caderno [1]
Folios 36r-37v
Socio-Historical Keywords Rita Marquilhas
Transcription Cristina Albino
Main Revision Cristina Albino
Contextualization Rita Marquilhas
Standardization Rita Marquilhas
Transcription date2007

Text: -


[1]
Muito Amado Irmao Mestre Leitor Benediccte
[2]
Reçebo a sua Carta em resposta a minha antecedente e não deixo de admirar que o Irmao Mestre se proponha a disputar a authoridade que tenho com o defenitorio de Remover hum Collegio em qualquer tempo do anno de hum para outro Convento,
[3]
talves o Irmão Mestre prezuma que o Requerimento do sindico e Commonidade he algum Libello de queixa Contra o Collegio,
[4]
porem não he asim
[5]
eu diçe ao Irmão Mestre a razao que nos obrigava a removelo dali para o Convento de Barçellos,
[6]
o Nosso Sindico, Padre Guardião e Commonidade esperavão o alivio da Caza no prinçipio do primeiro anno da sua Leitura e eu lhes havia dado alguns indiçios disto na Conformidade dos Estatutos, mas não o fizemos talves para Para que o Irmão Mestre não ficasse sem o seu Collegio
[7]
e vendo elles frustadas as suas esperanças, requererão agora com asignatura da Commonidade,
[8]
e nós não podemos deixar de attender a hum tál Requerimento que alem de ser fundado em toda a Justiça, e razão, em nada offende o Irmão Mestre, nem o seu Collegio.
[9]
Portanto Rogolhe como amigo que sou, que não queira agora suscitar huma questão, cujos rezultados podem ser prejudiçiais ao seu mesmo Collegio.
[10]
O seu companheiro Padre Guardião de Barcellos Conta com este pezo e me lizongeia tanto na Resposta que me deo quanto o Irmão Mestre me aflige com a sua:
[11]
elle preciza de alguns dias para arranjar as Céllas e neste Correio lhe mando algumas obediençias para se desocuparem algumas,
[12]
em Correio seguinte para ahi Remeterei as obediençias para se se derigirem para o Convento de Barçellos digo para o dito Convento de Barçellos
[13]
Espero do Irmão Mestre se disponha para a Jornada, e que não haja barulho que nos inquiete,
[14]
Advirto mais como lhe diçe na minha antecedente, que não tendo o Convento de Barçellos capaçidade para Reçeber mais de sette Collegiais, e seu Mestre, e mesmo por lhe não aggravar o pezo, rezolvemos tirar desse Collegio dous Estudantes,
[15]
e tendo com o Irmão Mestre toda a contemplação deixo á sua escolha quais elles devão ser, avizandome logo quais hão de ser para dar as providençias.
[16]
Espero da sua providençia conVenha em tudo isto, e viviremos todos em boa harmonia, pás, e suçego.
[17]
Deos Guarde por muitos annos como lhe dezejo.
[18]
Valle de Piedade do Porto honze de Janeiro de mil OitoCentos Vinte e tres
[19]
Do Ir Do Irmão Mestre Leitor Venerador affectivo Irmão e Servo Fr Jozé de Sam Miguel de Lobri-gos. Ministro Provinçial

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