O autor escreve a um amigo a pedir que este apresente a sua carta no Santo Ofício.
o q disséram o q entendéram. E q as ditas matereas, vendo se
e entedendose como se devem ver, e entender, não está couza alguã, q tenha o
mênor encontro com o q dizem as divinas letras, e os santos Padres: antes das ditas
matereas, dos apertos interiores, e exteriores por onde a dita Inez da Conceyção
tem passado, dos favores q Ds lhe tem feyto, do modo com q ella em huãs, e outras couzas
se tem havido, e do estado de espiritu, a q tem chegado, em o qual está de prezente, co-
mo se pode vèr, se colhe, q a mesma não só hé pessoa de admiravel vida, e
virtudes, mas se mostra ser entre todas qtas mulheres snatas tem havido athe a-
góra, em toda a Familia de meu Pe Sam Franco huã das mays adiantadas no apro-
veytamto do espiritu. E q o impulso q a sobredita tem pa dizer, q eu hey de ser
o seu Me espiritual, e pa fazer outras couzas q fáz, e dizer outras couzas q díz, hé co-
nhescidamete de Ds e tem algua semelhança com o rayo, e com a pólvora, q nas ma-
yores rezistencias sayem com mayores triumphos á custa de qm lhos fáz com ésta
differença entre outras, q as forças do rayo, e da polvora sam limitadas e as do seu im-
pulso sam sem comparação mayores. E q a sobredita lhe não passa pola imagi-
nação o disdizerse do q tem dito, porq sabe com evidencia q hé de Ds E q tambem
lhe não pssa pola imaginação o morrer debayxo do poder do Sto Offo porq isto
implica com outras couzas q ella sabe com evidencia. E q espéro q Ds como, e
qdo elle for servido mostre ser verdade isto q digo. E q estimarey mto q qdo Ds mos-
trar ser isto verdade, estejam as couzas a tempo conveniente dispostas de maneyra,
q fique o credito assim do Sto Offo como de todas as pessoas q metéram a mão nestas
matereas, ao menos o mays bem remediado, q for possivel. E q qdo assim se não
disponhão, e suceda o contrareo, o sentirey iualmte e não será por descuido meu,
poys bem cláro tenho fallado. E q estou tam seguro em tudo o q aqui tenho dito,
q abayxo do q a Fé me encina, não tenho couza, em q esteja mays inteyrado. E q
o fallár eu com ésta clareza hé porq a importancia das matereas sssim o pede, e
porq dezejo q no Sto Offo se sayba o q passa no meu coração pa q esse Sto Tribunal.
obre o q lhe parecer q convem.
Agóra pesso a vM. q depoys q ler esta carta e a mostrar a qm quizer, porq ella não
contem couza de segredo, me faça mce de a meter no Sto Offo e de me avizar, q a meteo
lá; porq se me não fizer avizo de q assim o fez, fico eu com o cuidado de escrever outra, ou
as q forem necessarias, q contenhão o mesmo por outras pessoas, athe q alguma destas
me segúre, q fez a sobredita diligencia, e isto será publicar eu mays estas mate-
reas obrigado da necessidade, qdo me não valha de outro meyo mays efficáz, como
poderá ser q suceda, porq se o impulso q me move hé de Ds como supponho, já se sá-
be, q se espéra, q ajudado do mesmo sor cresça como arvore e vá m aumento e não em de-
minuição.
O q tudo supposto considére vM. se isto, q eu digo assim for, e seguir o mesmo
caminho, q léva athe chegár ao termo, cim q relampago, com q trovam, e com q força
triunphára o rayo, de q se trâta das excessivas rezistencias a si feytas assim proximas,
como remotas: assim da nuvem, daonde sahir, e aonde está há quatro annos