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Porto da Espada, excerto 66

LocationPorto da Espada (Marvão, Portalegre)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Alcibíades Alice
SurveyALEPG
Survey year1974
Interviewer(s)André Eliseu Gabriela Vitorino
TranscriptionAdriana Cardoso
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationCatarina Magro
LemmatizationDiana Reis

Text: -

[1]
INF1 Havia muitos.
[2]
Eu também ainda fui.
[3]
INF1 Ainda.
[4]
No tempo do azeite, [pausa] também ainda fui.
[5]
Mas eu [vocalização] fui pouco tempo.
[6]
Ainda bem não, acab- acabou-se o dinheiro,
[7]
acabou-se o o negócio.
[8]
INF1 Íam- Íamos levar aqui.
[9]
Íamos buscar lá para cá.
[10]
Pois.
[11]
Íamos buscar ali, aonde lhe chamam as Hortas, Porto de Roque.
[12]
Aí é que o íamos buscar, de noite, às escuras –
[13]
[vocalização] noites muito escuras!
[14]
INF1 Ora, medo!?
[15]
Tínhamos medo
[16]
mas era dos bonés, dos guardas.
[17]
O mais, lá assim de medos, não tínhamos medo.
[18]
Se apanhávamos aí cada molha aí por essas serras!
[19]
[vocalização] Pois, era isso.
[20]
INF1 Íamos muitos;
[21]
chegámos a ser cinquenta.
[22]
INF1 Tudo enrabeirado uns atrás dos outros.
[23]
Tudo!
[24]
Aquilo parecia já só uma chibatada.
[25]
Aqui se esbarrondava uma uma pedra, além outra.
[26]
[vocalização] Pois bem, a gente por aqueles por aqueles campos fora, por essas serras.
[27]
INF1 Pois.
[28]
Ora, mas eles, ainda bem não, lá lá chegavam ao pé da gente.
[29]
Aquilo, ainda bem não, era uma derrota.
[30]
INF Ora, tiravam-nos co- os coiros.
[31]
E corriam atrás da gente para nos apanharem.
[32]
INF1 Os coiros, onde a gente trazia o azeite.
[33]
INF1 Dentro duns coiros.
[34]
Com umas peles de cabra é que trazíamos o azeite.
[35]
Pois, era umas coisas assim;
[36]
[pausa] eram as peles das cabras
[37]
e depois preparavam-nas para a gente trazer o azeite.
[38]
INF1 Pele inteira.
[39]
Pois, era a pele inteira.
[40]
Até mesmo propriamente nas patas.
[41]
Até, por exemplo, assim ao meio da pata
[42]
e depois eram atadas
[43]
e vinha [pausa] até mesmo à onde era a cabeça, também.
[44]
Chamavam-lhe um coiro.
[45]
Lá trazia a gente aquilo às costas.
[46]
Pois.
[47]
Ia a gente buscá-lo.
[48]
INF1 Pois.
[49]
INF2 Foi sempre na pobreza.
[50]
INF1 Era o tempo da pobreza, naquele tempo era…
[51]
INF2 Por isso é que se chamava a pobreza.
[52]
INF1 Pois, era o tempo da pobreza.
[53]
Pois.
[54]
[vocalização] Então Foi só o contrabando que usei foi aquele.
[55]
E foi pouco tempo.
[56]
Foi aí só uma questão aí de dois meses, talvez.
[57]
Pouco tempo.
[58]
Ainda bem não, tiraram-nos os coiros,
[59]
olha, acabou-se.
[60]
Acabou-se o negócio.

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