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Covo, excerto 15

LocalidadeCovo (Vale de Cambra, Aveiro)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Arquibaldo

Text: -


[1]
INF Nós aqui, ainda é ainda é um bem:
[2]
a gente não paga lenha;
[3]
a gente não paga luz [vocalização] a luz,
[4]
paga a electricidade,
[5]
mas quer dizer , não paga água,
[6]
não paga [vocalização]
[7]
O que é que a gente gasta?
[8]
Algum Algum arrozito, nalguma massa,
[9]
o resto é tudo de casa.
[10]
Tem a hortaliça,
[11]
tem fe- tem o feijão,
[12]
tem
[13]
O lavrador
[14]
INF É nas cidades.
[15]
INF Não tem têm nada.
[16]
INF Mas, olhe , ó senhora Gabriela, diga-me uma coisa: a que é que
[17]
você vocês conhecem-me bem
[18]
e esta senhora conhece-me
[19]
porque é que vão atrás do dinheiro
[20]
INF e se você pode ter uma casa cheia de dinheiro mas não tendo comer você morre à fome?!
[21]
INF É ou não é?
[22]
INF E se você n- tiver menos dinheiro ou pouco dinheiro mas tiver muito comer, não morre.
[23]
INF Não morre!
[24]
Para mim, é este:
[25]
eu fui um homem sempre desde menino pequeno sempre agarrado à agricultura.
[26]
Sempre, de menino pequeno!
[27]
E eu entendo
[28]
eles fazem mangação da gente.
[29]
Dizem: "Ai!
[30]
Anda à terra,
[31]
anda sujo,
[32]
anda"
[33]
Deixá-lo,
[34]
mas uma pessoa tem que comer!
[35]
INF Não acham?
[36]
INF Eu acho que é assim,
[37]
mas gente que não, não pensa nisso.
[38]
gente que [vocalização] que quer o dinheirito.
[39]
Conheço
[40]
INF Não quer,
[41]
não senhor.
[42]
INF Então e depois , a, a a miséria está .
[43]
INF Mas Mas a miséria está .
[44]
Olhe , como é que o governo há-de empregar tanta gente?
[45]
INF Diga-me.
[46]
Aonde?
[47]
Aonde?
[48]
Eu digo-lhe aonde!
[49]
E se protegesse mais agricultura, se agarra mais à terra.
[50]
INF O meu netito diz ao acaso: "Ó avô!
[51]
Ah, eu, se não puder estudar, tenho que me agarrar à terra;
[52]
mas se puder estudar vou estudar
[53]
e não quero saber da terra".
[54]
Ora, o que é que um homem
[55]
O que é que me valeu andar a matar?!
[56]
INF Sim.
[57]
Veja , o pequenito que
[58]
INF Pois pode.
[59]
INF Sim senhor.
[60]
Pode,
[61]
pode,
[62]
pode.
[63]
Pois pode.
[64]
E, e, e E se eu for vivo para então, é o que eu vou fazer.
[65]
Não queria que ele desprezasse a terra.
[66]
INF Porque quem tanto trabalhou, quem tanto se matou, quem tanto fez, e agora vê-la deixar assim, olhe, a tojo, a mato, [pausa] custa um bocado.
[67]
INF Para mim custa-me.
[68]
INF Mas gente que não pensa nisso.
[69]
INF Sim,
[70]
gente que não quer saber disto,
[71]
mas eu custa-me.
[72]
Custa-me
[73]
porque [pausa] fui aga- agarrado a isto.
[74]
INF Mas [pausa] é uma coisa que pouco.
[75]
A agricultura é uma coisa que está muito em baixo.
[76]
Mas que havemos nós de fazer?
[77]
Nem todos pode estudar,
[78]
nem todos pode trabalhar na terra.
[79]
Mas, meu amigo
[80]
Eu vejo
[81]
tenho que ver;
[82]
saio, às vezes, para o Porto, ou outras vezes para para Coimbra,
[83]
e às vezes quando vou à caça campos e campos e campos tão bons, tudo, tudo desprezado.
[84]
INF Aquela vinha tudo desprezado!
[85]
Eu logo o que lembra-me assim:
[86]
ó que esta gente não terá?
[87]
Que é que eles comem?

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