Representação em frases

Carrapatelo, excerto 12

LocalidadeCarrapatelo (Reguengos de Monsaraz, Évora)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Hermes

Texto: -


[1]
INF Não.
[2]
Tra- Depois trabalhei sempre nestes montes aqui de roda.
[3]
INF Para povos nunca mais fui.
[4]
Trabalhei nestes montes aqui de roda.
[5]
é que trabalhava.
[6]
E depois fui andei feito vendedor de galinhas e ovos.
[7]
INF Tive também uma vaca.
[8]
Cheguei a ter duas.
[9]
Depois morreu-me uma
[10]
e eu aborreci-me daquilo,
[11]
que aquilo era uma perca grande.
[12]
INF E [vocalização] morreram-me cabras.
[13]
Enfim, eu tenho tido pouca sorte,
[14]
que nunca fui capaz de endireitar as orelhas.
[15]
Não senhor!
[16]
[vocalização] Depois dei-me em fazer velho,
[17]
dei em dei em ser doente,
[18]
dei em não poder trabalhar.
[19]
Isto nunca passei
[20]
Nunca fui nada!
[21]
INF Não senhora!
[22]
Nunca fui nada.
[23]
INF E aqui [vocalização] E aqui no povo eu não tinha aqui ninguém
[24]
porque eu, a minha mãe era de Reguengos, o meu pai nasceu além num monte, além numa herdade,
[25]
e esse monte caiu.
[26]
E de maneiras que vim para aqui,
[27]
não tinha ninguém,
[28]
toda a gente era mais do que eu.
[29]
A minha conversa não valia de nada.
[30]
A conversa deles é que valia, mais delas.
[31]
E a minha A minha conversa não valia de nada.
[32]
Não senhora!
[33]
Nunca tive aqui importância!
[34]
E eu, muitas das vezes, calava-me.
[35]
Mas em sendo preciso, eles não eram capazes de se apresentar em parte nenhuma.
[36]
Não senhora!
[37]
Nunca foram capazes de se apresentar em parte nenhuma a fazerem mais figura do que eu.

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