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Vila do Corvo, excerto 49

LocalidadeVila do Corvo (Corvo, Horta)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Felício Feliciano

Text: -


[1]
INF1 Esta mesa não havia de estar assim,
[2]
estava era assim.
[3]
INF1 Não.
[4]
não tinha aquela porta de além.
[5]
INF2 Estava encostada aqui aqui ao fundo.
[6]
INF1 Aqui este este frontal não era bem tapado,
[7]
não era encantilhado como este é.
[8]
Quando eu vim de fora, trazia um macinho de cigarros na algibeira
[9]
[pausa] e fui [pausa] o guardar ao da da trave, em cima, que fazia uma ameiazinha.
[10]
E ele estava assentado
[11]
e viu.
[12]
Risos [pausa] Hum!
[13]
Viu logo a coisa
[14]
E ele diz-me: "Felício, o que é que tu "?
[15]
Larga-se
[16]
e vai
[17]
e traz o macinho de cigarros.
[18]
Fez-me o rabo tão negro !
[19]
Risos Pegou numa corda
[20]
e deu-me
[21]
Deu-me uma surra a este que eu tenho vinte marcas!
[22]
INF2 Mas não te tirou o vício!
[23]
INF1 Mas não me tirou o vício.
[24]
Ainda [vocalização] a mim, bateu-me poucas, agora no meu irmão Júlio que está
[25]
INF2 No Júlio.
[26]
Também por causa do fumo.
[27]
INF1 Tudo por causa do maldito do cigarro.
[28]
INF2 Por causa do fumo.
[29]
INF1 Oh, bateu-lhe muitas!
[30]
E ele nunca o deixou.
[31]
INF1 Mas depois arrependeu-se.
[32]
INF2 O teu avô?
[33]
INF2 Cheirava
[34]
e fumava bem.
[35]
E mascava.
[36]
INF1 Mascava.
[37]
INF2 As três.
[38]
INF1 E depois [pausa] E depois de ser velho [pausa] largou tudo.
[39]
INF2 Largou tudo.
[40]
INF1 Ele estava além numa loja que era que era do senhor Filipe.
[41]
E veio uma pequena comprar um canudo de tabaco
[42]
e levou oito ovos, oito ovos numa tigela de pão.
[43]
Que eu lembra-me que naquele tempo os ovos era a vinte centavos.
[44]
E o canudo de tabaco era não sei o quê.
[45]
[vocalização] Era os oito ovos.
[46]
Diz: "Ó compadre, não me deu o troco"!
[47]
"O troco?
[48]
Não, não troco.
[49]
É [vocalização] O canudo do tabaco é aque- esses ovos".
[50]
"É esses ovos"?
[51]
"É, como paga.
[52]
E é para quem quer!
[53]
É para quem quer".
[54]
levou o tabaco.
[55]
[pausa] Não quis fiar nada.
[56]
INF2 Mas Mas dava muito bem
[57]
INF1 Davam oito ovos por um canudo de tabaco.
[58]
"Ah, eu hei-de comer os ovos e deixar o tabaco".
[59]
E deixou o tabaco, [pausa] muito bem.
[60]
INF2 Mas o que me dava que fazer era ele cheirar uma bocada hoje em casa da Francisca e outro dia em casa do Filipino e outro dia em casa do [vocalização] da tua tia Gabriela, no outro dia, e [vocalização] e aquilo não lhe ter ele feito despertar-lhe o vício e [vocalização]
[61]
INF1 Não, não.
[62]
INF2 Nunca mais.
[63]
INF1 Pois não.
[64]
INF2 Nunca mais cheirou.
[65]
INF2 O Filodoro, o meu tio-avô, fumava,
[66]
e cheirava,
[67]
e mascava,
[68]
levou pancada como deu.
[69]
INF1 Eu tinha um [vocalização] um tio meu um irmão dele na vila .
[70]
Casou na vila
[71]
e estava e tinha uma lo- tem uma loja na vila, em Santa Cruz.
[72]
E ele, por Nossa Senhora, vinha todos os anos visitar o irmão e uma irmã que tinha, que é a mãe desta mulher velhinha que vem aqui, [pausa] Genoveva.
[73]
INF1 Eles diam pela riba do meu patamar os três.
[74]
Era de a gente morrer [pausa] a rir, os três juntos!
[75]
O meu pai, o meu tio e a minha tia Gabriela a dar, a [vocalização] .
[76]
O meu tio ouvia era o meu pai a dar-lhe assim para baixo na, [pausa] na, na na minha tia, na tia Gabriela.
[77]
Oh, mas gente!
[78]
Era Era de a gente ria, ria!

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