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Fajãzinha, excerto 77
Text: -
INF1 Oh senhora, nesta freguesia, as mulheres trabalham mais do que os homens.
INF1 Aqui na Fajãzinha, as mulheres eram umas escravas.
Ora a gente éramos pobres.
O meu pai morreu – Deus o tenha no céu – a gente éramos pequeninos.
A gente tinham falta de dar dias.
Vinha-se ajudar porque a gente chegava a a meio do ano já n- já [vocalização] não se tinha [vocalização] nada para comer – já não se tinha milho.
E vinha-se dar dias – vinha-se ajudar a juntar batatas – a essa gente, aqui à Fajãzinha.
INF1 E 'dia-se' buscar camas de musgo ao mato.
'Dia-se' apanhar musgo no mato – está percebendo? –, [vocalização] para se [pausa] vender.
Uma cama de musgo era um alqueire de milho!
INF1 Ainda fazia muito bem!
INF1 Mas uma cama de musgo, era preciso quatro sacas de destas grandes cheias de musgo bem acalcadas – para uma cama!
E [vocalização], e E havia essas mulheres…
Aqui trabalhavam muito noutros anos.
INF1 Oh grandeza, elas acartavam sargaço de lá debaixo do calhau, coitadinhas, que era para trazer para o estrume para as terras – está percebendo? –, para botarem nessas terras mais aí em baixo do Moldinho.
Que o sargaço é estrume bom para batatas!
INF1 E havia eu via Eu dizia: "Oh, pobres das mulheres da Fajãzinha, são umas escravas, coitadinhas!
Elas diam ao junco para o mato.
Elas diam ao leite para o mato – tinham o gado no mato –,
era preciso dir de manhã cedo ao leite.
INF3 Quatro horas, no Verão!
INF1 Às quatro horas, no Verão, [pausa] que elas diam ao leite!
E eu dizia assim: "Jesus, eu n-, eu eu eu nunca queria ser da Fajãzinha"!
Olhe, a gente não pode dizer…
A gente não pode dizer nada neste mundo.
E aqu- E aqui é que estou há quarenta anos!
INF2 E muitas vezes estavam apanhando os xemenos ou o musgo nas terras e chegava o – nas relvas –,
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