Representação em frases

Gião, excerto 22

LocalidadeGião (Vila do Conde, Porto)
AssuntoA saúde e as doenças
Informante(s) Cosme Cunegundes

Texto: -


[1]
INF1 Mas era sempre
[2]
E depois, sabe como é,
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[pausa] [vocalização] aquilo aquilo era prejudicial.
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INF2 Era um tempo
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INF1 Era uma alimentação muito diferente.
[6]
Se aquilo Eu estou convencido se a alimentação de agora fosse [pausa] a que era quando eu nasci, metade da gen- da gente tinha morrido.
[7]
INF2 Mas naquele tempo duravam [pausa] até aos cem anos!
[8]
INF2 E ele comiam isso, que era era carne gorda, toucinho
[9]
INF1 Pois era.
[10]
INF1 Mas a senhora não sabe porquê?
[11]
INF1 A senhora não sabe porquê?
[12]
A senhora não sabe donde é que vem a doença?
[13]
INF2 Não sei, não.
[14]
INF1 Eu digo-lhe porque é muito simples.
[15]
A gente é que não por ela.
[16]
É que naquele tempo era a comida , mas era o ar [pausa] bom.
[17]
INF2 Sim.
[18]
Agora não.
[19]
INF1 E agora, é o ar fraco e a gente
[20]
Eu não tenho balança para pesar,
[21]
mas parece-me que é bem melhor o ar bom do que a comida.
[22]
INF1 É que muita gente pensa-se que o maior perigo
[23]
INF1 A água!
[24]
Mas o ar é essencial
[25]
INF1 e é o que se respira a todo o momento.
[26]
Basta dizer que não se pode estar muito tempo sem ar.
[27]
INF1 E o ar está completamente como a água do rio.
[28]
INF2 Do rio,
[29]
pois é.
[30]
INF1 O ar está todo estragado, todo estragado.
[31]
INF1 E é daí que é doenças disto, doenças daquilo, é doenças nos gatos
[32]
Dantes os gatos e os cães, quantos ficassem, quantos se não matassem quando nasciam, morriam depois de velhos ou de acidente.
[33]
INF2 É, é.
[34]
INF1 Não havia exemplo dum gato doente, nem dum cão doente, nem nada disso.
[35]
INF1 Depois apareceu [vocalização] a coisa.
[36]
Como é que se chamava aquilo, nos cães, quando foram vacinados?
[37]
INF1 O danado.
[38]
A raiva.
[39]
O danado.
[40]
Mas aquilo felizmente acabou.
[41]
INF1 muitos anos que não exemplo dum cão danado.
[42]
INF2 É.
[43]
INF1 Mas quer saber uma coisa, minha senhora?
[44]
INF1 Quer saber uma coisa?
[45]
Morreram muitos cãezinhos
[46]
INF2 A senhora é capaz de estar no sol ?
[47]
INF1 A senhora chegue-se mais para dentro um bocado
[48]
que eu disse para estarem à vontade.
[49]
INF1 Pode passar aqui para este lado.
[50]
INF1 Estejam à vontade.
[51]
INF1 Sabe uma coisa?
[52]
INF1 Morreram muitos cãezinhos que estavam tão danados como eu, [pausa] percebeu?
[53]
E morreram por danados.
[54]
Mas o danado era a fome, percebeu?
[55]
É que isso também não era como agora.
[56]
Dantes um cão vadio morria à fome
[57]
e não levava muito tempo.
[58]
Começava a andar com a pele e com os ossos
[59]
que não arranjava nada em lado nenhum,
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que não se botava nada fora.
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INF1 E os cães vadios, que eram muito menos os cães vadios do que agora
[62]
Porque agora zonas com cadelas com ninhadas de cães todos gordos, todos todos gordos, vadios.

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