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Granjal, excerto 18

LocationGranjal (Sernancelhe, Viseu)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Elina Éolo Eneias
SurveyALEPG
Survey year1978
TranscriptionSandra Pereira
RevisionErnestina Carrilho
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationMárcia Bolrinha
LemmatizationDiana Reis

Text: -


[1]
INF1 " Não te cases,
[2]
logra-te da boa vida,
[3]
quem foi cedo mal casada, chora de arrependida".
[4]
Era eu uma!
[5]
Assim que me casei arre- estava trinta vezes arrependida.
[6]
INF2 Quem?
[7]
Você?
[8]
[pausa] Então não gostou?
[9]
INF1 Não.
[10]
INF2 Ah!
[11]
Carago!
[12]
INF1 Eu às vezes dizia-lhe assim para ele: "Eu se de solteira soubesse a vida de casada, nunca homem nenhum me possuía"!
[13]
INF2 Ai!
[14]
Valha-nos Deus!
[15]
INF1 Então [pausa] são ideias!
[16]
INF2 Eles Eles têm coisas tão boas!
[17]
INF1 Olha, sabes porquê?
[18]
Eu era uma senhora.
[19]
[pausa] Eu não não estava habituada noutro no campo.
[20]
A minha mãe era tecedeira.
[21]
INF2 Nunca tinha visto aq- aquelas coisas, pronto, sabe?
[22]
INF1 A minha mãe era tecedeira.
[23]
Eu tratava de fazer as meadas e de lavar as meadas [pausa] e dobar e emparelhar.
[24]
Depois casei-me.
[25]
Era uma vida de cão!
[26]
Aqui punham as vitelas
[27]
as poias nas chinelas ficavam.
[28]
Depois punham-me os pés na saia,
[29]
era muito comprida,
[30]
punham-me na saia,
[31]
rasgavam-me a saia.
[32]
E eu [vocalização]: "Ai!
[33]
Ai meu Deus!
[34]
Tu foste um falsador para mim!
[35]
Disseste-me que não arranjavas vida"
[36]
"Ai, querias ser senhora"?
[37]
"Senhora era eu!
[38]
Não foras à pergunta de mim
[39]
que eu era senhora"!
[40]
Porque eu não fazia nada não era? , senão aquelas coisinhas de casa.
[41]
Eu nunca tinha segado um molho de erva.
[42]
A primeira erva que seguei, disse-me a Emília: "Oh, vem-me ajudar a a segar um molhinho de erva".
[43]
Era dia de entrudo.
[44]
Depois, quer ver?
[45]
A primeira mancheia que eu peguei na seitoira para segar, seguei o dedo.
[46]
Eu comecei a chorar: "Agora, olha, agora componde-me,
[47]
agora curai-me"!
[48]
não seguei mais erva nenhuma.
[49]
E depois era cargas e cargas e cargas, sem eu estar habituada!
[50]
Ai, muito chorei!
[51]
Ainda tinha eu vontade de me tornar a casar!
[52]
INF2 Então não se casava agora outra vez?!
[53]
Oh!
[54]
INF1 Nem que fosse um bispo!
[55]
Nem que fosse um príncipe!
[56]
Não queria mais saber de homens!
[57]
Valia mais a minha a minha regalia e o meu descanso do que quanto havia no mundo.
[58]
INF2 Mas também faltava aquele amor!
[59]
INF1 Aquele!
[60]
Tudo o que não , se dispensa.
[61]
Enquanto a gente não está habituada nem sabe o que é.
[62]
INF3 Então "se solteirinha não te cases", é?!
[63]
INF1 É [vocalização].
[64]
Enquanto a gente não está habituada, então [vocalização]
[65]
É como uma criança pequenina!
[66]
INF3 Então, tia Elina, como é?
[67]
"Se solteirinha não te cases", mais?
[68]
INF1 ?
[69]
INF3 "Se solteirinha, não te cases"
[70]
INF1 "Se solteirinha não te cases, logra-te da boa vida,
[71]
quem foi cedo mal casada, chora de arrependida".
[72]
Eu, às vezes, dizia assim para o meu Epaminondas: "Eu sou uma"!
[73]
Sim.
[74]
INF3 Outra quadra, ó tia Elina.
[75]
INF1 ?
[76]
INF3 Outra quadra assim desses tempos.
[77]
"Não machado que corte"
[78]
INF1 Ai, ó meu Deus!
[79]
Eu não
[80]
Olhe, quando estou sozinha, estou,
[81]
penso
[82]
e lembra-me tudo.
[83]
Agora desqueci.
[84]
Olhe, olhe, eu nem sei.

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