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Granjal, excerto 21

LocalidadeGranjal (Sernancelhe, Viseu)
AssuntoA saúde e as doenças
Informante(s) Ercília

Text: -


[1]
INF As crianças
[2]
Às vezes dizem que aquele cocó mole das crianças que é
[3]
INF E dos adultos.
[4]
Que é é dores de barriga que dão e são vírus viles.
[5]
Chamam assim umas coisas.
[6]
Nós chamamos-lhe aquilo, quando é as crianças: "Ai, isto foi foi quebranto que lhe deu",
[7]
ou "Foi assim".
[8]
Mas [vocalização] para , isso não acreditarão,
[9]
não sei.
[10]
"Isso foi quebranto que deu à criança ou é embaçado, e"
[11]
Mas embaçado é verdade.
[12]
INF Embaçado, sabe o que é?
[13]
É o estômago que se vira às criancinhas.
[14]
E os médicos não dão com isso.
[15]
Eu dou.
[16]
Eu componho-as.
[17]
Eu componho as crianças.
[18]
Quando é:
[19]
crianças começam a vomitar muito, a vomitar tudo fora, e a fazerem cocó muito molezinho, soltura chamamos nós soltura e assim,
[20]
e eu componho-os.
[21]
INF Olhe, componho-os bem.
[22]
Olhe, deito-os de cima duma mesa ou duma cama.
[23]
E os meninos, quando estão assim embaçados, impam:
[24]
ãhh, ãhh, ãhh!
[25]
Fazem assim.
[26]
E a barriguinha muito rija.
[27]
E então, eu deito-os assim em de cima duma mesa ou de cima duma cama,
[28]
e tenho um bocadinho de azeite num pires ou numa chavenazinha, ou numa tigela, em qualquer coisa ,
[29]
e depois eu lavo as minhas mãos muito lavadinhas,
[30]
desinfecto-as com álcool,
[31]
e no fim esfrego-as com aquele azeite,
[32]
e depois aqui
[33]
Supomos que isto Supomos que isto assim, isto é a criança
[34]
e aqui tem os pezinhos,
[35]
e a gente une um pezinho assim com o outro
[36]
e o que e se estiver embaçado [vocalização] um é maior do que outro.
[37]
Um dedo cresce o dedo grande ,
[38]
cresce mais que o outro .
[39]
E a gente depois, eu depois com com as minhas mãos, molho as mãos assim no azeite,
[40]
esfrego-as assim muito esfregadinhas,
[41]
e faço-lhe assim, assim, assim.
[42]
INF Assim, na barriguinha assim.
[43]
Começa a gente daqui para cima,
[44]
da, da mesmo daqui das partes assim para cima, a correr assim para cima, tudo para cima, tudo para cima, e a gente com o estômago.
[45]
Quando estão embaçados com ele.
[46]
É assim,
[47]
vai indo,
[48]
vai indo,
[49]
é três dias que a gente o cura
[50]
e o estômago torna para o lugar dele.
[51]
nem obram mole nem nem vomitam.
[52]
Eu componho-os muito bem.
[53]
Muito bem, muito bem!
[54]
Até em Lisboa eu compunha muita criança.
[55]
Estava uma uma senhora que tinha uma menina.
[56]
E era mãe da porteira
[57]
Era filha da porteira,
[58]
mas ela vivia muito bem, a filha.
[59]
Estava a pôr a mão como que era ela a porteira,
[60]
porque a mãe não sabia ler
[61]
e não a queriam ,
[62]
ela é que fazia as vezes da porteira,
[63]
é que assinava.
[64]
E depois um dia apareceu-me : "Ó dona Ercília!
[65]
Ai, a minha menina está tão malzinha!
[66]
A minha menina morre-me!
[67]
A minha menina morre-me"!
[68]
"Não morre, não senhor".
[69]
"Ai, disseram-me que a dona Ercília" quem está , é tudo "dom"
[70]
"Se a senhora
[71]
Que lhe um jeitinho, se a senhora viesse"
[72]
"Eu vou, sim senhora".
[73]
Disse-lhe eu.
[74]
"Eu vou ".
[75]
Cheguei ,
[76]
compus a menina,
[77]
quando foi ao outro dia que eu fui, não andava.
[78]
Ela sentia-se fora:
[79]
ãhh, ãhh, ãhh!
[80]
E tinha uns três anos.
[81]
era crescidinha.
[82]
Compus-lhe a menina.
[83]
Ao outro dia tornei ,
[84]
tornei outra vez,
[85]
curei-a.
[86]
Essa senhora nem sabia o que me havia de fazer.
[87]
Porque ele diz que tinha corrido os médicos todos de Lisboa e que nunca nenhum lhe deu com a cura.
[88]
Era embaçada!

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