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Granjal, excerto 59

LocalidadeGranjal (Sernancelhe, Viseu)
AssuntoOs animais domésticos
Informante(s) Emanuel Ercília Elina

Text: -

[1]
INF1 É um borrego.
[2]
É um cordeirinho.
[3]
INF2 É um borrego.
[4]
É um cordeirinho.
[5]
É um cordeiro.
[6]
Mas habituam-nos logo nisso.
[7]
Quando assim é que têm assim, habituam-nos logo a [vocalização] dar-lhe alguma coisinha à boca.
[8]
INF1 De pequeninos.
[9]
INF2 Assim que chegam, ou um bocadinho de pão, ou uns grães de milho ou assim.
[10]
E eles habituam-se,
[11]
ficam já habituados.
[12]
INF1 Depois quando vêem a pessoa, vão sempre ter com ela.
[13]
É como um cão.
[14]
INF2 Já cha– Já chamam os outros todos.
[15]
INF1 É que é pior que um cão.
[16]
Uma ovelha é como um cão, tal e qual.
[17]
INF1 É.
[18]
INF2 É, é.
[19]
INF1 Desde que seja habituada de pequenina,
[20]
INF2 Muito meigas, muito meigas.
[21]
INF1 para onde for a pessoa, vai ela.
[22]
INF2 Aquele vivo é tudo muito meigo.
[23]
INF2 Eu tinha aí eu tinha aí uma [vocalização] um burro que entrava para um taberna [vocalização] detrás de mim, como que fosse uma como outra pessoa qualquer.
[24]
INF1 Era.
[25]
INF2 Um burro.
[26]
INF1 Um burro.
[27]
Habituei-o!
[28]
Eu entrava para a taberna,
[29]
se fosse preciso o gajo entrava também.
[30]
Era, era.
[31]
Os animais é tal e qual como as pessoas.
[32]
INF2 Tomam conta no que se faz.
[33]
INF1 Tomam muito conta daquilo que se faz.
[34]
E basta que têm mais uma coisa:
[35]
é que é que um animal passa por um caminho e nunca mais se esquece.
[36]
INF2 Olhe, a minha cabra que o meu marido me vendeu…
[37]
Eu tinha uma neta que está em Lisboa
[38]
e veio cá passar umas férias.
[39]
Ainda ela era assim mais novinha.
[40]
Já foi há uns três ou quatro anos, a Felisbelinha.
[41]
INF1 Oh, há mais de cinco.
[42]
INF2 Há mais de cinco.
[43]
E ela era cabritinha.
[44]
INF1 Não.
[45]
Já tinha…
[46]
INF2 Era cabritinha, pequenina.
[47]
E E nós criámo-la lá em casa.
[48]
E consoante a pequena estava em cima em casa e que falava, assim ela ia: "Mé"!
[49]
INF1 Chamava por a garota.
[50]
INF2 Em a garota [vocalização] falando, se a sentisse falar, dizia…
[51]
Eu às vezes dizia-lhe assim: "Ó Felisbelinha"!,
[52]
ia ela logo: "Mé"!
[53]
Depois ela dizia: "Ó avó",
[54]
isto ou aquilo…
[55]
"Mé"!
[56]
Estava sempre…
[57]
INF1 A chamar por ela.
[58]
INF2 Um vivo toma conta como a gente,
[59]
é só lhe falarem.
[60]
Mas há vivos…
[61]
Olhe, este cão meu, este cãozinho meu.
[62]
A senhora pode aqui pôr, nesta cadeira, carne – ou seja lá o que for, tudo quanto é bom – e pôr aqui…
[63]
INF1 A ver se ele toca aí!
[64]
INF2 E eles E não estarmos cá mesmo nós,
[65]
sairmos todos.
[66]
INF1 Pode sair qualquer pessoa.
[67]
INF2 A ver se ele aqui toca em nada, não toca em nada.
[68]
INF1 Mas também lá não chega gato nenhum enquanto ele aqui estiver.
[69]
INF2 Não toca.
[70]
Não toca em nada.
[71]
Há vivo também muito espertalhão.
[72]
INF3 Há, pois há.
[73]
INF1 Oh, oh!
[74]
[pausa] Ele está aqui.
[75]
Eu se disser…
[76]
À noite chego ali e digo assim: "Vá, vai para o quintal, para o pé dos coelhos".
[77]
De manhã está lá.
[78]
INF2 Está lá deitado.
[79]
INF1 De manhã, quando eu lá chegar, ele está deitado, lá ao pé das coelheiras.
[80]
INF2 Isto é, este Este cãozinho é que só lhe falta falar.
[81]
INF1 Ele está lá deitadinho!
[82]
INF2 Muito limpinho, muito asseado, não faz nada em casa,
[83]
não bole em nada,
[84]
é é uma beleza de cão.
[85]
É por isso que eu tenho pena dele às vezes.
[86]
INF1 Já está velhote.
[87]
INF2 E pouco pára ao pé de nós.
[88]
INF1 Já tem Já tem mais de [vocalização] de quatro anos.

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