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Montalvo, excerto 8

LocalidadeMontalvo (Constância, Santarém)
AssuntoNão aplicável
Informante(s) Guilherme Guliver

Text: -


[1]
INF1 O senhor engenheiro chegou ao de mim [vocalização]: "Ó Guilherme não marcar as oliveiras que eu vi".
[2]
Mas não disse mais nada.
[3]
Eu depois: "Ah, então tu não dizes nada?
[4]
Então como é que é isto"?
[5]
Depois voltei para trás,
[6]
fui outra vez ao dele,
[7]
fui ao dos homens,
[8]
voltei para trás.
[9]
"Ó senhor doutor, afinal disse isto assim,
[10]
assim, mas o senhor não me explicou se está bem nem se está mal".
[11]
Tudo.
[12]
"Olhe, aquilo é demais.
[13]
Aquilo foi demais um bocadito.
[14]
Você diga-lhe a ele quando ele aparecer que [vocalização] que venha ter comigo ou ali com o feitor, para lhe dar um bocado de oliveiras para ele arranjar à vontade dele".
[15]
E de maneira que até lhe dei um bocado de oliveiras, que é é onde está aquele bairro ali.
[16]
Secaram todas por completo.
[17]
Todas.
[18]
Foi para com os homens,
[19]
cortou aquilo tudo,
[20]
cortaram
[21]
INF2 A terra não era grande coisa.
[22]
INF1 A terra é ruim.
[23]
INF2 E depois chegaram,
[24]
morreram.
[25]
INF1 é que está a diferença:
[26]
é de não conhecerem os sítios.
[27]
Porque a gente sabe que aquela terra ali que por baixo é escumalho.
[28]
Não sei se a senhora conhece?
[29]
INF2 Ali muito calhau.
[30]
muito calhau!
[31]
INF1 As meninas conhecem o que é escumalho.
[32]
É, por exemplo, torrões.
[33]
Às vezes tenho visto coisos,
[34]
aparecem em qualquer banda,
[35]
e vêm uns torrões de de terra agarrada uma com outra, calhaus e e o barro.
[36]
INF1 Uma coisa muito presa, pa- quase como pedras.
[37]
INF1 Com aqueles calhaus agarrados e tudo.
[38]
Deus me valha-me!
[39]
Aquilo é como o raio!
[40]
Não tem nada!
[41]
Nem que a árvore quisesse comer, não tinha nada para comer.
[42]
Não tinha nada para comer.
[43]
INF1 De maneira que [pausa] da deu aquilo.
[44]
[pausa] Deu aquilo ali até que se acabou tudo.
[45]
INF1 Nunca mais me apoquentaram.
[46]
Depois o patrão: "Você termine o serviço e a poda conforme entender".
[47]
Mas, é claro, eu tinha informações do senhor engenheiro Hálio que esse era também um bom mestre;
[48]
era era um mestre da Escola Agrícola de Santarém, em baixo em Vale de Estacas.
[49]
Até estive umas das vezes,
[50]
fomos ver algumas provas que os que os estudantes andavam a fazer.
[51]
tinham uns uns quadrados cada um com uns arames para tapar em volta.
[52]
Para cada qual ter a sua prova, para fazer o seu serviço.
[53]
E eu fui até coiso pois com ele.
[54]
E eu fui sempre um tipo que que, enfim
[55]
Noto as coisas
[56]
[pausa] mas depois, andando sozinho, ando a pensar, ando.
[57]
INF1 Às vezes ou por aqui ou por ali, e tal, ando a pensar as coisas.
[58]
Mas este tempo, a idade se chegou,
[59]
agora não posso [pausa] trabalhar.
[60]
INF1 não posso.
[61]
INF1 Pois.
[62]
Posso pensar na mesma coisa.
[63]
INF1 Posso pensar na mesma coisa.
[64]
INF1 Posso pensar.

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