R&D Unit funded by

Sentence view

Bandeiras, excerto 27

LocationBandeiras (Madalena, Horta)
SubjectNão aplicável
Informant(s) Cecília Carina
SurveyALEPG
Survey year1979
Interviewer(s)Manuela Barros Ferreira
TranscriptionSandra Pereira
RevisionAna Maria Martins
POS annotationSandra Pereira
Syntactic annotationSandra Pereira Márcia Bolrinha
LemmatizationMárcia Bolrinha

Text: -


showing 101 - 200 of 196 • previous


[1]
Ai, eu levei tanto tempo, eu tola, com sono
[2]
e não queria dormir, porque estava sempre lembrando que ela que podia não esquecer-se de tomar fôlego.
[3]
Foi Foi uma aflição.
[4]
Foi uma aflição.
[5]
Mas à conta de Deus está aqui, coitadinha,
[6]
é uma amiguinha duma pessoa.
[7]
INF2 Ai, eu punha-lhe sempre as minhas fraldinhas.
[8]
Mas, sempre precisei de trabalhar, que eu sou uma pessoa que saio muito,
[9]
paro pouco tempo em casa.
[10]
Tem que se ga- A pessoa é pobre,
[11]
tem que se ganhar a vida!
[12]
Mas nunca saí
[13]
Olha, levava levava o bercinho para casa de minha mãe,
[14]
atravessava-lhe uma tabuinha por baixo do berço,
[15]
pedia a qualquer pessoa que passava pelo caminho para me ajudar.
[16]
Mas não deixava de não lhe dar o seu banhozinho de manhã [vocalização] adoçar o cuzinho , pôr-lhe a sua fraldinha,
[17]
e usava as suas calcinhas plásticas.
[18]
Mas ia sempre com o seu biberonzinho, com as suas papinhas, ou o tachinho, outra vez, com outras preparadinhas para a minha mãe lhe dar, para as onze horas, e as suas fraldinhas sempre lavadinhas e passadinhas a ferro, tudo na os pés do bercinho, para eu poder levar tudo à cabecinha,
[19]
e ia eu com a minha malinha na mão para ir trabalhar para a fábrica.
[20]
Agora a minha pequena era muito boazinha!
[21]
INF2 Não era muito pequeno,
[22]
era um berço bom!
[23]
Agora eu é que era valente!
[24]
Era forte!
[25]
Por isso é que podia bem com o berço.
[26]
E era assim.
[27]
INF2 Embalava,
[28]
embalava.
[29]
Era um berço bom,
[30]
e então era de madeira boa, de madeira de castanho.
[31]
Era pesadíssimo!
[32]
INF2 Ah, ainda esse berço, parece-me que em casa da minha tia Carolina, não é?
[33]
É.
[34]
INF1 Não.
[35]
INF2 Ainda está .
[36]
INF1 Do tio Belisando.
[37]
INF2 Está em casa da tia Carolina.
[38]
Não, veio.
[39]
INF1 Oh!
[40]
INF2 Criou uma mancheia de famílias o tal berço.
[41]
Era duma madrinha dela.
[42]
Criou cinco ou seis filhos dela.
[43]
E criou os nossos seis filhos a gente é que éramos irmãos, que era a minha mãe, que isto é uma irmã [vocalização] de minha mãe ,
[44]
e criou os seus seis filhos.
[45]
E minha tia teve oito,
[46]
e eu tive esta,
[47]
e minha irmã teve três
[48]
e ainda emprestaram a umas de fora, assim como a Hermínia,
[49]
e emprestaram para meu irmão Belisando também, que criou dois
[50]
O que aquele berço tem criado de de famílias!
[51]
Mas a madeira era muito boa!
[52]
E ainda está bom!
[53]
Ainda está bom.
[54]
Mas penei muito [pausa] para a criar.
[55]
Mas nunca deixei
[56]
Eu vinha da fábrica [pausa] fazer a minha comida para tornar a ir no outro dia,
[57]
e lavava a minha roupinha,
[58]
mas também às onze da às onze horas da noite, eu acendia o meu ferro com as su- com as minhas brasas,
[59]
e em cima duma caixinha em cima duma caixinha, eu passava a roupa toda da minha filha.
[60]
E ela nunca vestiu peça de roupa que não fosse passada ao ferro!
[61]
Agora Agora vai, que umas sobrinhas às vezes dão, ou coisa assim mais passageira, ou uns nylons, ou coisa assim,
[62]
escapa.
[63]
Mas em pequenina nunca vestiu peça de roupa que não fosse passada a ferro.
[64]
Nunca lhe pus uma fraldinha que fosse!
[65]
Mas ela então também era muito limpinha!
[66]
De sete meses, nunca mais usou fraldas!
[67]
Fiz-lhe as suas calcinhas de calção- de calçãozinho com os seus elasticozinhos
[68]
Ela era muito
[69]
A gente gabava,
[70]
ficava muito engraçada!
[71]
Porque tinha-lhe feito muitos poderes,
[72]
urinava umas,
[73]
ia mesmo ao bacio ou a uma selhinha,
[74]
aquilo com uma camadinha de sabão, se punham num malheirinho [pausa] a enxugar,
[75]
nunca lhe faltou calças
[76]
e andava sempre composta
[77]
e nunca mais me deu trabalho a lavar fraldas nem a coar as fraldas.
[78]
Que as fraldas são muito engraçadas,
[79]
mas hão-de ser brancas.
[80]
Sendo encardidas, velhas, não se podem ver.
[81]
Agora é assim.
[82]
Mas então tinha a minha presunção de a criar bem criadinha!
[83]
INF2 Às vezes.
[84]
Agora nem me esquece bem como era as cantigas,
[85]
mas às vezes dizia também qualquer tolice.
[86]
Nunca foi pequena de pegar no sono no colo.
[87]
Chateava-me muito.
[88]
Nunca pude ir a lugar nenhum, fosse a um baile, ou a um lugar qualquer, porque ela nunca se acertava para pegar no sono no colo.
[89]
de viravoltas no colo
[90]
e punha-se de bruços, com os joelhos em cima das pernas
[91]
e nunca havia maneira de pegar no sono.
[92]
Que a gente quando pega numa criança, a gente deita-a por cima do bracinho fora,
[93]
e ela fecha os olhinhos para pegar no sono.
[94]
Esta nunca pegava no sono.
[95]
Sim senhora.
[96]
INF2 Eu nem sequer me recorda o que é cantar.

Edit as listText viewSentence view